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Um santo dos nossos tempos: S. Josemaria

O médico, de semblante triste, saiu do lar da família Escrivá, confidenciando aos pais que o filho não deveria passar daquela noite. A sua morte era iminente. No dia seguinte, por delicadeza, voltou à casa ainda de manhã e perguntou: “A que horas morreu o menino?”.

Mas o menino brincava, feliz e não dava ares de quem tinha estado perto da outra vida. O médico ficou espantado e a mãe do rapazinho cumpriu atempadamente uma promessa que tinha feito a Nossa Senhora de Torreciudad, se o seu filho, José Maria, se curasse.

Em Barbastro nasceu e começou a crescer esse petiz, igual a tantos outros. A sua vida sempre teve uma ligação forte com a Cruz de Cristo. Alguns anos depois, num espaço de tempo curto, o Senhor levou para junto de Si, três irmãs ainda crianças, o que o deixou profundamente condoído.

O pai, entretanto, um bom cristão, por contrariedades da vida, foi obrigado a fechar o negócio com que alimentava os seus e a mudar de cidade para ganhar o seu sustento.

De Barbastro, ele e a sua família passaram para Logroño, onde arranjou um emprego bem mais modesto do que aquele a que estava habituado. Mas não protestou, embora o novo estatuto da família incomodasse José Maria, que aprendeu com seu pai a sofrer as farpas que às vezes nos assaltam sem as querermos.

Num dia de inverno, depois de um nevão intenso, teria José Maria 14 ou 15 anos, viu, no chão esbranquiçado duma rua, as pegadas de um religioso. Teve um sobressalto e sentiu-se tocado, pensando que se havia gente que vivia daquela maneira, o que é que ele fazia por Deus.

Foi o início da sua vocação sacerdotal, que o pai recebeu com lágrimas, mas dizendo-lhe que não se oporia, embora achasse conveniente que ele se orientasse com um sacerdote amigo, a quem o apresentou.

José Maria foi aluno externo do Seminário de Logroño, passando depois para o de Saragoça, o que lhe permitia frequentar também o curso de direito na universidade da capital aragonesa.

Nem tudo se mostrou suave, sobretudo nos primeiros tempos, na sua passagem por este novo centro de ensino, mas os problemas foram-se resolvendo, ao ponto de o seminarista de Barbastro ter sido, pela confiança que nele depositaram os seus superiores, nomeado inspector, uma espécie de preceptor, de um grupo de seus colegas. Em 1925 – José Maria tinha então 23 anos – chega o momento da sua ordenação.

Mas o Senhor leva-lhe o pai poucos meses antes desse acontecimento. Fica o principal responsável pelo sustento da família. No dia em que celebra a sua primeira missa, assistem a mãe, a irmã, o irmão mais novo, alguns parentes, além de um grupo de pessoas desconhecidas. A família Escrivá está de luto pesado e, por isso, este evento festivo celebra-se com discrição.

No momento de administrar a eucaristia, o Senhor tira-lhe alegria de ser a sua mãe a primeira a receber das mãos do novo sacerdote o Senhor consagrado. Eis que uma senhora se mete, inadvertidamente, à sua frente e rouba à mãe e ao filho o gosto que tantos desejavam.

Para ultimar os seus estudos de Direito e trabalhar no doutoramento, José Maria vai para Madrid, onde exerce uma profunda actividade pastoral, de que resulta o conhecimento de muitas pessoas que recorrem aos seus conselhos e à direcção espiritual.

Os bairros paupérrimos de Madrid são por ele calcorreados com frequência e objecto da sua catequese. Três anos mais tarde, estando a fazer um retiro, a 2 de Outubro de 1928, dia dos santos Anjos da Guarda, compreende que o Senhor pretende dele a fundação de uma nova organização, destinada a promover o chamamento universal de todos os cristãos à santidade. Tinha 26 anos, e apenas a graça de Deus e bom humor, conforme costumava dizer de si mesmo.

José Maria, a princípio, surpreendido com a descoberta que a luz divina nele despertara, procura, humildemente, entre as instituições da Igreja, alguma que tivesse as características daquela que o Senhor lhe inspirara. Mas não encontra. A vida não foi fácil: alguns anos depois, começou a guerra civil no seu país, que o destroçou, e onde perderam a vida muitos milhares de pessoas.

Não desanimou e fez o que podia nesses anos difíceis. Já depois de terminada a contenda, José Maria sentiu a dor da incompreensão, da calúnia, do desconforto e até da perseguição. Mas essa “Obra de Deus” – Opus Dei –, como lhe perguntou alguém um dia, não parou de ganhar vigor.

Aprovada em 1950, definitivamente, pela Igreja, à sua morte (26/06/1975) contava com cerca de 60.000 pessoas. Hoje, desde 1982 é uma Prelatura Pessoal, como pretendia o fundador, espalha-se por mais de sessenta países e conta aproximadamente com 90.000 fiéis, entre os quais um pouco mais de 2000 sacerdotes nela encardinados. José Maria Escrivá – S. Josemaria – foi beatificado em 1992 e canonizado em 2002.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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24 junho 2018