“Vinhas de Cypriano” é o nome da nova marca de vinhos que foi lançada no concelho de Ponte da Barca, à qual está associada uma unidade de enoturismo que está a ser ultimada na Casa de Quintela, em Vila Nova de Muía.
O projeto está a ser desenvolvido pela família Andresen Guimarães, configurando-se como uma homenagem a Cypriano Joseph da Rocha, ilustre barquense que se destacou pelo seu trabalho em Minas Gerais, no Brasil, como ouvidor do reino, ao serviço do rei D. João V.
A apresentação decorreu no dia 10 de junho, no evento “Quinta de Cypriano – vinho e enoturismo com história”, que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Ponte da Barca, Augusto Marinho, personalidades do mundo dos vinhos, entre as quais Joaquim Arnaud, familiares e amigos.
A data escolhida para o lançamento da marca foi simbólica, evocando o dia 10 de junho de 1729, no qual Cypriano Joseph da Rocha, a partir de Minas Gerais, escreveu uma carta à mulher a dizer: “Trata bem das nossas vinhas...”.
«Noutras cartas, pergunta quando é que a mulher lhe envia “o nosso vinho”. Isso prova que aqui se produzia vinho nessa época e que era vinho de alguma qualidade, porque tinha de atravessar o Atlântico para chegar ao Brasil», refere Leonor Guimarães, que tem sido a impulsionadora deste projeto familiar.
Foi a partir das cartas que António Andresen Guimarães encontrou num baú, nas quais Cypriano Joseph da Rocha relata a seu trabalho no Brasil, que «surgiu a ideia de valorizar não só o vinho, mas também a casa», conta ao Diário do Minho.
Há oito anos, esta responsável trocou Lisboa pela propriedade barquense, iniciando um projeto que levou à criação da marca Vinhas de Cypriano, em 2017. Estendendo-se até ao rio Lima, a exploração tem 6,5 hectares de vinha, que foi renovada com o apoio do Programa VITIS – Reestruturação e Reconversão de Vinha, com as castas Loureiro, Trajadura e Vinhão.
A iniciativa de 10 de junho serviu para a apresentação do Loureiro Curtimenta 2020 e do Vinhão 2020, com enologia de Abel Codeço, sendo que existem 1333 garrafas de cada um. A vindima foi feita num típico evento minhoto, com direito a animação com um rancho folclórico. As uvas foram pisadas a pé, no lagar de granito da quinta, tendo todo o processo seguido o método tradicional, com o mínimo de intervenção. A família foi a responsável pelo engarrafamento, colocação do lacre, rotulagem e numeração das garrafas, tudo feito manualmente.
A gama disponível no mercado inclui também cerca de 5 mil garrafas do Loureiro Grande Escolha 2022, vinho feito em parceria com a Adega de Ponte da Barca, responsável pela vinificação, uma vez que o visavô de Leonor, António Pereira Lacerda, foi o sócio número um daquela cooperativa.
Estes três vinhos vão estar à prova no dia 20 de Julho, das 18h00 às 20h00, na garrafeira “The Winer's Circle”, em Braga, numa sessão mediante inscrição, com um custo de 15 euros.
Paralelamente, está em fase de acabamentos a unidade de enoturismo intitulada “Quinta de Cypriano – Wine and Nature”, com seis quartos e comodidades como uma piscina infinita com vista para as vinhas, que deverá entrar em funcionamento antes das vindimas. O projeto representa um investimento de 200 mil euros, com o apoio do Programa de Desenvolvimento Rural 2020.
Depois da inauguração da nova valência, a família tenciona abrir a quinta para eventos e ter um programa de animação para os hóspedes e para todos aqueles que quiserem desfrutar de um espaço com muita história por desvendar, uma vez que a casa alberga manuscritos que ainda estão por tratar.
Cypriano na origem de geminação com cidade brasileira
Ponte da Barca vai receber, em agosto, o autarca de Poços de Caldas, cidade de Minas Gerais, no Brasil, para cimentar o acordo de geminação que une as duas localidades, formalizado em maio deste ano.
O presidente da Câmara, Augusto Marinho, explica que o primeiro contacto para esta geminação surgiu a partir do livro “Cypriano Joseph da Rocha: relato de uma vida entre Portugal e o Brasil na Idade do Ouro”, da autoria de António Andresen Guimarães, editado pela Imprensa Nacional.
A família esteve recentemente no Brasil, reconstituindo o trajeto do barquense que trabalhou além-atlântico entre 1728 e 1742, onde foi fundador do Arraial de S. Cipriano, que esteve na origem de cerca de 200 cidades do Sul de Minas Gerais.
O edil mostra a sua satisfação por ver este legado valorizado com o lançamento da marca de vinhos e com o projeto de enoturismo, num investimento que vai ao encontro do modelo de desenvolvimento preconizado pelo município.
O autarca salienta o dinamismo de Ponte da Barca na área dos vinhos e do turismo, setores em que, desde 2017, o concelho quase duplicou o número de produtores e de quartos.