Continuamos a sentir-nos incomodados por (ainda) não podermos voltar aos nossos passos apressados.
Se alguma coisa a pandemia nos ajuda a perceber é que não é com pressas que conseguimos ver o que está a acontecer.
O «relógio» do mundo como que parou. E tanta coisa em nós jorrou. Será curial desperdiçar o que – uma vez mais – a vida nos quis ensinar?
Parece que em todos os lábios há soluções. Não parece, porém, haver predisposição para a escuta em muitos corações.
Será que estamos a apreender devidamente esta monumental demonstração da nossa fragilidade e incompletude?
Não será este o tempo de recorrer ao «andarilho», o arrimo a que deitamos mão quando sobrevêm dificuldades de locomoção?
Com o andarilho, a cadência é pausada e o ritmo é lento. Mas não é disso que precisamos neste momento?
Precisamos de dar atenção a cada passo que damos neste chão. A vida que levávamos – sempre a correr – nem nos deixava olhar para quem, nas margens, não encontrava um sorriso para acolher.
As pressas costumam derrapar em desastres.
Redobrar as pressas – a pretexto de recuperar o tempo perdido –levar-nos-á, talvez sem que em tal reparemos, a perdermo-nos irreparavelmente no tempo.
É hora de reconhecer que cada segundo conta e que cada pessoa vale.
Não podemos delapidar nenhum instante nem deixar para trás uma única pessoa.
Não é altura de acelerar, quais recriações de Pangloss, todos os vendavais de optimismo com que, infundadamente, nos acenam.
Mas também não é solução – como se regressássemos a Cassandra, Malagrida ou Calimero – irromper em lamentos e em vaticínios de derrocada irreversível.
Nem tudo ficará bem. Não deixemos, contudo, de «cuidar deste nosso jardim».
Mobilizemos os nossos ouvidos e «desconfinemos» – de vez – o nosso coração.
Os supersónicos chegam longe em pouco tempo. Só que agora, necessitamos de muito tempo para ver – e chegar – longe.
De andarilho também se anda. De andarilho também se reaprende a andar.
Eis, pois, uma metáfora para estes tempos de recomeço. O «andarilho» não satisfaz os nossos ímpetos velozes. Mas pode ajudar-nos a olhar para lá de nós.
E os passos que se movem mais lentamente podem transportar um saber decisivo para a génese de um mundo diferente: um mundo de irmãos. Não é este o (primordial) «sonho» de Deus?
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira