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URGE ESTAR ALERTA! - A propósito do novo governo dos Açores

Hoje como nunca as tecnologias passaram a integrar as nossas vidas, tão dependentes estamos da internet, do telemóvel ou do computador.

Não é verdade que quase sempre voltamos para trás, se damos conta do esquecimento de qualquer um daqueles aparelhos?

Vivemos num tempo onde tudo é instantâneo e fugaz, em que as ancestrais práticas sensitivas têm sido paulatinamente substituídas por relações virtuais, afastadas e imperfeitas. Imergimos num novo padrão de separação física que acentua o individualismo e nos faz mergulhar numa realidade uniforme em que as diferenças são vistas como inaceitáveis e as pessoas que lhes dão voz são sufocadas pelo pensamento dominante.

Nas últimas décadas, temos testemunhado uma profunda transformação na comunicação com a radio, a televisão e, sobretudo, as redes sociais a moldarem uma nova sociedade em que tudo é efémero e em que a exploração da privacidade passou a ser banal. Uma nova sociedade capturada pela opinião dominante, onde não raras vezes a maioria é arrastada para comungar de juízos, que muitas vezes ocultam interesses obscuros. Uma nova sociedade alienada pelo conceito hegemónico, sem tempo para refletir.

Vem esta discorrida introdução a propósito do que se tem dito e escrito acerca do acordo de governo celebrado nos Açores entre PSD, CDS e PPM, com a anuência parlamentar do Chega e IL, depois das eleições regionais terem ditado a perda da maioria absoluta do PS.

Apesar do processo de constituição do novo governo regional ter decorrido com toda a normalidade, não faltaram vozes, principalmente à esquerda, que durante longos dias teceram os comentários mais sórdidos sobre a solução governativa encontrada. As críticas foram principalmente para Rui Rio, por este ter consentido que o partido de André Ventura desse o seu aval ao governo recém-formado.

Não tendo qualquer afinidade com muitas das ideias conhecidas e propaladas pelo líder do Chega e desconhecendo verdadeiramente a ideologia que professa, o facto é que se trata de um partido com existência legal, a quem muitos portugueses deram o voto. E poder-se-á dizer que o radicalismo do Chega não será muito diferente do radicalismo do PCP ou do BE, que defendem regimes tirânicos e ideologias totalitárias.

Acresce que quem verdadeiramente deu início à formação de governo tendo perdido as eleições, contra o que era práxis na democracia portuguesa, foi o PS.

Não foi em 2015 que depois de perder as eleições para Pedro Passos Coelho, António Costa formou governo com acordo do PCP e BE? Portanto, simpatize-se ou não com o novo governo da Região Autónoma dos Açores, é uma realidade que nem é inédita e que nem podemos ignorar.

Mais do que refletir sobre o acordo que permitiu a constituição de um governo de direita nas ilhas açorianas, impõe-se pensar aprofundadamente sobre a plêiada de críticas e pareceres que durante dias a fio ocuparam os meios de comunicação social.

Tal como uma corrente indómita, será que esses comentários e opiniões em turbilhão, quase de sentido único não pretendiam senão condicionar, ou mesmo impedir a formação do novo governo dos Açores?

Não posso deixar de fazer esta interpelação aos prezados leitores, sobretudo depois de ler e refletir sobre o livro “Sociologia da Comunicação – reflexões teóricas”, edição Gráfica Diário do Minho, 2020, da autoria de Paulo Falcão Alves, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade do Algarve.

Nesta sua publicação, prefaciada por Fernando Correia, o autor, em estilo simples, extremamente didático e enriquecido com bibliografia farta e valiosa, põe a nu as fragilidades da sociedade contemporânea e remete-nos para a necessidade premente de meditar.

Como muito bem refere Fernando Correia, trata-se de uma obra que “sendo extremamente importante para o estudante universitário, não deixa de o ser para o cidadão comum, a quem fará bem ler este livro na procura (para a descoberta) dos novos desafios que são propostos à sociedade, a fim de que ela não perca o sentido original da criação”.

Hoje, talvez mais do que em qualquer outro momento da Humanidade, urge estar atento aos progressos da tecnologia, aos avanços da inteligência artificial e aos recentes modelos de comunicação para não nos tornarmos nos novos escravos do nosso tempo.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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24 novembro 2020