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Violência no desporto

Na passada terça-feira, a Assembleia da República, através da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, levou a efeito a conferência "Violência no Desporto", onde estiveram representados vários agentes desportivos, quer associativos, quer governamentais, com responsabilidades na promoção e organização desta área no nosso país, e como se verificou, com um peso considerável para a modalidade de Futebol. Penso que este tipo de iniciativas é sempre de saudar, pese embora, não tenha tido o alcance mediático que se justificaria face à dimensão e proporções que o fenómeno da violência do desporto, nomeadamente no futebol masculino, está a atingir no nosso país. Perdeu-se uma oportunidade única, de por exemplo, substituir por uma noite, todos os programas diários de “lixo” futebolístico por este debate, nem que fosse em diferido, mas que pudesse ter transmissão simultânea. O país da maioria silenciosa, e cada vez com mais receio, para não dizer, medo de assistir a um simples encontro de futebol, teria certamente agradecido. As estações de televisão poderiam ter cumprido um pouco da sua responsabilidade social, e por uma vez, pelo menos, tentar transmitir e dar a conhecer algumas das intervenções sérias e independentes sobre este tema. Como se não bastasse a falha de oportunidade das estações de TV, e do jornalismo sério, mais uma vez, a comunicação social "dita especializada”, e também generalista, veio dar maior destaque às intervenções e discursos daqueles que são muitas vezes parte do problema, que nada de novo nos trazem para promover a paz e o desportivismo ao nosso país. Deste debate, pouco ou nada resultará. Os responsáveis pela promoção e organização da violência associada ao desporto estão identificados, protegidos, e cada vez mais promovidos. Não me parece que a legislação que deveria tratar da violência no desporto seja escassa, ela existe, e para alguns dos especialistas até é bastante desenvolvida, mas como já se constatou que não produz efeitos, não é aplicada. As vítimas continuarão a ser anónimas, silenciosas, sem voz na Assembleia da República, também por isso pouco importantes. As entidades reguladoras, nomeadamente “sobre” Comunicação Social, deveriam ter um papel mais ativo e interventivo, vigiando a difusão diária e constante de alguns programas, que abusivamente vão dando palco a agentes promotores de violência organizada entre conhecidas e sinalizadas “hordes barbaras”. Muito se falou da cura, da punição, e pouco se falou da prevenção, da educação e cultura desportiva que este povo necessita. É absolutamente fundamental começar já a trabalhar no futuro, na educação das próximas gerações, promovendo a prática desportiva e também os seus valores fundamentais. Que os atuais decisores, os dos discursos na Assembleia da República, deixem pelo menos um legado para o futuro, pois a situação atual é péssima e necessita de ser invertida o quanto antes. É fundamental começar já a trabalhar, pois um péssimo sinal e muito recente, são as estatísticas que colocam novamente Portugal, a par da Albânia e Grécia, na cauda da participação desportiva da União Europeia entre os 28 estados membros.
Autor: Fernando Parente
DM

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6 abril 2018