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Uma data a celebrar

1. Respeitando todas as opiniões em contrário, estou persuadido de que o 25 de novembro de 1975 é uma data que deve ser recordada e celebrada.

Há pessoas a quem não agrada fazê-lo, mas a verdade e a justiça não devem andar ao sabor de conveniências ou interesses pessoais.

Penso ser uma indignidade apresentar às pessoas menos esclarecidas uma visão distorcida da história. Como é indigno traçar o perfil de certos personagens da nossa vida coletiva falando apenas nos seus aspetos negativos. Uma coisa é fazer história e outra, desenhar caricaturas.

Por muito que, às vezes, nos custe aceitar, uma verdade é esta: as coisas são o que são e não o que gostaríamos que fossem.

2. O atual Portugal democrático, que cada dia necessita ser aperfeiçoado, principiou com o 25 de abril de 1974.

«A nossa Revolução de 1974, lembra Diogo Freitas do Amaral, («Da Lusitânia a Portugal», pag. 413) começou por ser um golpe de Estado militar a 25 de Abril; afirmou-se como revolução democrática, em 1974; mas tentou transformar-se, em 1975, numa revolução economico-social, que visava colocar o país ‘rumo ao socialismo’. Foi um período difícil de quase ano e meio. Mas, no fim, venceu a Democracia».

E é a vitória da Democracia que se comemora em 25 de novembro. Salientaram-se, no plano militar, Ramalho Eanes e Jaime Neves; no político, Mário Soares e Costa Gomes.

O ideal proclamado em 25 de abril sofreu desvios graves com factos que culminaram no verão quente de 1975, alguns dos quais recordo no livro «Memórias de um Jornalista».

O chamado PREC – Processo Revolucionário em Curso foi um período muito conturbado da vida portuguesa que, na minha perspetiva, anda mal contado.

Foi o 25 de novembro que fez renascer a pureza dos ideais de abril e travar o avanço de uma esquerda não democrática que, em alguns casos, ainda se não quer dar por vencida. Continua a dar o mote e outros (ingenuamente?!) trauteiam a canção.

A quem desconhece a história do nosso País nas últimas décadas e a quem dela só conhece o que certos ideólogos lhe querem transmitir sugiro a leitura do capítulo 42 do referido livro de Diogo Freitas do Amaral.

3. Suponho não exagerar se disser que pretendem dividir os cidadãos em dois grupos: o dos nossos e o dos outros.

O dos nossos, constituído por gente considerada sem mancha; o dos outros, formado por pessoas onde apenas se descobrem defeitos. Os juízos que se fazem dos outros são marcados pelas conveniências afinidades ideológicas.

Há quem só saiba dizer mal do passado. É caso para perguntar: quem plantou as árvores cujos frutos colhem? quem rasgou as estradas e construiu as pontes que atravessam? quem lhes ensinou o a e i o u?

4. Dizem haver necessidade de ensinar nas escolas a história do Portugal dos séculos XX e XXI. De acordo. Mas quem vai, com imparcialidade e isenção, fazer esse trabalho?

Está em moda ser de esquerda. Quem presume de intelectual entende que deve guinar à esquerda. E ao relatar acontecimentos essa tendência manifesta-se. A começar pelo que dizem e pelo que silenciam.

Há pessoas a quem, por fidelidade ideológica, não convém recordar certos factos. Que colocam a fidelidade ideológica acima do que deve ser o culto da verdade.

A honestidade intelectual exige se ponham as conveniências e os interesses no lugar que lhes compete. Que predomine o amor à verdade.

5. Hoje, mais do que nunca, faz falta avivar a memória; possuir e exercer um apurado sentido crítico em relação ao que se vê, se ouve, se lê.

Estou persuadido de que o Portugal democrático de hoje não existiria se não tivesse acontecido o 25 de novembro de 1975. E isso deve ser dito. Por amor à verdade.


Autor: Silva Araújo
DM

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25 novembro 2020