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Telefonemas de honra

Vem isto a propósito de uma “rubrica” criada recentemente, ao estilo de “quando o telefone toca”. Algumas pessoas de proveta idade e sócias do Sporting Clube de Braga têm vindo a receber chamadas, no mínimo, desconcertantes. Uma voz feminina, delicada e simpática convida estes senhores com muita experiência de vida, a fazerem parte da comissão de honra do atual presidente do clube e candidato ao mesmo cargo nas próximas eleições. No recato do seu lar este sócio pasma-se com a distinção.

Será que eu sou amigo dele e a memória já me está a pregar partidas? E enquanto a dúvida persiste pensam: quanta honra fazer parte da comissão de honra, quanta honra que o presidente saiba o meu número de telefone, quanta honra que o presidente se tenha lembrado de mim.

Mas, a verdade, é que no meio disto tudo há muito pouca honra. Usar dados do clube para comprar emoções de pessoas de mais idade, aliciadas com aquilo que se supõe ser a distinção de pertencer a uma comissão de honra, é revelador da fibra das pessoas que estão por detrás desta candidatura. E se para mim não existiria qualquer honra em pertencer à dita comissão de honra do senhor que encabeça os destinos do meu clube, é natural que alguns se sintam emocionados com o simples lembrar do seu nome para algo, esquecendo-se até que, por detrás da voz simpática que liga, está alguém a contabilizar votos, usando despudoradamente informação privilegiada do clube. 

Dir-me-ão que qualquer candidato na mesma situação faria o mesmo. Dir-me-ão que estou a ser ingénua. Dir-vos-ei que não e que não. Não, nem todos os candidatos fariam o mesmo e não, não estou a ser ingénua. Alguns têm causas, lutam por causas, outros lutam por poder e por tudo aquilo que o poder traz atrás de si. Há qualquer coisa de pornográfico nestes telefonemas porque são imorais, porque são indecentes.

Portugal ganhou à Hungria, Quaresma tem um novo corte de cabelo, parece que Cristiano Ronaldo vai ter gémeos, a FPF pôs um símio a comandar a claque da seleção. O que é que isto tem a ver com os parágrafos anteriores?

Nada, serve apenas para perceberem que eu podia escrever um texto politicamente correto, sobre tudo e sobre nada e que se coadunasse com os conhecimentos que a maior parte das pessoas acham que as mulheres têm sobre futebol. Escolhi não o fazer. Para que percebam que não há Messias e antes que as Brísidas Vaz desta cidade comecem a soprar a ideia de que há quem mereça ter o nome num aeródromo pelos feitos inolvidáveis que conseguiu para o clube. 

Aproxima-se a Páscoa. Cristo morre, Cristo ressuscita. Em Braga há um Salvador com medo de morrer. Em Braga há um Salvador com medo de não ressuscitar. Aproveitemos a Quaresma para refletir. Vão ver que chegam à conclusão que há ídolos com pés de barro. 

 

Autor: Ana Pereira
DM

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30 março 2017