Um estudo italiano, incidindo sobre sujeitos com mais de 65 anos (Stendholm et al., 2011), mostra que passar demasiado tempo na cama acelera o declínio das capacidades físicas, em particular nos indivíduos saudáveis que declararam passar 9 horas ou mais no leito. Diferir os horários de vigília pode também implicar um isolamento pessoal, afetando negativamente as relações sociais.
Um outro estudo, muito profundo e sério, cujos itens foram analisados durante um período de quinze anos, agrupou a população-alvo em cinco modos de viver a reforma. Assim, o 1.º conjunto de idosos a que se deu o nome de “reforma de lazer” abrange 44% da população. São os indivíduos que investem uma parte importante do seu tempo em atividades de lazer. Aparecem como hiperativos sempre ocupados.
São curiosos de tudo e muitas vezes empenhados em novas aprendizagens. Mantêm estreitas relações com os seus próximos, não deixando de dar provas de forte sociabilidade. Trata-se de uma população maioritariamente favorecida no plano socioeconómico e, muitas vezes, profissionais qualificados. Gozam de boa saúde e é frequente serem casados. Manifestam uma forte satisfação quanto à sua reforma.
Um segundo grupo, chamado de “reforma convivial”, é constituído por aqueles que dão grande prioridade às relações sociais. São os mais sociáveis de todos, embora passem um tempo significativo ao telefone todos os dias, para comunicar com a família e com os amigos. Têm também atividades de lazer, mas consagram-lhes menos tempo que o grupo anterior. O mesmo acontece com a leitura e com as atividades culturais. Gozam de boa saúde e têm frequentemente rendimento médio. Pertencem, sobretudo, à classe popular. Os operários e os viúvos (as) estão sobrerrepresentados nesta subpopulação.
Um outro grupo, dito de “reforma intimista”, abrange as pessoas muito ligadas ao domicílio, dando uma grande importância aos trabalhos manuais, à bricolagem e à jardinagem. A televisão também ocupa um lugar relevante com um horário de cerca de 4 horas diárias. Estes reformados são aqueles que menos se aborrecem. As mulheres de baixo rendimento, os operários e as viúvas de longa data encontram-se aí sobrerrepresentados.
O quarto grupo é denominado de “reforma entrincheirada”. As atividades de lazer são reduzidas, predominando a leitura, nomeadamente a imprensa diária. Procuram pouco a companhia de outros familiares ou amigos. Contudo, declaram-se satisfeitos com a vida.
O último subgrupo (o menos numeroso – 9,5%) da amostra foi identificado como “reforma de abandono”. São pessoas socialmente muito isoladas. Leem pouco, veem menos televisão e não fazem férias. A sua perceção da reforma é negativa. Têm, frequentemente, baixo rendimento, bem como alguns problemas de saúde. Os operários, certos tipos de celibatários e os divorciados estão sobrerrepresentados neste grupo.
Em conclusão, nota-se que os fatores socio-económicos são determinantes na orientação da vivência da reforma. Parece também existir um efeito cumulativo das variáveis da vida diária. Os que conhecem as situações de vida mais difíceis, com baixos rendimentos e profissões pouco qualificadas, são também os que vão conhecer as condições de reforma menos favoráveis. No entanto, a vivência da reforma revela-se bastante variável de indivíduo para indivíduo.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes