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Uma iniciativa pioneira

Foram muitos e díspares os comentários à recente iniciativa do Papa Francisco de juntar em Roma os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo para lançar as bases de um ataque global ao abuso sexual de crianças dentro (e fora) da Igreja. Foram múltiplos e díspares os comentários como múltiplos e díspares foram os rótulos postos à iniciativa – dos mais acertados aos mais descabidos, dos mais justos aos mais injustos.

Um dos mais insólitos que ouvi, a uma comentadora televisiva, foi o rótulo de «operação de marketing» - exactamente o contrário do que foi aquela «operação» ( para usar a terminologia da comentadora).

Foi uma «operação» desencadeadora de um ataque – tão universal quanto a Igreja o consegue ser – à pedofilia mundial em todas as instituições e em todas as latitudes. Dali saíram linhas, muito determinadas e determinantes, de orientação geral que os Bispos, espalhados pelo mundo, terão agora de rapidamente traduzir em normas de actuação concretas adaptadas a cada Diocese, segundo a sua localização geográfica e, consequentemente, a sua cultura. Uma «operação» de uma envergadura como ainda nenhuma instituição – nem nenhum Estado – até hoje lançou.

Por isso, se algum rótulo lhe assenta é o de «iniciativa» (não de «operação»), de «iniciativa pioneira». Pioneira porque ainda ninguém com a projecção da Igreja o fez àquela escala. Pioneira mas também exemplar. Porque é exemplo para muitas instituições e para muitos Estados, incluindo o Português.

Entre nós condena-se a pedofilia em indignadas declarações avulsas e num ou noutro caso que chega ao Ministério Público e aos Tribunais (honra lhes seja feita!). E por aí nos ficamos.

Quando é que o Estado Português – mormente através dos Ministérios da Educação e da Saúde – toma uma iniciativa semelhante à de Roma, reunindo os seus dirigentes de todas as instituições responsáveis por crianças, para organizar um ataque concertado à pedofilia em todo o território nacional e em todas as áreas – privadas ou públicas?

Ainda agora vimos responsáveis do Estado associarem-se às manifestações contra a violência doméstica. Todos falavam (e bem) da violência contra as mulheres. Mas ninguém falou da violência contra os velhos, nem da violência, nomeadamente sexual, contra as crianças que, normalmente acontece no âmbito doméstico. Parecia que as mulheres tinham o «exclusivo» da violência doméstica… Foi pena. Perdeu-se a oportunidade de uma grande manifestação contra a pedofilia – que fazia todo o sentido dentro do tema «violência doméstica». Mas as mulheres têm voz. As crianças não.

Quando é que o Estado Português segue o exemplo pioneiro de Roma? E os outros Estados? Quando o fazem?

Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.


Autor: M. Moura Pacheco
DM

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26 março 2019