Hoje há até uma tese, não oficial, de que os 3 extraordinários pastorinhos tivessem apenas tido uma visão, uma experiência sensorial exclusiva, não partilhada por terceiros, de “algo” que não precisou de acontecer, digamos, fisicamente: uma visita presencial ao local, por parte daquela que foi, no início do séc. I d. C., a Mãe de Jesus Cristo. Porém, sobre este assunto bem misterioso, ocorrem-me algumas observações; algumas mesmo, algo pessoais...
2 – Os meus pais casaram em Fátima). Já não me lembro bem porque razão, mas o certo é que o meu pai, um nativo de Olivª de Azeméis; e a minha mãe, nascida em Ovar (mas com fortes raízes no vizinho concelho da Feira) decidiram casar no santuário de Fátima, ainda não chegara o ano de 1960. Da cerimónia não sobram muitas fotografias; mas uma delas, na escadaria do santuário, expõe umas dezenas de familiares meus, de ambos os ramos, registando para a História, a sua presença no local.
3 – Quando o meu pai morreu, um impulso qualquer levou-me a Fátima). O meu pai passou por este mundo com a “rapidez do orvalho”. Era contudo um homem extraordinário e parecido de feições com o grande Beethoven. Os seus dotes foram contudo, noutros campos: o da matemática, da mecânica e da habilidade manual. Foi 22 anos professor daquela ciência na Univ. do Porto; e mais 7 na de Aveiro, falecendo do coração, precocemente. O 1.º carro que teve, um DKW, desmontou-o peça por peça, na eira da velha casa, em Santiago; e voltou a montá-lo sozinho.
Era órfão de mãe aos 2 anos; e de pai, militar e ausente, aos 15. Morreu a 21 de Julho, num mês em que, dias antes, a 10 (comemora-se aí o assassinato de Guilherme “o taciturno”, da Holanda) eu havia tido uma das maiores decepções amorosas da minha vida. Para arejar (e planear o futuro) eu e o meu único irmão fomos passar uns dias ao Algarve, pernoitando no hotel onde fora morto o político Sartawi (é claro que ignorávamos o facto...). Porém, na ida fomos, por um impulso qualquer, dormir uma noite a Fátima. E na manhã seguinte, ao percorrer aquele vasto espaço sagrado, eu senti um misterioso conforto, algo inesperado para a minha tragédia pessoal.
4 – Uma das minhas bisavós maternas era de lá perto). Ainda a cheguei a conhecer, muito pequeno, no seu leito de anciã, em Ovar, já muito doente; uma sombra da mulher bonita mas autoritária que fôra toda a vida. Sabia mil adágios e gostava de “cortar na casaca” de alguma sociedade ovarense. Talvez por aí serem ignorados os méritos das suas raízes ribatejanas (não era rica mas pertencia aos Pereira Marecos, 3 dos quais foram deputados liberais). Nascera em Santarém mas as suas raízes pousavam em Tremês (30 kms. a SW de Fátima), não longe dos lares da mãe de Soares (Pernes); de Adelaide Ferreira (Minde); ou Carlos Cruz (Parceiros).
5 – Fátima, um topónimo raro). Na Hespanha inteira, parece não haver outro local assim chamado. Fátima era uma filha de Maomé, que casou com Ali, o 4.º dos califas. Quem seria a Fátima (concreta) que deu nome àquele local de Ourém, não se sabe (cf. J. P. Machado, Dicionário, etc.). Quando viveu? Seria uma escrava moura? Ou uma moçárabe? Naquela região há outros nomes árabes (Alqueidão, Alvaijar, Alburitel, Alcanena, Alcanede, etc.). Contudo, o nome Iria (ou Irene), da Cova da Iria, já é grego e refere-se a outra mulher, é óbvio.
6 – Uma “improbabilidade” (pessoal) recente, a respeito de Fátima). Contei-o aqui. Os mais atentos saberão que a 3-1-2016, escapei ileso de um acidente rodoviário (rebentamento de pneu?) na auto-estrada, perto da Feira. A Deus o devo. Porém, não faz ainda um mês, ia eu a passar 2 kms a sul daquele local e (por ser aí onde, entre muitos outros estão sepultados, a tal bisavó e o filho) estava eu a rezar-lhes pela alma quando a rádio anuncia que o Vaticano ia finalmente canonizar Jacinta e Francisco. Pensai o que quiserdes... Mas “que las hay, las hay”, como dizem os espanhóis.
7 – Fátima e a Guerra de 14-18, no “top” do campeonato das improbabilidades). Já Cristo censurava os seus próprios Apóstolos, por serem “homens de pouca fé”... Que difícil seria para Deus (Criador do Universo), o operar o pequeno prodígio de fazer aparecer Maria a 3 pequenos parentes de Viriato, 2 mil anos depois? A ocasião era mesmo das mais adequadas, pois os jovens europeus trucidavam-se então uns aos outros, no 3.º ano duma guerra mundial fútil e inimaginável.
É que, mais improvável que a vinda de Maria a Ourém, é outro facto. O de, em pleno apogeu de todas as potências coloniais europeias (França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Rússia, Itália, Portugal, etc.) ter havido várias pequenas seitas secretas que conseguiram, manobrando ridículas vaidades e invejas, pôr essas potências todas, em luta de morte umas com as outras. Ainda hoje, fiéis ao seu bem disfarçado ideário anti-europeu, empenham-se em travar Marine, Wilders e Orbán. Ou em difamar Putin ou Assad.
Autor: Eduardo Tomás Alves