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Os santos recebem honras depois da morte. Mas o mais espantoso é que muitos deles só receberam humilhações durante a vida. Acresce que essas humilhações eram acolhidas com serenidade e, às vezes, até eram procuradas com (arrepiante) avidez.
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Porquê? Os santos especializaram-se na «arte» de deixar de viver centrados em si, para passarem a viver completamente centrados em Cristo.As humilhações ajudavam-nos a «desamarrar-se» de si mesmos. Só Cristo contava. Eles como que se eclipsavam para que somente Cristo reluzisse (cf. Jo 3. 30).
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Alguns santos chegavam a ficar seriamente incomodados com os elogios. Santo António Maria Claret até defendia que «os elogios dos homens atraem a condenação de Deus».
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Santo Hilarião golpeava o peito com os punhos e insultava o seu corpo dizendo: «Burro! Não te alimentarei com cevada, mas com palha; esgotar-te-ei de fome e sede; submeter-te-ei ao calor e ao frio para que penses mais no alimento do que na concupiscência». Daí que se limitasse a ingerir algumas ervas e cinco figos por dia.
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São José de Cupertino costumava apresentar-se como…«Frei Burro».Só que a graça divina concedeu-lhe muita sabedoria. Houve inclusive um professor que testemunhou: «Ouvi-o discorrer tão profundamente sobre os mistérios da Teologia que nem os melhores teólogos do mundo conseguiriam igualá-lo».
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Depois de uma reprovação, o Reitor do Seminário terá dito ao futuro Santo Cura d’Ars:«Olha que os professores não te consideram apto para a ordenação sacerdotal. Alguns consideram-te mesmo “burro”. Como resolver esta situação?».A resposta tornou-se célebre: «Senhor Reitor, Sansão venceu mil filisteus com a queixada de um burro (cf. Jz 15, 15). Não acha que Deus pode fazer muito mais com um “burro” inteiro?»
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Apesar da rectidão da sua conduta, os santos não se livraram de insinuações malsãs.Ocaso mais aviltante — e, talvez, mais heróico — terá sido o de São Gerardo Majella, redentorista.
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Néria Caggiano, uma jovem que ele ajudara, acusou-o de a ter engravidado. Instado a pronunciar-se, Gerardo optou por nada dizer. À luz do princípio «quem cala consente», foi severamente castigado. Privaram-no de receber a Comunhão e proibiram-no de contactar com pessoas fora do convento.
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É claro que Gerardo sofreu horrores. A sua defesa, porém, foi apenas – e sempre – a oração e a tranquilidade de consciência.
- Mais tarde, a delatora, atingida pelos remorsos, desmentiu quanto dissera. E foi assim que São Gerardo Majella começou a ser associado às vítimas das calúnias. E também à protecção das mulheres grávidas.
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira