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Human Power Hub ganha visibilidade a nível europeu

Human Power Hub ganha visibilidade a nível europeu
Fotografia DM

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 07 de outubro de 2024, às 10:08

Instituição de Braga é finalista dos “óscares” dos fundos comunitários.

O Human Power Hub é finalista dos prémios RegioStars 2024, galardões anuais atribuídos pela Comissão Europeia para distinguir os projetos mais inovadores e impactantes financiados pela Política de Coesão da União Europeia.

Finalista na categoria “Europa mais próxima dos cidadãos”, o centro de inovação social de Braga destaca-se pela sua «abordagem inovadora e pelo impacto positivo na comunidade local».

Focado na aceleração e incubação de projetos empreendedores com impacto social, o Human Power Hub integra a estrutura da BragaHabit – Empresa Municipal de Habitação de Braga, tendo sido financiado pelo Portugal 2020, através da medida Parcerias para o Impacto do programa Portugal Inovação Social, com um financiamento total de 381 200 euros.

O administrador executivo da BragaHabit, Carlos Videira, considera que este reconhecimento é «muito importante» para a cidade, dando visibilidade a nível europeu ao Human Power Hub e aos projetos que esta estrutura apoia.

«Estamos habituados a ver o mérito dos projetos quando se apresenta uma candidatura e o financiamento é atribuído. Nestes prémios, esta é uma avaliação do mérito depois da execução do financiamento. É muito positivo perceber que o nosso trabalho e investimento produziram resultados», explica.

O gestor destaca a especial satisfação pelo facto de o Human Power Hub fazer parte dos 25 finalistas, distribuídos por cinco categorias, no ano em que o júri avaliou um número recorde de candidaturas, num total de 262.

Em seu entender, a nomeação coloca a questão da inovação social na agenda, convidando a que haja mais investimento de impacto. «Dá credibilidade e um selo de qualidade ao nosso trabalho, o que é um convite para que haja mais investimento não só no Centro de Inovação Social, mas também nos projetos que nós apoiamos, para permitir uma alavancagem para a sua entrada no mercado», afirma.

Criada em 2020, esta estrutura apoiou cerca de 80 iniciativas de empreendedorismo e impacto social, sendo que dois terços se mantêm em atividade, e mobiliza anualmente um investimento de impacto na ordem dos 300 mil euros. Para garantir o financiamento, já foi apresentada uma candidatura ao Portugal Inovação Social para obter verbas europeias até 2027.

Relativamente aos prémios RegioStars, depois da nomeação como finalista, o próximo passo é uma apresentação ao júri e uma plateia, na manhã da próxima quarta-feira, 9 de outubro, em Bruxelas, concorrendo na sua categoria com quatro projetos oriundos da Alemanha-França (Babylingua), Polónia (Gdynia OdNowa: Revitalisation), Lituânia (Towards Possibilities) e Chéquia (Sphere Pardubice Educational Centre).

O resultado vai ser conhecido nesse dia à noite, na gala dos prémios RegioStars, integrada no programa da 22.ª Semana Europeia das Regiões e dos Municípios, que decorre entre hoje e quinta-feira, com o tema “Capacitar as Regiões”. Até essa data decorre a votação para a distinção do público, em http://bit.ly/4ePbHmX

Para além do Human Power Hub, Portugal conta com mais dois finalistas nos Prémios RegioStars: na categoria “Europa mais verde” está o Ecogrés 4.0, que operou «uma revolução verde na cerâmica», e na categoria “Europa mais social e Inclusiva” concorre o Realiza.te: uma Jornada Colaborativa, centrado em esforços colaborativos para combater o abandono escolar precoce e melhorar o sucesso educativo.

Desde 2008, os RegioStars identificam boas práticas em desenvolvimento regional e destacam projetos originais e transformadores, que podem inspirar outras regiões da União Europeia.

 

Hélice quádrupla une setores público, social, empresarial e académico

O trabalho do Human Power Hub assenta numa “hélice quádrupla”, que envolve a articulação de instituições publicas, setor social, mundo empresarial e academia.

O administrador executivo da BragaHabit conta que esta estrutura surgiu da aposta da Câmara Municipal de Braga no empreendedorismo, ficando a Startup Braga com a vertente empresarial e o Human Power Hub com a área da inovação social.

Numa fase inicial, o trabalho centrou-se nas organizações do terceiro setor, que manifestavam mais abertura para disponibilizarem recursos humanos para a participação nas sessões formativas.

Com o fim do financiamento do Portugal Inovação Social, a Câmara Municipal decidiu que o projeto deveria continuar. «Esse foi o momento em que o Human Power Hub se transforma em política pública, sendo integrado na estrutura de uma empresa municipal, passando a trabalhar em articulação com todo o universo municipal», diz Carlos Videira.

O responsável refere que, entretanto, se percebeu que os projetos necessitavam de uma vertente mais empresarial, por isso, em 2023, foram assinados protocolos com a Associação Empresarial de Braga e a Associação Empresarial do Minho que assentam, sobretudo, na atribuição de mentores empresariais. Em fase de estruturação está a constituição de um fundo de impacto, que se destina a reunir contribuições das empresas para atribuir aos projetos, tendo em vista que esse investimento possa vir a ter retorno para os próprios investidores.

Este ano começou a ser trabalhada a quarta hélice, que consiste na ligação à academia para criar agendas de investigação em volta do tema da inovação social.

O Human Power Hub funciona nas antigas instalações do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, na rua de S. Domingos, onde vai permanecer pelo menos até 2027, tendo um quadro de pessoal composto por quatro funcionários.


Centro de inovação social quer alargar atuação a todo o Cávado


 

O Human Power Hub quer estender ao seu âmbito de atuação do concelho de Braga para os seis municípios do vale do Cávado, de forma a fomentar a inovação e o empreendedorismo social a nível regional.

Tendo em vista o alargamento da base territorial do centro de inovação social bracarense, a Comunidade Intermunicipal do Cávado (CIM Cávado) é uma das parceiras na candidatura apresentada aos fundos do Portugal 2030, no âmbito do aviso aberto pelo Portugal Inovação Social para financiar os Centros para o Empreendedorismo de Impacto.

A candidatura da BragaHabit, empresa municipal que tutela o Human Power Hub, tem um valor de 600 mil euros para um período de três anos, entre 2025 e 2027.

O modelo de financiamento do Portugal Inovação Social acarreta a obrigatoriedade de que 20% do valor seja assumido por um investidor social, que neste caso é o banco BPI, através da Fundação "la Caixa".

Carlos Videira revela que o objetivo é começar a trabalhar no terreno no início do próximo ano, com a apresentação do setor de inovação social às organizações sociais e entidades públicas e privadas dos concelhos do Cávado.

Seguindo o modelo de implementação de hélice quádrupla que foi testado em Braga, após a articulação das entidades públicas, CIM Cávado e câmara municipais, a primeira abordagem vai envolver as organizações sociais, seguindo-se os empreendedores e a academia, mobilizando a Universidade do Minho, a Universidade Católica e o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. O projeto conta também com a Associação Empresarial de Braga e a Associação Empresarial do Minho. Vai ser criada uma comissão de acompanhamento com representantes dos setores público, social, corporativo e académico.

Relativamente ao financiamento, os 120 mil euros de investimento do Banco do BPI/Fundação “la Caixa” e igual valor colocado pela Câmara de Braga vão ser canalizados para projetos de investimento de impacto.

O administrador executivo explica que essa alocação vai permitir financiar a participação dos projetos nos programas de aceleração, que têm uma duração considerável no tempo, oscilando entre as três e seis semanas de formação. «As pessoas têm de ter disponibilidade para participarem nesses programas e isso acarreta um investimento», refere.

Constatando que muitas ideias acabam por ficar pelo caminho na fase inicial, o responsável pela BragaHabit especifica que a intenção é financiar a participação dos melhores projetos, assegurando verbas para a «alavancagem inicial da constituição da empresa». «Estamos a falar de empreendedorismo social, mas no fundo não deixam de ser negócios que precisam de um impulso inicial», diz.

 

Impacto dos projetos vai passar a ser medido

O Human Power Hub quer passar a medir o impacto económico e social dos projetos que dinamiza. «Queremos começar a medir o impacto das nossas atividades, não só do ponto de vista financeiro, mas também dos resultados, designadamente empregos gerados, problemas sociais resolvidos, melhoria dos níveis de sucesso escolar e de quebras do absentismo, empregabilidade de comunidades vulneráveis, envelhecimento ativo, prática de desporto ou acesso à cultura», revela Carlos Videira.

Para a concretização deste objetivo, a candidatura para o próximo triénio apresentada ao Portugal Inovação Social prevê a colaboração com Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, instituição que vai ficar responsável pela definição da metodologia de avaliação. 

Depois dessa primeira avaliação feita por uma entidade externa, que garante a credibilidade ao processo, vai haver um gestor de impacto na estrutura do Human Power Hub a acompanhar os projetos.

 

«Um reconhecimento cada vez maior vem dos casos de sucesso»



O administrador executivo da BragaHabit, Carlos Videira, afirma que «um reconhecimento cada vez maior do Human Power Hub vem dos casos de sucesso» que tiveram ali a sua origem, embora admita que o nome em inglês ainda faz com que algumas pessoas perguntem a que é que esta instituição se dedica.

Este responsável destaca o surgimento de novas respostas que complementam valências das organizações sociais, como por exemplo o serviço de lavagem de carros LavaINCERCI e o jardim sensorial 5enses da CERCI de Braga ou a loja de artigos em segunda mão Ponto Vermelho da Cruz Vermelha.

«As próprias organizações sociais estão hoje mais abertas do que nunca ao financiamento que vem através de mecenas e do investimento de instituições privadas em projetos inovadores», realça.

Em relação aos empreendedores sociais, inicialmente eram sobretudo pessoas ligadas a organizações sociais, que por algum motivo pretendiam ter o seu próprio projeto. «Hoje em dia, já temos um perfil muito diferenciado, desde pessoas ligadas às áreas da saúde, tecnologia, professores, jornalistas ou reformados. Já temos alguns projetos que iniciaram aqui a aceleração, passaram pela incubação e estão no mercado, a serem mentores de outros projetos», refere. 

Entre os projetos está a Native Scientists, uma organização sem fins lucrativos que cria pontes entre cientistas e crianças de contextos menos privilegiados, vencedora dos prémios do Novo Bauhaus Europeu.

No tocante a prémios, o vencedor do Festival de Inovação Social e Expo Social de Braga deste ano foi o projeto Drop In HoMe, uma parceria da Cáritas e da Cruz Vermelha para dar resposta às necessidades habitacionais da população sem-abrigo. 

No leque de projetos da comunidade do Human Power Hub incluem-se a re.store, projeto que usa desperdícios da indústria têxtil transformados em peças por instituições de solidariedade social, refugiados, utentes de associações sociais ou de envelhecimento ativo, tendo, em quatro anos, remunerado os parceiros sociais em mais de 60 mil euros e reutilizado 7,5 toneladas de tecido e acessórios têxteis.

Noutro setor, a Sioslife usa a tecnologia para fornecer ferramentas personalizadas para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas e dos profissionais que cuidam delas. Por seu turno, o Cem Anos encontra soluções para adaptação de casas de pessoas que têm uma doença incapacitante ou problemas de acessibilidade.

Na área da literacia financeira, o Secretário propõe-se capacitar crianças e jovens, empreendedores e empresas para a gestão eficiente dos recursos e a criação de valor.

Já o Amor Supera Tudo trabalha na área do luto, ajudando as pessoas a conhecerem melhor o processo de luto para assim validarem a dor do outro, mas também viverem e sentirem o processo de luto, quando ele lhes bater à porta, de forma mais saudável e equilibrada.

«O nosso sucesso e a compreensão daquilo que fazemos virá sempre do sucesso dos projetos que aqui nascem, são incubados ou são apoiados», realça.

 

Plataforma une empreendedores e empresas

O Human Power Hub lançou o Human Power Match, uma plataforma que permite ligar as necessidades dos empreendedores e das comunidades com as disponibilidades das empresas.

Carlos Videira exemplifica com a abertura de uma sala de estudo no Bairro das Parretas, em que foi possível ligar a vontade de diversas partes, nomeadamente a Associação Parretas Team, que tinha o projeto, a União de Freguesias de Maximinos, Sé e Cividade, que cedeu o espaço, e a empresa Place Me, que o requalificou a título gratuito.

Do mesmo modo, a BragaHabit equipou a Casa do Encontro, um antigo lar de idosos transformado em residência partilhada, em colaboração com empresas, que asseguraram o mobiliário e os eletrodomésticos.

Existe também o Human Power Market, um marketplace social que apresenta os projetos que passaram pelo Human Power e que disponibilizam algum tipo de produto ou serviço.

Está igualmente em funcionamento o Banco de Bens e Equipamentos, aberto a cidadãos e empresas que tenham bens em bom estado para disponibilizar, promovendo assim a economia circular.

 

Human Power Hub enquadra-se na estratégia da BragaHabit



O administrador executivo da BragaHabit considera que foi «uma circunstância feliz» de ter havido a possibilidade de integrar o Human Power Hub na empresa municipal de habitação de Braga, depois de ter passado pela tutela da Fundação Bracara Augusta.

Carlos Videira refere que a BragaHabit está a dar «atenção transversal» à temática da habitação, designadamente a garantir o acesso à habitação, assegurar condições habitacionais dignas e contribuir para um bom habitat. «Não estamos preocupados só com o que se passa nas quatro paredes onde as pessoas moram, mas em percebermos a importância dos sentimentos de segurança e pertença, das redes de vizinhança, da inclusão social, das oportunidades de educação, emprego, saúde e bem-estar, e é aqui que o Human Power Hub desempenha um papel relevante», explica.

O gestor considera ilustrativo o facto de atividades que antigamente eram asseguradas pela BragaHabit agora serem levadas a cabo por associações de moradores, organizações sociais e empreendedores sociais. «As pessoas capacitaram-se, autonomizaram-se, já não precisam que seja a entidade pública a fazer. A entidade pública dá formação, dá recursos, dá algum financiamento, mas são as pessoas que se organizam e que dão resposta às suas próprias necessidades. Isso é muito importante», declara.

Um exemplo emblemático é o projeto Viva o Bairro que arrancou, em fevereiro de 2022, com oito associações de moradores e agora já vai em 15. Este projeto foi premiado a nível internacional pela Organização das Nações Unidas (ONU) com Habitat Scroll of Honour Award, no ano passado, no Dia Mundial do Habitat.

Em relação ao futuro do Human Power Hub, Carlos Videira argumenta que a «partir do momento em que integra a estrutura de uma empresa municipal, torna-se em política pública. Naturalmente que as políticas públicas são definidas a cada momento pelos titulares do poder político. Contudo, o facto de integrar uma estrutura municipal e de ter o reconhecimento público faz com que, hoje em dia, seja uma estrutura mais robusta. Ao trabalhar com estes “players” todos, acaba também por ter uma outra relevância, seguindo um caminho que eu diria que é quase irreversível», declara.

*Em Bruxelas, a convite da Comissão Europeia e do Comité das Regiões.