O mar e o sol já é o que a maioria das pessoas procuram, sobretudo no Verão, para compensar a falta de vitaminas que o corpo perde depois de um longo Inverno, tentando recuperá-las em período de férias. E mesmo que surjam novos aguadeiros no reino, os locais banhados pelo Oceano serão sempre aqueles que me darão um verdadeiro sabor a sal. Aliás o que sucedeu comigo nestes breves dias que passei na nossa ex-colónia de Cabo Verde.
Ora, as cerca de quatro horas de voo que separam o Aeroporto Sá Carneiro, no Porto, ao de Amílcar Cabral, no Sal, são as suficientes para mergulharmos num país com dez destinos. Tantos quantos as Ilhas que formam aquele Arquipélago banhado pelo Atlântico. Daí a Santa Maria, local de extensas praias de areia branca e cálidas águas, gastei cerca de 20 minutos de autocarro. Onde já existem modernas unidades hoteleiras, com praia privativa, para acolherem os turistas que chegam. Num gritante contraste de nível de vida entre a pobreza cabo-verdiana e a abastança dos que ocupam esses luxuosos oásis de veraneio.
Contudo, alguns milhares de postos de trabalho foram criados, em nome do turismo, proporcionando ordenados – embora baixos – que permitem àquele povo ter acesso a determinados bens, até ali proibitivos, tais como a televisão e o computador. Sendo o Tablet, o iPhone e o telemóvel objetos de uso trivial nas suas vidas. E só para dar uma ideia ao estimado leitor do emprego crescente, já se contam 175 hotéis; uma série de empresas fornecedoras; 530 táxis (fora os transportes públicos e outros) a operarem num território com apenas 30km de comprimento por 12 de largura.
As duas vantagens para nós, portugueses, é a língua que lhes deixamos a qual é oficialmente falada e aceitarem o euro nas transações comerciais. Assim, por poucos euros pude percorrer toda a Ilha. Desde subir ao monte das “antenas” e de lá apreciar a cidade de Espargos (capital), até descê-lo e embrenhar-me no seu quotidiano. O que me permitiu assistir não só à lida dos pescadores do atum, como também à venda de água dessalinizada, em bidons de plástico de 20L (a 5,5 escudos), que as crianças carregavam para suas casas.
Depois, por terras desertas fui apreciar a “miragem” que consistiu em fletir os joelhos e ver ao longe um enorme lençol de água, para depois erguer-me e nada ver. Uma ilusão porque, segundo eles, por ali só chove quando o Sporting é campeão. O que deu para sentir a muita miséria humana ao longo dos bairros de lata por que passei, em zona árida e pobre a que, ironicamente, chamam Terra Boa. Mas com mar a 6km, de ambos os lados, para onde segui até Buracona, a fim de apreciar o tão famoso “Olho Azul”: reflexo do sol na água que entra pelo rochedo escuro esburacado que provoca tal visão.
Na Pedra de Lume segui – além-montanha – até às salinas. Um fenómeno capilar que faz com que a água salgada ali apareça. Foi um momento de banho em água saturada de sal, o que me permitiu flutuar. Para logo mais ir ver os tubarões, de croques nos pés (para não ser picado pelos ouriços) junto à linha de mar onde eles surgem. Uma foto aos “tubas” e adeus amigos que me vou. Sim, porque dali á Baía da Mordeira, na Ponta Preta, é como um “tirinho” para apreciar o Monte Leão.
Chegado ao histórico pontão de Stª Maria lá estavam eles, os filhos daquele povo: alegres e felizes a saltarem para a água, numa algazarra que ainda trago nos ouvidos. Um exemplo à humanidade consumista de como se é feliz sem nada ter. É por isso que “non stress” é o seu lema.
Autor: Narciso Mendes