Foi a Fátima como "peregrino da esperança e da paz". O silêncio em que longamente permaneceu, «acompanhado do silêncio orante de todos os peregrinos, criou um clima de recolhimento e contemplação, em que se desenvolveram vários momentos de oração. E no centro de tudo esteve o Senhor Ressuscitado, presente no meio do seu Povo na Palavra e na Eucaristia. Presente no meio de tantos doentes, que são os protagonistas da vida litúrgica e pastoral de Fátima».
Com a canonização de Jacinta e Francisco quis «propor a toda a Igreja o seu exemplo de adesão a Cristo e o testemunho evangélico, como também propor a toda a Igreja o especial cuidado que deve ter com as crianças. A sua santidade não é consequência das aparições, mas da fidelidade e do ardor com que corresponderam ao privilégio recebido de poderem ver a Virgem Maria. Depois do encontro com a 'Senhora tão linda – como assim lhe chamavam os pastorinhos –' eles recitavam frequentemente o Rosário, faziam penitência e ofereciam sacrifícios para obterem o fim da guerra e também pelas almas mais necessitadas da divina misericórdia». Ressalve-se como o Papa afirma sem medo que a santidade dos pastorinhos não é consequência das aparições, mas da fidelidade e ardor com que corresponderam a tal privilégio.
Na saudação na Capelinha, na noite de 12 de Maio, Francisco , mais uma vez, foi ao essencial: «Com Cristo e Maria, nós permanecemos em Deus. Porque, de facto 'se quisermos ser cristãos, temos que ser marianos, isto é, devemos reconhecer a relação essencial, vital e providencial que une Nossa Senhora a Jesus, e que nos abre para nós o caminho que a Ele conduz'», como já o afirmou Paulo VI em 24 de Abril de 1970.
Mas acontece ainda algo mais importante: «Cada vez que recitamos o Rosário... o Evangelho retoma o seu caminho na vida de cada um. Das famílias e do mundo».
Que significa ser 'peregrinos com Maria? Significa tê-la a ela como Mestra de vida espiritual, a primeira que seguiu Cristo pelo 'caminho estreito' da cruz, dando-nos o exemplo; e não em ver Maria como uma Senhora inatingível e inimitável. Significa seguir Aquela que é Bendita porque acreditou sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, e não uma 'Santinha' a que se recorre para receber favores a baixo custo. Significa seguir a Virgem Maria do Evangelho, venerada pela Igreja orante, e não uma Maria esboçada por sensibilidades subjectivas que a vêem segurando com firmeza o braço justiceiro de Deus, pronto para punir: uma Maria melhor que Cristo, visto como Juiz impiedoso, mais misericordiosa do que no Cordeiro imolado por nós».
E o Papa não tem medo das palavras: «Comete-se uma grande injustiça contra Deus e a sua graça, quando se afirma em primeiro lugar que os pecados são punidos pelo juízo de Deus, sem colocar antes – como bem o atesta o Evangelho – que os pecados são perdoados pela sua misericórdia. Devemos antepor a misericórdia ao juízo. De qualquer maneira, o juízo será sempre feito à luz da sua misericórdia. Uma misericórdia que não nega a justiça, obviamente, pois que Jesus tomou sobre si as consequências do nosso pecado, juntamente com o devido castigo. Ele não negou o pecado, mas pagou por nós na Cruz. E assim, na fé que nos une à Cruz de Cristo, somos libertados dos nossos pecados. Ponhamos, portanto, de lado qualquer forma de medo ou temor, pois não condiz com quem sabe que é amado».
Olhar com fé para Maria é acreditar na força revolucionária da ternura e do afecto. «Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos débeis, mas dos fortes, virtudes de quem não tem necessidade de maltratar os outros para se sentir importante. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros, é o que faz de Maria um modelo eclesial para a evangelização. Oxalá que cada um de nós se torne, com Maria, sinal e sacramento da misericórdia de Deus que perdoa sempre e perdoa tudo». E esta conclusão maravilhosa: «Senhor: a única possibilidade de exaltação que tenho é esta: que a Tua Mãe me tome pelo braço, me cubra com o seu manto e me coloque ao lado do teu coração».
Autor: Carlos Nuno Vaz