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Uma questão psicológica

Podemos sonhar ser ícaro mas como ele acabaremos sem asas derretidas pelo calor forte da impossibilidade. Por outro lado se nos contentássemos com o que somos, se puséssemos de parte a ambição de ir mais além, se deixássemos ao destino a nossa vida, ainda estaríamos no tempo das cavernas. Conciliar a ambição necessária com a ambição desmedida é encontrar o bom senso. É esta a filosofia de governação de António Costa. Reparem como ele consegue dar a medida do possível de cada um, sem dar espaço à tristeza ou frustração de cada português! Este equilíbrio entre o possível e a ambição trouxe conformismo e alívio à sociedade.

Sabe-se que com Costa não há extremismos, nem da esquerda, nem da direita. António Costa soube colocar-se ao meio dos extremismos, constituindo-se como fiel da balança social. Fez uma coisa muito simples: não piorou as condições de vida; todos sabemos que não há dias felizes, mas que os infelizes não piorarão. E esta sensação de que estamos estabilizados, mesmo que por baixo, quer queiramos quer não, determina uma estabilidade. Mesmo sem nos dar nada, o governo de Costa deu-nos a verdade duma austeridade embrulhada em estabilidade; o amargor é menor quando se pensa que o remédio ainda podia ser mais amargo.

A incerteza é o pior dos males da alma. Adiar sem saber quando acaba é um martírio do espírito. Dizer que não havia cura mas algum alívio, trouxe alguma alegria a uma sociedade que vivia na angústia de que  amanhã seria pior. Uma sociedade triste torna-se abúlica, baixa os braços, não tem vontade para fazer nada, entra em depressão e morre estiolada como planta a quem falta a luz do sol. A alegria de viver também está na certeza duma vida organizada, por fraco que seja o seu nível de vida. António Costa é um mestre neste jogo psicológico.

Ainda é capaz de dizer o que é preciso fazer ou resolver a cada um, sem fazer nem resolver coisa nenhuma. E o povo resigna-se, naquela atitude que fez dos portugueses uma sociedade de brandos costumes: mais vale pouco que nenhum. Os sindicatos ficam quietinhos, fazendo o jogo, de “agarra-me se não eu bato-lhe”. Os sindicatos fazem de conta.

O estado de alma dos portugueses está anestesiado por este efeito psicológico. Daí não haver extremismos quer de pensamento, quer de ações. Este efeito psicológico é tão forte e visível que até as comemorações do dia 25 de Abril, na Assembleia da República, pareciam uma reunião de rotários. Que venha a paz desde que não apodreça.


Autor: Paulo Fafe
DM

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1 maio 2017