Quando pessoas da casa são justamente agraciadas pelo seu indiscutível mérito e por longas e brilhantes carreiras profissionais, a emoção e o júbilo não são apenas estados de alma dos premiados, mas também dos seus familiares, amigos e conterrâneos que com elas mais privam e das instituições ao serviço das quais desenvolvem o seu intenso e profícuo labor.
É o caso do Professor jubilado da Universidade do Minho, Vítor Manuel Aguiar e Silva (VMAS), que na terça-feira da passada semana foi proclamado vencedor do Prémio Camões, sem dúvida o mais importante e simbólico galardão no contexto da língua e da cultura portuguesas.
O júri do prémio justificou a escolha, salientando a “importância transversal da obra ensaística” do premiado e “o seu papel activo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa”, como ainda a relevância da sua obra “no âmbito da teoria literária” e na reconfiguração da “fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa”. E por último, realçou o “importante contributo dos seus estudos e ensaios sobre Camões”.
Ora, apesar de ter nascido em Penalva do Castelo, em 1939, de ter vivido em Coimbra mais de trinta anos, em cuja universidade se licenciou em Filologia Românica e se doutorou em Literatura Portuguesa e onde, em suma, obteve todos os seus graus e títulos académicos, no final da década de oitenta, o Professor Vítor Aguiar e Silva mudou-se de armas e bagagens para Braga, onde passou a ser professor catedrático do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, de que foi vice-reitor durante doze anos e de cujo Centro de Estudos Humanísticos foi director.
Por isso, sendo bracarense por adopção e membro ilustre e ilustrado da academia minhota, é perfeitamente justificado que a notícia da atribuição do Prémio Camões à sua pessoa tenha enchido de alegria e deixado orgulhosos os seus conterrâneos, alunos, colegas e, em geral, todos cultores e apaixonados da língua e cultura pátrias. E igualmente os leitores, trabalhadores e colaboradores do Diário do Minho, onde escreve, no primeiro Domingo de cada mês.
Independentemente das posições ideológicas do passado e das luzes e sombras que, como a qualquer mortal, envolvem a personalidade do laureado, é no estrito plano dos valores estético-literários e da política da língua portuguesa que deve ser apreciada e valorizada a obra de VMAS.
E aí é inquestionável a importância do ensino do premiado e o justíssimo reconhecimento da sua investigação que extravasaram o âmbito nacional e o espaço lusófono e tiveram uma particular projecção no país vizinho.
Não sendo eu um especialista em literatura portuguesa nem tampouco alguém com particular gosto pelos seus períodos maneirista, barroco e modernista a que VMAS dedicou especial atenção e muito do seu tempo (“cinquenta anos bem medidos”), confesso a minha grande predilecção pela lírica e épica camonianas. E, nessa medida, apreciei sobremaneira os estudos e investigações do premiado sobre a obra lírica de Luís de Camões, o seu notável e complexo trabalho na fixação do cânone dessa lírica, a “Lira Dourada e a Tuba Canora: novos ensaios camonianos” (2008), o seu dicionário de Luíz de Camões, publicado pela Caminho, em 2011, e “Colheita de Inverno”, publicado este ano. E registei com particular agrado a especial valorização que, há cerca de uma década, passou a conceder à épica de Camões, considerando os Lusíadas “o livro onde melhor e mais profundamente Camões se exprimiu a si próprio e à sua cosmovisão de português”.
Para alem disso, acompanho VMAS na “Petição em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico”, em que se pede a abolição deste acordo de 1990, subscrevendo inteiramente o pensamento dele no sentido de que o AO necessita urgentemente de uma reforma, para que a língua portuguesa não apresente “soluções aberrativas na ortografia”.
Eis porque, caros leitores, considero que o Prémio Camões ora atribuído ao Prof. Vítor Manuel Aguiar e Silva é uma honra que premeia merecidamente o seu “contributo de excelência no domínio da língua portuguesa”. E que é também uma honra para a cidade de Braga, para a Universidade do Minho e para o Diário do Minho que tiveram e têm o privilégio de ser casa de tão ilustre figura académica e literária.
Ao insigne autor premiado, os meus mais sinceros parabéns. Bem haja!
Autor: António Brochado Pedras