A ONU celebra a 20 de Março o Dia Mundial da Felicidade. Falar de felicidade nestes tempos que correm é difícil; porém, há pequenas coisas da vida a que vale a pena prestar atenção, se isso nos tornar melhores. Vamos falar de aplicações. E falaremos também de outras. Vivemos no tempo das aplicações (app). Há aplicações para tudo. Uma aplicação é um projecto operacional que apresenta uma construção lógica em que, para o cliente, o lucro funciona como a sua motivação principal e a sua funcionalidade estimula a realizá-lo. A pessoa investe numa aplicação motivada pelas facilidades que ela lhe oferece e pelo lucro que pode realizar. Tornaram-se tão familiares que se passaram a chamar-se simplesmente pelo diminutivo apps…
Já tinha ouvido falar das mais variadas aplicações, mas nunca tinha ouvido falar de uma app para melhorar a personalidade, para se tornar uma pessoa melhor e ser mais feliz. Esta experiência pode abrir caminhos novos. Não se trata de uma opção religiosa, que tem as suas características próprias, mas de uma abordagem clínica natural. Uma equipa internacional, liderada por psicólogos da Universidade de Zurique (Suíça), construiu uma aplicação para telemóvel com o objectivo de ajudar as pessoas a melhorar a sua personalidade, procurando responder ao desejo universal e intemporal de se tornar melhor.
Sabe-se que há traços de personalidade que funcionam como padrões de experiência de comportamento que podem mudar ao longo da vida, conforme nos vamos adaptando a novos ambientes, que dia a dia questionam o nosso comportamento. Há quem valorize a rigidez de personalidade, dizendo que ela não muda. Isso seria admitir que uma convicção, uma vez tomada, não mudaria nunca mais; mas, isso é praticamente impossível, porque estamos sempre a aprender, nada está definitivamente acabado e faz parte da condição humana ir aprendendo e melhorando. É preciso distinguir entre projectos de sentido de vida e projectos de condições de vida, entre o essencial e o acessório. O essencial é ir aferindo se o essencial dos seus princípios de vida se mantém coerente e constante, adaptando-se à evolução do meio ambiente e das condições de vida. Porque, afinal, a mudança faz parte da nossa evolução. Estamos sempre a aprender e a evoluir.
Mirjam Stregen e os seus colegas decidiram investigar essa capacidade de mudança da personalidade e construíram uma aplicação (uma app, como se diz hoje) para telemóvel, a qual foi distribuída a 1.500 voluntários para que a utilizassem durante 3 meses. Com uma entrevista no princípio e outra no fim desse período, procuraram investigar se a sua personalidade havia ou não mudado. Foram escolhidos como indicadores dessa mudança os 5 principais traços da personalidade: abertura aos outros, conscienciosidade, extroversão e sociabilidade, afabilidade (consideração pelos outros) e vulnerabilidade emocional.
Este processo de adaptação é abrangente e dinâmico e inclui naturalmente elementos de conhecimento, de activação de recursos e comportamentos já existentes, autorreflexão e feedback sobre os progressos registados. Vai-se aprendendo novas ideias e novas adaptações, vai-se analisando outros comportamentos diferentes dos nossos e vamos aferindo a sua influência no nosso próprio comportamento e relação com os outros.
Neste processo de novas aprendizagens na área da personalidade, cada um mantém uma relação e diálogo com o seu mentor digital, tal como se faz na relação de psicoterapia. Esta relação ocorre de modo virtual. O mentor digital apoia os participantes diariamente, ajudando-os a fazer as mudanças necessárias e evitando criar desvios circulares inconscientes. Não para impor nada, mas para ajudar a criar consciência e espírito crítico abertos aos outros. Sendo que cada um tem a sua perspectiva de vida, sem se tornar dependente dos outros.
O tempo de 3 meses de intervenção mostrou-se um factor positivo a ter em conta. Os voluntários que participaram dessa intervenção durante esse tempo relataram que isso os ajudou a obter maior sucesso em alcançar os objectivos de mudança. E os amigos, próximos e familiares confirmaram que eles conseguiram realmente adquirir mudanças significativas na sua personalidade.
Autor: M. Ribeiro Fernandes