Saúde, mobilidade, marketing e realidade estendida são algumas das áreas onde o Minho figura no mapa mundial da inovação. Startups de diferentes pontos da região participaram na Web Summit, em Lisboa.
Startups do Minho marcaram presença na Web Summit 2024, colocando a região no mapa mundial da inovação proporcionado pelo maior evento sobre tecnologia da Europa, que se realiza desde 2016 em Lisboa.
Os projetos minhotos figuraram entre as 3050 empresas presentes no certame, que decorreu de 11 a 14 de novembro, no Parque das Nações, marcado pela atribuição a Braga do prémio de Cidade Inovadora em Ascensão na Europa.
Esta edição voltou a bater recordes, com 71.528 participantes de 153 países, entre os quais 1066 investidores, representando um aumento em relação a 2023, ano em que este número se fixou em 906.
Captar investimento, ganhar visibilidade internacional, estabelecer contactos, perspetivar parcerias ou participar em palestras e formações são objetivos que motivam a participação no evento destas empresas em início de vida, que estão a desenvolver produtos e serviços inovadores.
Entre as presenças da região, na área da Saúde, figurou a IPLEXMED, uma spin-off da Universidade do Minho com sede no edifício gnration, local onde funciona a Startup Braga.
Neide Vieira, co-fundadora e responsável pela área de negócios, explicou ao Diário do Minho que o projeto surgiu no final de 2021, estando desde então a ser desenvolvida uma plataforma portátil de diagnóstico que permite a deteção de múltiplos agentes infeciosos, principalmente bactérias, e as suas resistências a fármacos, com celeridade e com qualidade laboratorial.
A atenção centra-se nos doentes respiratórios crónicos, muito suscetíveis a infeções respiratórias, sendo estas responsáveis por danos pulmonares irreversíveis e pelo aumento da mortalidade. «Existem cerca de 3 milhões de mortes prematuras devido a estas infeções», alerta.
Por seu turno, a co-fundadora e diretora do departamento de investigação, Joana Guerreiro, adianta que está a começar a parte de certificação. A equipa está a trabalhar na validação com amostras clínicas de pacientes, fornecidas pelo Hospital de Braga.
A par de vários prémios, a IPLEXMED já captou mais de meio milhão de euros em financiamento dilutivo e não dilutivo – com e sem cedência de parte da propriedade da empresa –, estando à procura de mais verbas para poder entrar no mercado em 2026.
Por seu turno, no setor na mobilidade, a ANCIIAN Bicycles, também de Braga, está a desenvolver uma bicicleta que se monta e desmonta facilmente, podendo ser transportada numa mala de viagem.
Ao ser composta por módulos, esta bicicleta está associada a um modelo de economia circular, uma vez que permite uma reparação fácil e uma reciclagem eficiente, como explica João Fernandes, co-fundador da startup.
O jovem de 22 anos teve esta ideia quando estava a trabalhar numa oficina de reparação de bicicletas na Alemanha. Contactou Bruno Dias, de 23 anos, e juntos deram início, há dois anos, a um projeto que conta com a colaboração de dois engenheiros mecânicos da mesma faixa etária.
A ANCIIAN Bicycles já captou um investimento de 100 mil euros pré-seed, ainda antes do lançamento no mercado, assegurado por uma capital de risco.
«Agora, estamos à procura de outra ronda de investimento, uma ronda seed, que nos vai permitir passar do protótipo funcional para um produto real, que nos permitirá ir para o mercado e começar a comercialização», revela Bruno Dias.
Estando atualmente a fazer o desenvolvimento avançado do produto, a meta é vender as primeiras unidades no próximo ano e estar de forma mais consistente no mercado em 2026.
«Portugal não tem falta de talento. Tem falta de descaramento»
Com sede em Vila Nova de Famalicão, a Brinfer tem quatro anos de existência e já planeia a internacionalização.
A trabalhar há 12 anos com influenciadores e marketing de influência, Roberto Gomes lançou uma plataforma que agrega métricas e apresenta dados para que as empresas possam otimizar a sua comunicação.
«É uma plataforma que tanto tem impacto numa pequena empresa como numa multinacional que fatura muito. Nós otimizamos cada euro investido em marketing de influência para obter o melhor resultado», afirma.
Depois de um aporte financeiro inicial de dois investidores para transformar a ideia em realidade, a empresa tem vivido, nos últimos tempos, com o dinheiro que a plataforma gera.
A receita tem sido investida no crescimento da plataforma, mas a empresa está sempre à procura de financiamento para conseguir continuar a expansão. A equipa é composta por seis pessoas.
Em relação às metas, a Brinfer quer consolidar o mercado nacional e, em um, dois anos, começar a testar o mercado externo, em Espanha ou no Brasil.
«Temos uma visão um bocadinho destemida da tecnologia. Acreditamos que é possível fazer tão bem em Portugal como se faz lá fora e mergulhámos de cabeça neste projeto», diz Roberto Gomes.
«Quando estamos numa feira como a Web Summit, que tem as melhores empresas do mundo, as startups mais promissoras, ficamos com a sensação que Portugal não tem falta de talento. Tem um bocadinho falta de descaramento, achamos que somos mais pequeninos. A verdade é que não. Quando vemos o que é que os outros estão a fazer, como é que estão a fazer, nós conseguimos chegar rapidamente à conclusão que estamos ao mesmo nível, precisamos é de nos promover mais, precisamos de colocar as nossas marcas em “saltos altos”, por assim dizer, para ganhar a visibilidade lá fora», assevera.
Igualmente no mercado está a Insight Digital, especialista em soluções de Wi-Fi Inteligente, com sede no MITH – Minho Innovation & Technology Hub, em Guimarães.
«A Insight Digital é uma empresa focada na recolha de dados dos clientes através das redes Wi-Fi, permitindo revolucionar a experiência dos frequentadores de espaços como centros comerciais, restaurantes ou farmácias, adianta Paulo Fodor, responsável pela implementação desta unidade em Portugal como «braço internacional» da Think Digital, do Brasil.
Através da informação recolhida, sem violação da proteção de dados, é possível personalizar a experiência dos frequentadores dos espaços, com a criação de conteúdos e de promoções exclusivas. Uma solução de Wi-Fi Inteligente permite «aumentar a fidelização dos clientes, gerar mais vendas, melhorar a reputação da marca e otimizar os processos internos».
No primeiro ano de atividade, foram investidos mais de 100 mil euros. A empresa já tem mais de 50 clientes em Portugal, esperando atingir o “break-even”, ponto de equilíbrio nas contas, em meados do próximo ano. Depois, a Insight Digital quer avançar com a expansão para Espanha e posteriormente para mais países da Europa.
Numa fase mais inicial está a Xarp Reality Labs, startup com sede em Viana do Castelo, que trabalha com realidade estendida (XR), designação utilizada para as tecnologias imersivas.
João Borlido, co-fundador da Xarp Reality Labs, explica que o projeto surgiu no seio da Cooperativa Tecnológica de Viana do Castelo, local onde diversos profissionais independentes na área do desenvolvimento de software têm os seus negócios.
Quando João Borlido e Abel Dantas foram desafiados para fazerem experiências interativas para o Museu da Neonia, no Porto, perceberam o potencial dos Interactive Display Mirrors [espelhos interativos].
Fundada há um ano, a empresa está a trabalhar no desenvolvimento de um ecrã de dois metros com o qual as pessoas podem interagir.
Este responsável refere que o dispositivo pode ser utilizado, por exemplo, na ativação de marcas, uma vez que as experiências imersivas captam a atenção do público e diferenciam as marcas no mercado.
A empresa está à espera da resposta de um apoio do Plano de Recuperação e Resiliência para um projeto de desenvolvimento com o INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, que poderá vir a ser o seu primeiro financiamento.
No âmbito do programa "Road 2 Web Summit", iniciativa conjunta da Startup Portugal e da Web Summit que seleciona as melhores startups nacionais para estarem no certame de Lisboa, o país contou com a presença de 125 startups, um número recorde, com mais dez empresas do que em 2023.
Na competição promovida neste programa, a Framedrop.ai (Coimbra) foi considerada a startup mais promissora e a Deeploy (Aveiro) teve o melhor desempenho no bootcamp de Lisboa e Porto durante a Web Summit.
Por seu turno, a vencedora do Pitch desta edição da Web Summit é a portuense Intuitivo, uma plataforma de avaliação digital para professores, focada em melhorar o processo de avaliação nas escolas, que se destacou entre 105 concorrentes.
Empreendedorismo feminino em alta
O presidente executivo e fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, destacou que, na edição deste ano, 44 por cento das mais de 3 mil empresas presentes foram fundadas por mulheres.
Em conferência de imprensa, tal com tinha feito na sessão inaugural do evento, este responsável destacou a mudança registada nesta matéria, uma vez que antigamente a percentagem de startups presentes na Web Summit fundadas por mulheres estava num único dígito.
Relativamente aos dados globais daquela que é considerada a maior conferência de tecnologia da Europa, as mulheres representaram 42 por cento de um total de 71.528 participantes e 37 por cento de 953 oradores.
O empreendedor irlandês destacou a participação de 62 delegações de comércio de todo o mundo, bem como a presença de governantes, entre os quais Luís Montenegro e ministros portugueses.
Em relação à continuação em Portugal para lá de 2028, quando termina o contrato com a Câmara Municipal da capital, Paddy Cosgrave afirmou que Web Summit «combina perfeitamente com Lisboa», dizendo: «Espero que possamos ficar aqui para sempre».
Para além de Lisboa, a Web Summit tem edições no Rio de Janeiro, Catar e Vancouver. O presidente executivo admite que «seria incrível» ter uma Web Summit em África, deixando a possibilidade de mais realizações na Ásia.
Este responsável deu conta de um aumento de quase 30% na receita, apontando para «talvez quatro a cinco milhões em lucro e 10 a 11 milhões em EBITDA [resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações]».
Inteligência artificial em destaque
A Inteligência Artificial esteve em destaque na Web Summit 2024, tanto nas soluções apresentadas pelas empresas como nos debates que animaram os quatro dias do evento.
Logo na abertura, no palco central, no MEO ARENA, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou o lançamento, no primeiro trimestre do próximo ano, de grande modelo de linguagem (LLM) de inteligência artificial (IA) português.
Depois de várias interrogações sobre este “ChatGPT português”, o CEO do Centro para a AI Responsável, Paulo Dimas, especificou, entretanto, que o modelo nacional vai chamar-se Amália e a sua versão final será lançada em 2026.
Ainda em matéria de anúncios feitos na Web Summit pelo governo português, que se estreou neste certame, o ministro da Economia revelou que vai ser lançado o Programa Deep2Start, um fundo “deep tech” (tecnologia altamente sofisticada) de 110,6 milhões de euros, com uma dotação pública de 60,6 milhões de euros. O novo fundo «será lançado o mais tardar no primeiro trimestre de 2025», avançou Pedro Reis.
Por seu turno, a ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes, anunciou que no início do próximo ano vai ser apresentado o primeiro Programa Nacional de Raparigas nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática, [STEM].