1. Está no Evangelho de S. João (13, 4-5; 12-17). Durante a última vez que ceou com os discípulos, a dada altura Jesus «levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura».
Lavados os pés dos discípulos e posto o manto, Jesus voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes:
«Compreendeis o que vos fiz?
Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora. Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros.
Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também». (…) «Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática».
2. Ser cristão é procurar ser presença de Jesus, onde quer que se esteja. A vocação do cristão é o serviço.
Ser cristão é saber servir todos, sem qualquer espécie de discriminação: os endinheirados e os desencamisados. A exemplo do Pai Celeste, que faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores (Mateus 5, 43-48).
Saber servir, vendo em cada uma das pessoas que serve um ser humano e um filho de Deus. Ver na pessoa que serve um irmão. Lembrado do que Jesus diz (Mateus 25, 31-45), fazer aos outros o que faria a Cristo, se em carne e osso O visse diante de si.
Saber servir, mas não de qualquer maneira. Servir com bons modos. Servir com alegria e boa disposição. Servir sem resmungar e sem mostrar qualquer forma de contrariedade. Servir com a perfeição possível.
Sempre que seja caso disso, disponibilizar-se para servir, poupando ao outro o trabalho de ter de mendigar.
Servir, respeitando a privacidade das pessoas e sabendo ouvir as suas confidências.
Servir com naturalidade; sem dar espetáculo.
3. Também é imperioso saber ser servido. Mesmo que «pague» o serviço, tratar o outro sem qualquer espécie de sobranceria. Ser servido vendo também em quem serve um ser humano e um filho de Deus.
Quem me serve é uma pessoa igual a mim. Não é uma máquina. Não é um criado, mas um irmão.
Já repararam no que seria se vivêssemos realmente a consciência de estarmos a ser servidos por filhos de Deus?!
Ser servido, facilitando a vida de quem serve e sendo compreensivo. Tendo a consciência de que quem serve também tem a sua sensibilidade. Também tem o direito de poder estar doente, de ser vítima de qualquer indisposição, de ter as suas preocupações.
Respeitando a quem serve o direito de nem sempre poder estar disponível e o direito/dever de descansar.
Ser servido sem esquisitices e exigências escusadas. Sem impor manias e caprichos. Sabendo dizer obrigado, depois de cada serviço recebido.
A capacidade económica de quem é servido não lhe confere o direito de de falar com maus modos ou de humilhar quem serve.
Ser servido, consciente de que a pessoa que serve tem no serviço que presta o seu ganha-pão, mas também lhe assiste o direito de poder fazer uma vida familiar normal. Não se diz que o trabalho é para a família e não a família para o trabalho?
Ser servido sem sovinice, gratificando devidamente, sempre que seja possível, a pessoa que serve. E se não puder dar outra compensação, que nunca falte uma palavra amiga, um sorriso franco, um gesto de gratidão.
4. Nisto de servir e de ser servido muita coisa mudaria se quiséssemos pôr em prática a doutrina que professamos; que aprendemos e ensinamos. Não tenho a menor dúvida. O «Compêndio da Doutrina Social da Igreja» deve, nesta como noutras matérias, inspirar o nosso comportamento. Isto sem esquecer o Evangelho, é evidente.
Autor: Silva Araújo
Servir e ser servido

DM
15 março 2018