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Será insistir demais? Talvez não!

Voltando mais uma vez à eutanásia, vou começar por aquilo que, para nós, é mais simples e mais claro. O simples e o claro é-nos oferecido de bandeja, através da etimologia da palavra eutanásia. A eutanásia é constituída, na sua composição, por dois elementos: o “eu ou o bem” e a palavra grega “thanatos” que significa morte. A partir daqui, define-se a eutanásia como o direito de matar ou de morrer por tal facto. Contudo, para certas filosofias e religiões, a eutanásia tornou-se um método destinado a abreviar o sofrimento ou a pôr fim a uma doença sem esperança. José Luís Peixoto, mencionado pelo distinto psicólogo M. Ribeiro Fernandes, no Diário do Minho, em 17/6/18, afirma que “a eutanásia representa uma agressão e uma rotura com os valores sagrados da vida: o povo português sempre acreditou no significado da morte como transição para uma vida futura, de acordo com a ressurreição de Jesus”. Estou completamente de acordo. Antes de prosseguir, vou debruçar a minha atenção e cultura sobre o facto “morte”. Como vejo e aprecio este facto? Sem entrar em, por vezes, inúteis contendas com outras maneiras lícitas de ver o significado da morte, vou afirmar que esta é a ressurreição natural do ôntico ser humano, liberto da união bio psíquica (a fisiologia e a representação) da sua estrutura existencial. Esta libertação da nossa união bio psíquica vai, através da determinação do Uno Transcendental, exigir a sua ressurreição, integração, conexão, união e congruência com o ôntico ser humano e com o Transcendente (Deus). Portanto, depois desta libertação, a nossa união bio psíquica integra-se no Uno Transcendental, sem roturas, agressões e isolamentos, formando Um, numa abertura mental e afetiva e integração em Deus. A não aceitação da eutanásia, para uns é por considerarem que é uma agressão dos pilares da cultura humanística do povo e seus valores da vida; para outros manifesta-se por ser oposta à conservação da vida; para outros manifesta-se através da autonomia, da liberdade e da responsabilidade que temos das nossas motivações, motivos, interesses, desejos, prestígios e domínios. A nossa vida existencial, em todas as suas modalidades, tem o seu radical fundamento no natural e ôntico ser humano. Provocar a morte, a rotura, o isolamento da vida existencial com a vida transcendental, o mesmo é que afirmar o desrespeito pelo nosso inviolável ôntico ser. Vou cantar, então, um glorioso Te Deum a Deus pelo facto do nosso ôntico e natural ser exigir, terminantemente, a sua ressurreição, a sua libertação da sua falsa autonomia e liberdade da nossa vida existencial, em todos os seus planos. Estou convencido, o tempo o dirá, que não é demais voltar a falar da eutanásia. Nota da Direção: Este artigo foi enviado para o Diário do Minho pelos familiares do Dr. Benjamim Araújo antes do seu falecimento. Publicamo-lo com autorização da família.
Autor: Benjamim Araújo
DM

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22 agosto 2018