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Um livro inquietante

2. O tema de fundo é o regresso a Jesus. Ao Jesus dos Evangelhos, vivendo o essencial da Boa Nova.
«Tal como é vivida com frequência nas nossas comunidades, escreve o Autor, a fé não suscita ‘discípulos’ que vivem a aprender a viver do seu Mestre e Senhor Jesus, mas apenas adeptos de uma religião. Não gera ‘seguidores’ que, identificados com o seu projeto, se entregam a abrir caminhos ao Reino de Deus, mas membros de uma instituição que cumprem fielmente com o estabelecido.

Não leva a interiorizar as atitudes fundamentais de Jesus para seguir a sua trajetória de fidelidade ao Pai, mas que leva mais a observar as obrigações religiosas» (pgs. 70-71).

E adverte: «Uma Igreja formada por comunidaes que se relacionam com um Jesus mal conhecido, confessado só de maneira abstrata, um Jesus mudo de quem não se ouve nada de especial para o mundo atual, um Jesus apagado, que não seduz, que não chama nem toca os corações… é uma Igreja que corre o risco de se estar a apagar e a extinguir» (pag. 65).

«Devemos cuidar para que o nosso anúncio se centre mais no genuíno e essencial do Evangelho sem o mutilar nem o reduzir a alguns dos seus aspetos secundários» (pag. 44).

«Temos, salienta, de avaliar a verdade do nosso cristianismo. Descobrir positivamente esse núcleo básico de sequela fiel de Jesus que há em muitos cristãos mais além do pecado que possa existir nas instituições e tradições do passado. Mas temos de detetar também com brio e humildade os desvios e adulterações do cristianismo atual» (67).
 3. Na página 63 cita palavras do Papa: «Alguns esperam e pedem-me reformas na Igreja, e tem de as haver. Mas primeiro é necessário uma mudança de atitudes».

É fácil falar da renovação da Igreja, mas essa renovação exige a conversão pessoal de cada um dos seus membros.
É imperioso voltar a Jesus, e isso «é muito mais do que introduzir  algumas mudanças ou inovações de caráter pastoral ou de governo. (…) Necessitamos de voltar às raízes, converter-nos ao essencial, atualizar hoje de alguma maneira a experiência fundadora que se viveu no início com Jesus.»
(…) «Voltar a Jesus não é apenas introduzir reformas religiosas, mas converter-nos ao Espírito de Jesus» (pag. 63).
 
4. A reforma que se impõe não vai com remendos (Mateus 9, 16) mas com uma profunda mudança de mentalidade. Exige a tomada de consciência de que o que Deus quer é misericórdia e não sacrifício (Mateus 12, 1-8)
Na opinião do Autor «necessitamos de pôr em marcha processos de conversão a Jesus Cristo, para que as nossas paróquias e comunidades se sintam arrastadas por Ele e todos experimentemos no interior dos nossos corações o seu apelo, o mesmo que ouviram os primeiros que se converteram em seus discípulos e discípulas, e o seguiram» (pag. 74).

A renovação da Igreja exige que se vá à fonte e recupere a frescura original do Evangelho, que muitos cristãos só conhecem «em segunda mão» (pag. 81).
O Vaticano II lembrou que «entre todas as Escrituras, incluindo o Novo Testamento,  os Evangelhos ocupam, com razão, o lugar proeminente, porque são o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador» (Dei Verbum, 18).
 
5. Como caminho para a renovação José Antonio Pagola sugere a constituição dos «Grupos de Jesus« (pag. 133 sgs), cujo objetivo principal é viver juntos um processo de conversão individual e em grupo a Jesus Cristo, aprofundando, de maneria simples, o essencial do Evangelho, que é o projeto do Reino de Deus: um mundo mais são, justo, solidário e feliz para todos.


Autor: Silva Araújo
DM

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24 agosto 2017