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Uma «multi-esperança» para vencer a «multicrise»

  1. O (devastador) percurso da pandemia está a ser longo e sumamente doloroso.

Sabemos que a «tempestade» há-de passar. Mas até chegar esse momento, a humanidade estará submetida a um arfante estendal de sofrimento.

  1. Estamos perante uma dantesca crise sanitária. Mas que acaba por arrastar uma profundíssima crise económica, social, institucional, relacional e até afectiva.

Já são localizáveis marcas desmedidas nas pessoas, nas empresas e nos relacionamentos.

  1. Há quem já esteja no desemprego. Há muitos que já não se subtraem à fome. Enfim, há vidas que estão a ser devoradas pelo desespero e torturadas pela solidão.

Esta é, pois, uma «multicrise», que não deixa ninguém de lado e que nos coloca a todos em risco.

  1. Desta «multicrise» faz parte uma menor atenção dispensada a quem padece de outras patologias e a quem está afectado por outro género de problemas.

Acresce que, além do que estamos a fazer, somos sobressaltados pela inquietação acerca do que será o melhor para realizar.

  1. Quando tudo passar, vamos sentir uma infindável sensação de alívio. Mas tal sensação não repõe as vidas que foram consumidas pelo novo coronavírus e por outras enfermidades.

Os efeitos da pandemia – coligados com as consequências de algumas medidas – estão a arrastar muitos para a contestação e inclusive para a violência.

  1. Afinal, a humanidade, que tanto avança no conhecimento de um universo infinitamente grande, vê-se a colapsar perante um tortuoso organismo, infinitamente pequeno.

É notória a incerteza e cada vez mais visíveis as explosões de revolta. Todos parecem ter razão e quase ninguém parece conseguir manter a racionalidade.

  1. Também nós, cristãos, nos descobrimos, por vezes, a trilhar terrenos pouco seguros. A fé não nos retira humanidade. Sentimos – e sofremos – com todos e como todos.

No fundo, nem nos podemos ver ou tocar. Os rostos como que nos surgem embaciados pelas máscaras e a proximidade pode transportar um perigo. Enquanto seres sensitivos, estamos impedidos de expressar plenamente o que nos vai na alma.

  1. Que fazer? Não podemos optar por constituir uma «Igreja inactiva». Mas temos de procurar oferecer algumas «práticas alternativas».

Nesta hora, o nosso primeiro grande dever é proteger. Não se trata de ficar imobilizado, mas de agir com prudência, oferecendo acolhimento e solidariedade.

  1. Temos de perceber que também necessitamos de «mártires vivos». Uma coisa é não fugir da ameaça; outra coisa, é procura-la deliberadamente.

A Igreja – desde a antiguidade – nunca aprovou a «jactacio martyrii». Definitivamente, a temeridade não é opção para um cristão.

  1. Temos de encontrar formas – nas celebrações e nos contactos que possamos ter – de oferecer esperança.

Para uma «multicrise», uma «multi-esperança». É nosso dever e é a maneira de melhor proteger. Deus continua presente na nossa história. E sobre cada sofredor Ele derrama copiosas torrentes de amor!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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24 novembro 2020