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Trabalho ao domingo?

Tem sido notícia nos órgãos de comunicação social o problema do trabalho ao fim de semana, incluindo o domingo, na empresa Autoeuropa, situada em Palmela, Setúbal. Trata-se duma empresa de capital alemão que deseja construir 240.000 automóveis este ano, dum novo modelo. A empresa paga o domingo como um dia normal de trabalho e acrescenta um dia de folga ao fim do mês. Tem havido problemas com os trabalhadores, pois têm família e necessitam do domingo para descansar. Suponho que muitos deles são católicos e gostariam de poder cumprir o dever religioso da assistência à eucaristia dominical. Em relação ao Dia do Senhor, o domingo, há diversas interpretações. A comum e normal é a de evitar o trabalho servil, nomeadamente ir lavrar para o campo, trabalhar na oficina ou carpintaria, pintar ou lançar massa nas paredes e outros serviços do género. Não é contra os mandamentos da Igreja cozinhar, visitar doentes nos hospitais, clínicas e casas particulares, praticar ações de caridade e solidariedade social, voluntariado. Diremos que a interpretação dos cristãos e da igreja em geral é humanística. Permite o descanso, a prática religiosa e o convívio familiar. E está de harmonia com os exemplos e palavras de Cristo relatados nos evangelhos. Cristo teve problemas, em bastantes situações, com os judeus, principalmente escribas e fariseus por causa do trabalho no dia santo, que para eles se celebrava e celebra ao sábado. Um dos exemplos é o da presença de Cristo numa sinagoga em dia de sábado, na Galileia. Estava lá um homem que tinha uma mão paralisada. E também estavam presentes representantes do farisaísmo. Cristo ordenou ao homem que se levantasse e perguntou aos presentes se era lícito no dia de sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la. Olhou com tristeza para certos rostos. Depois mandou ao homem que estendesse a mão, que ficou imediatamente curada. (Mc. 3,1) A narrativa refere que os Fariseus saíram e, com os partidários de Herodes, foram logo reunir um conselho contra Jesus, a fim de o fazerem desaparecer. Os judeus não realizam qualquer trabalho ao sábado, inclusive cozinhar. Tenho experiência pessoal, pois numa visita a Israel, em dia de sábado, na sala de jantar do hotel, não havia nada quente nem servente algum (havia comida fria). Costuma-se dizer que a virtude está no meio termo (in medio est virtus). “Nem tanto ao mar nem tanto à terra”. É assim a interpretação do cristianismo que praticamos. Para a maioria dos católicos, o problema, em assunto de prática religiosa e de fé, não é essa questão ideológica, mas a preguiça e o absentismo. Devemos ser católicos conscientes e praticantes. E os pais têm responsabilidade na educação religiosa dos filhos. Queremos uma igreja viva e atuante. Voltando à referência inicial, verifica-se nos dias que correm a preocupação do lucro. O objetivo primordial de certas empresas é o dinheiro. E diante dele, conculcam-se todos os direitos, inclusive o do descanso, o convívio familiar e o cumprimento do dever religioso. Somos seres humanos, compostos de corpo e alma e temos um horizonte que ultrapassa as barreiras do espaço e do tempo.
Autor: Manuel Fonseca
DM

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14 junho 2018