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Uma escultura de D. Afonso Henriques a colocar em Zamora

A associação cultural vimaranense, Grã-Ordem Afonsina, criada em 2019, tendo como objetivo estatutário “o estudo e divulgação do legado, patrimonial e imaterial, deixado por D. Afonso Henriques” deliberou, com apoio mecenático de três empresas e apoio institucional da Câmara de Guimarães, mandar colocar uma escultura de D. Afonso Henriques na cidade espanhola de Zamora. O escultor vimaranense Dinis Ribeiro foi o artista convidado a esculpir a obra, dada sua manifesta competência na matéria.

Esta notícia foi dada a conhecer, publicamente, no passado 5 de outubro, aniversário da Conferência de Zamora, tendo como convidado a presença do representante da cidade de Zamora, José Luis González Prada. A inauguração da obra está prevista para o dia 28.05.2023, dia do Pentecostes, uma vez que foi nesse dia que ocorreu a investidura.

A muito louvável iniciativa, deve-se ao facto de Zamora estar no caminho da fundação de Portugal, com a investidura do infante Afonso Henriques, como cavaleiro, na Sé de Zamora, em 1125 e, um pouco mais tarde, em 5 de outubro de 1143, com a Conferência de Zamora.

A investidura do infante Afonso Henriques como cavaleiro, em Zamora, conforme uso e costume dos reis, encontra-se registada nos “Annales Domni Alfonsi Portugallensium regis”:

“Era de 1163 (1125). O ínclito infante D. Afonso Henriques (...), estando na Sé de Zamora, no dia santo de Pentecostes, tomou de cima do altar as armas militares e vestiu-se e cingiu-se a si próprio diante do altar, como é costume fazerem os reis. Vestiu-se com armadura como um Gigante (...)

Interpretando o texto, o historiador José Mattoso, afirma que, para o seu autor, “o facto de D. Afonso se armar cavaleiro a si próprio, aparece, como uma afirmação voluntária de independência e como uma reivindicação da categoria régia”.

E acrescenta que os autores modernos que adotam uma interpretação voluntarista do papel do infante, e que lhe atribuem, desde o princípio, a chefia da revolta, (como faz implicitamente, o autor dos Anais), tendem, por isso, a colocar neste momento, o início do afastamento do infante para com a sua mãe, fazendo da cerimónia cavaleiresca um ato de rebeldia”. (cf. José Mattoso - Biografia – 54)

O Prof. Torquato Soares e outros autores defendem essa interpretação, alegando que a cerimónia de investidura se realizou em Zamora porque aí se encontrava o arcebispo de Braga, D. Paio Mendes, que estaria em Zamora, de regresso de Roma, para onde havia ido para reclamar os seus direitos, como metropolita da Galécia (antiga capital da Lusitânia).

Outro acontecimento que contribuiu para a fundação de Portugal foi a Conferência de Zamora para a qual muito contribuiu o arcebispo de Braga, D. João Peculiar e o delegado pontifício, cardeal Guido de Vico. As cláusulas exatas do acordo não são conhecidas, mas por outros documentos sabemos que Afonso VII reconheceu o título rei a D. Afonso Henriques.

Na verdade, o resultado político da vitória, em S. Mamede, traduziu-se numa efetiva realeza do infante Afonso Henriques e num ininterrupto desejo de assinalar uma verdadeira autonomia face a Leão, à qual Afonso VII não se conseguiria opor, e que veio a terminar, em 1143, no encontro de Zamora.


Autor: Narciso Machado
DM

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19 outubro 2022