Quando estamos a pouco menos de dois meses das eleições para o Parlamento Europeu e com as Legislativas já no horizonte, impõe-se lançar um olhar sobre o país e avaliar as sondagens vindas a lume.
Os diversos estudos de opinião que têm surgindo apontam para grandes indefinições. Embora na sua maioria mostrem o Partido Socialista (PS) à frente nas intenções de voto, as últimas sondagens indicam que se encontra em perda em oposição ao que acontece principalmente com o Partido Social-democrata (PSD), que surge com uma subida significativa.
Em relação às outras formações partidárias com representação parlamentar, apenas é notória uma tendência de subida do Centro Democrático Social/Partido Popular (CDS/PP), correspondente à descida que é apontada à Coligação Democrática Unitária (CDU – PCP/PEV). Quanto aos novos partidos recentemente surgidos na senda política portuguesa, os números até agora apresentados indicam que a sua expressão é ainda muito baixa para poderem aspirar a ter eleitos.
Analisando com isenção e desprendimento estes resultados, parece-me óbvio aferir que “a procissão ainda vai no adro”, pois não dou por definitivamente adquirida uma vitória do PS, como também não vaticino um resultado tão pouco expressivo, por exemplo, para a Aliança de Pedro Santana Lopes.
Esta convicção baseia-se essencialmente no histórico dos últimos atos eleitorais, nas alterações do espetro partidário, nas transformações sociais do tempo presente e, principalmente, na avaliação que os portugueses devem fazer da ação governativa na legislatura que caminha para o fim.
No que respeita ao histórico dos últimos atos eleitorais, quem não se recorda das surpresas de Marinho e Pinto nas Eleições Europeias de 2014, ou de Assunção Cristas nas Autárquicas de 2017?
No que toca às alterações do espetro partidário, que repercussão terá a saída de Pedro Santana Lopes no PSD e quanto poderá valer eleitoralmente a sua recém-formada Aliança? E o que dizer das outras recentes formações partidárias, como a Iniciativa Liberal ou o Chega, sobretudo se nos lembrarmos do que está a acontecer na nossa vizinha Espanha?
Já no que concerne às transformações sociais do nosso tempo, que papeis terão a internet e, principalmente, as redes sociais na formação da opinião dos eleitores?
Não tenho dúvidas de que estas circunstâncias e as novas realidades assumirão uma importância crescente nas próximas eleições. No entanto, será a avaliação dos portugueses da ação governativa dos últimos quatro anos que mais pesará na hora de decidir.
Quanto a esta avaliação, há múltiplas questões a ponderar.
Deixando de lado a génese da formação do atual governo já muito debatida, importa essencialmente avaliar as terapêuticas aplicadas, os resultados obtidos, sem esquecer de analisar os efeitos adversos.
Fundamentalmente é esta avaliação que deve prevalecer. Proclamar o fim da austeridade e devolver salários subindo simultaneamente muitos impostos é em linguagem popular dar com uma mão e tirar com outra. Baixar o défice para 0,5 % do Produto Interno Bruto (PIB), aproveitando as benesses da política monetária do Banco Central Europeu, é uma atitude inteligente.
Contudo, fazê-lo também à custa do desinvestimento nos serviços públicos como Saúde e Educação é hipotecar o futuro de muitos portugueses. Na mesma linguagem, é deixar ruir o edifício por falta de obras de manutenção. Tudo prometer a diversas classes profissionais, sem acautelar as reais possibilidades de cumprir as promessas, é elevar as expetativas de largas franjas da população e depois arcar com o desânimo e a frustração das mesmas. É ainda na mesma linguagem, semear ventos para colher tempestades.
É evidente que nem tudo tem sido mau. O crescimento da economia, beneficiando de circunstâncias externas muito favoráveis, sobretudo à custa do turismo e das exportações, com a consequente redução da taxa do desemprego, é de enaltecer e de sublinhar. No entanto, com a alteração do panorama económico externo, dificilmente será possível manter esse incremento.
Do mesmo modo, a tão propagandeada redução dos passes sociais (Programa de Apoio à Redução Tarifária), apesar de ser uma medida de considerável alcance ecológico e muito simpática para os utilizadores, tem custos elevados para o Estado Central e para os Municípios e todos sabemos que terá de ser o contribuinte a custear mais esta despesa.
Enfim, olhando a realidade, escalpelizando as sondagens e outros estudos de opinião que vêm sendo conhecidos, digo que ainda estamos no prelúdio de importantes atos eleitorais e que até à sua consumação ainda muito poderá acontecer.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira