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Região dos Vinhos Verdes afirma potencial do enoturismo

Região dos Vinhos Verdes afirma potencial do enoturismo
Fotografia Miguel Viegas

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 18 de setembro de 2024, às 20:24

Dia de portas abertas convidou a experiências em 14 produtores

A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) quer dar a conhecer a nível nacional e internacional as propostas de enoturismo que existem espalhadas por um território que abrange 48 concelhos no Noroeste de Portugal.

Nesse sentido, 14 produtores estiveram de portas abertas no evento “Quintas ao Sábado”, no passado dia 7 de setembro, que convidou os visitantes a experimentarem as potencialidades de um setor em crescimento.

©DR

O vogal da direção da CVRVV para área do Comércio, Óscar Meireles, refere que a região quer mostrar a riqueza que possuiu em termos de enoturismo, sendo iniciativas como o dia de portas abertas um passo no «caminho certo» para divulgar este potencial.

O também administrador da Quinta da Lixa defende que é necessário analisar internamente se a data de realização do evento, que se tem fixado no primeiro sábado de setembro, é a ideal, uma vez que cerca de 10 por cento dos produtores da região já estavam a vindimar nessa altura.

Este responsável falava aos jornalistas no Monverde Wine Experience Hotel, em Amarante, que tem sido distinguido como uma das melhores unidades de enoturismo do mundo.

Na companhia do diretor do hotel, Miguel Ribeiro, foi possível percorrer as vinhas onde a unidade hoteleira está inserida, com os últimos raios de sol do dia a iluminarem as uvas que vão dar origem aos vinhos da Quinta da Lixa. 

Seguiu-se um jantar vínico no restaurante do hotel, onde a gastronomia requintada é harmonizada com uma criteriosa seleção de vinhos, com esmerado atendimento.

O empreendimento foi pensado com 46 quartos no meio dos vinhedos, de forma a permitir trabalhar componentes de enoturismo que vão para além das tradicionais provas de vinho. Aqui é possível ser enólogo por um dia, ter tratamentos SPA, entre os quais massagens nas vinhas, fazer piqueniques, apreciar refeições de harmonização ou realizar eventos, estando as propostas disponíveis para hóspedes, mas também para quem quiser usufruir destes serviços sem a vertente de alojamento.

Noutro ponto da região, em Cabeceiras de Basto, a Casa da Tojeira também abriu as suas portas para mostrar a valência de enoturismo.

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Esta é uma casa senhorial que remonta ao século XVII, albergando um museu que retrata a história de produção de vinho na propriedade, desde a década de oitenta, sendo possível ver os lagares de pedra, a prensa e o “caixão de uvas”, um recipiente de madeira que era puxado a tração animal para transportar as uvas da vinha para a adega, entre outros objetos ligados à viticultura.

Numa visita orientada por Beatriz Ferreira, o percurso pela casa proporciona uma viagem no tempo, vendo-se as tulhas onde se guardavam os cereais, a cozinha com elementos decorativos tradicionais, como as cantarinhas ou lenços dos namorados, três salas com diferentes funções – refeições, convívio das mulheres da família e convívio dos homens, também designada de sala de jogos ou piano – e quartos.

O edifício está inserido numa área de 20 hectares de vinha, onde estão plantadas castas tradicionais da região, mas também internacionais. Juntamente com a Vinha do Vilar e a compra de uvas a produtores locais, a produção ascende a 500 mil garrafas, revela o responsável pela área de vinhos e enoturismo, Luís Freitas.

Durante uma prova de vinhos, este responsável adiantou que as exportações se cifram em 10%, para países como Brasil, Estados Unidos, Japão, França, Luxemburgo, Suíça, Bélgica, Holanda, Estónia e Dinamarca. O objetivo é chegar a 50% de exportações daqui a cinco anos.

Com cerca de duas dezenas de referências, a Casa da Tojeira vai continuar a apostar em vinhos de maior valor acrescentado, sendo as próximas novidades um monocasta Avesso e um espumante Arinto. Para além da produção de vinho, tem a vertente de enoturismo e realização de eventos, existindo ainda a Casa da Herdade, com cinco apartamentos com vista sobre o vale de Santa Senhorinha.

 

Vinhos Verdes não sofrem problema de excedentes nas adegas

A Região dos Vinhos Verdes não está a sofrer com os excedentes nas adegas, apostando em vinhos brancos de excelência a nível mundial, com potencial de guarda.

O vogal da direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) para o Comércio, Óscar Meireles, revela que os stocks estão «regularizados», com valores abaixo dos registados em períodos homólogos do ano passado.

O também administrador da Quinta da Lixa assegura que «a região está confortável» com os valores que apresenta.

Em relação a esta vindima, perspetiva que vai ser «relativamente normal», com a possibilidade de um aumento entre 5% a 10% de volume em relação ao ano passado devido à entrada em produção de novas vinhas.

A Comissão de Viticultura calcula que a produção deste ano possa cifrar-se em cerca de 90 milhões de litros.

Para além da quantidade, «temos reunidas todas as condições para termos um bom ano em termos qualitativos», adianta aquele responsável.

O setor vitivinícola a nível nacional está preocupado com a quantidade de vinho acumulado nas adegas, quando já está a decorrer uma nova época de colheita das uvas, em que se prevê a produção de 690 milhões de litros.

A Comissão Europeia disponibilizou 15 milhões de euros para a destilação de vinho, a quarta em Portugal nos últimos cinco anos, que vai tirar do mercado cerca de 36 milhões de litros, quando os números apontam para a existência de 120 milhões em stock.

O vinho vai ser pago a 42 cêntimos em todo o país, enquanto no Douro o valor sobe para 75 cêntimos, tendo para isso o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto entrado com 3,5 milhões de euros.

De fora ficam os produtores que importaram ou comercializaram vinho importado nos últimos três anos, sendo que as importações têm rondado os 300 milhões de litros por ano.

 

«Região privilegiada» com brancos de excelência

O dirigente da Comissão de Viticultura dos Vinhos Verdes afirma que esta é uma «região privilegiada». «Esta é uma região de brancos e ainda há alguma carência de brancos a nível mundial», declara.

Falando no Hotel Monverde, em Amarante, no âmbito da iniciativa “Quintas ao Sábado”, que no passado dia 7 abriu as portas de 14 produtores, Óscar Meireles enfatizou que «a Região dos Vinhos Verdes é uma região fabulosa em termos de brancos, a nível mundial».

O empresário admite que, «até recentemente, ninguém sabia o potencial que Região dos Vinhos Verdes tinha em termos de vinhos de guarda», mas a cada dia que passa torna-se mais evidente que esse potencial «é muito grande».

Aponta o caso de Anselmo Mendes, que demonstra a existência de um potencial de guarda de vinhos de brancos na região «que é uma coisa fabulosa». «Ainda não sabemos o patamar que o potencial em termos de vinhos de guarda pode atingir», diz.

Este responsável confessa a sua «frustração» por a região ainda não estar a conseguir valorizar os vinhos como devia, mas admite que esta é uma questão de tempo. «O Vinho Verde era um perante pobre, em termos culturais era um vinho desprezado. Só nestes últimos 10, 15 anos é que estamos a evoluir para pormos o Vinho Verde noutro patamar. A CVRVV está a fazer um trabalho fantástico e com todos os colegas unidos estamos a posicionar o Vinho Verde noutro segmento», assevera.

Em seu entender, a região deve apostar nos vinhos brancos. «Hoje, a nível mundial, estamos a nadar em vinho tinto. Por isso mesmo, vamos aproveitar aquilo em que somos bons, que é nos brancos», defende.

Constata que, em termos de encepamento, a região tem 90% de vinhos brancos e 10% de tintos. Embora ressalvando que as castas tintas são importantes pela questão cultural e de identidade regional, associando-se à gastronomia tradicional, lembra que a grande afirmação tem acontecido com os brancos. «Quando se apresenta um branco da nossa região, sem dizer que é Vinho Verde, é reconhecido como um grande branco a nível mundial», frisa.

 

Vinho Verde está na moda a nível mundial

O vogal do Comércio na direção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Óscar Meireles, refere que as grandes empresas têm de incluir os Vinhos Verdes nos seus portfólios, por isso tem-se registado, de há cinco anos a esta parte, o interesse de agentes externos à região. «O Vinho Verde, a nível mundial, está na moda», afirma.

Este responsável refere que todos «são bem-vindos», desde que representem uma «mais-valia para a região».

O também administrador da Quinta da Lixa sustenta que a manutenção das castas autóctones dá «caraterísticas ímpares» aos Vinhos Verdes, havendo tentativas de outras regiões para os imitarem, por exemplo com a antecipação das vindimas.