twitter

Ser ou não ser democrata

Há uma verdade que muitos iluminados que por aí andam, sobretudo da política e dos partidos, precisa urgentemente de saber ou relembrar e que é: a democracia não se dá ou vende às pessoas como qualquer unguento milagreiro, em qualquer tipo de dose e em qualquer tipo de esquina, porque a democracia aprende-se, brotando de uma prática constante e construtiva com as demais pessoas e prioritariamente em atos e não em palavras.

Por isso, não se é democrata só porque, teoricamente, se sabe de cor e salteado, como o papagaio, o que ela é e se impinge em doses massivas aos outros; mas é-se democrata dando, dia-a-dia, o exemplo, o bom exemplo da solidariedade, da tolerância, da justiça e da verdade.

Estou mesmo em afirmar e em crer que não se é democrata só porque se o deseja ardentemente, para se estar na moda e à frente; mas, naturalmente, porque se cresce e se afirma, como as melhores e mais belas plantas, no melhor húmus e no mais fecundo ambiente ou seja no meio natural e social em que se vive.

E para sermos plenamente senhores desta verdade, não repugna aceitar que o próprio ADN com que se nasce transporta já sementes que bem cuidadas e tratadas influenciam o futuro político da pessoa; e, por isso, vemos frequentemente que filhos dos mesmos pais, nascidos, criados e crescidos no mesmo ambiente familiar e social serem tão diferentes politicamente.

Pois bem, o que por aí mais anda são falsos pseudo-democratas, geralmente bem-falantes, muito ardilosos ou pantomineiros, como diz o povo; e que se instalam nas estruturas partidárias, assumindo a linguagem e roupagem ideológica em voga, daqui partindo para a ocupação de cargos públicos locais, regionais e nacionais (basta pensarmos naqueles que, no dia 26 de abril de 1974, já não tinham nada a ver com o regime anterior que serviram e a que passaram a apelidar de fascista, intitulando-se de democratas de sempre).

Ora, estes pseudo-democratas atuam mais demagogicamente e por oportunismo do que pedagogicamente e por solidariedade, servindo-se da democracia e não servindo-a; e, então, democratas que são de ocasião e de conveniência, praticam uma democracia de funil, isto é, em proveito próprio e dos respetivos compadres, não curando nunca de saber se agem em prol do bem próprio ou do bem comum e, muito menos, que tipo de papel desempenham na consolidação e aprofundamento do regime democrático que dizem pomposamente defender; e, assim, acabem mesmo por ser os seus potenciais coveiros, não só pela desconfiança e desmotivação que criam nas pessoas, como também pela fragilidade e faciosismo que transmitem às instituições que lideram.

Todavia, porque é preciso que as pessoas saibam as linhas com que se cosem ou seja que saibam distinguir o trigo do joio (quem as serve ou quem delas se serve) e separá-lo convenientemente, aqui ficam duas verdades, duras como punhos, de Jan Linz:

Primeira Verdade - A principal causa da queda da democracia é a crise de confiança das pessoas na possibilidade de resolverem pacificamente os seus problemas;

Segunda Verdade - Aprincipal força da democracia resulta de as pessoas lhe descobrirem o seu valor em si mesma; quando as pessoas desistirem de ver nademocracia um meio para impor os seus próprios valores e descobrirem que ela é o melhor meio para que cada um possa ter os seus valores e possa tentar persuadir os outros, podendo embora não o conseguir, estão temos a democracia sólida.

Assim sendo, que os nossos políticos meditem nestas verdades e as ponham em prática, a fim de que a nossa democracia se torne mais autêntica, participada e participativa; e deixe de ser um meio de promoção de certas elites, jotas e jotinhas lutando por um emprego rentável e prestigiante ou seja por um lugar ao sol que, afinal, quando nasce não é para todos, mas só para aqueles que somente pensam e lutam pelo seu próprio bem e pela própria instalação na vida, independentemente do valor, da solidariedade e da verdade que possuem.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

DM

3 abril 2019