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Sentido crítico sobre o que nos informam

Recordo-me, na altura da última eleição para Presidente dos Estados Unidos da América – os antagonistas eram o actual morador da Casa Branca e a senhora Clinton –, a minha surpresa quando, ao consultar na Internet, o resultado dessas importantes jornadas eleitorais...

Interrompamos a narração e olhemos para aquilo que a imprensa e a generalidade dos “media” nos diziam. Trump era um candidato secundário e as portas do comando dessa nação não podiam ser entregues senão à senhora Clinton. Homem irreverente, desabrido nas suas opiniões, um empresário dinâmico, é certo, mas afastado da política americana, o que se esperava? Uma derrota evidente...

Alguns dias antes, porém, houve alguém ligado à informação que, tímida e com clara relutância, notificou uma eventual, mas sempre como hipotética e longínqua possibilidade, o triunfo de Trump. Tudo se configurava, pois, para a vitória esmagadora da candidata do Partido Democrático, a quem pertencia o então Presidente em exercício, Obama.

Voltando ao princípio deste artigo, dizia que, muito cedo, e com a profunda convicção de apurar de que maneira tinha o eleitorado americano rejeitado Donald Trump, abri a Internet... Procurei no lugar devido e, a princípio, pensei que me havia enganado e tinha aberto o ecrã em algum programa sarcástico, humorístico, onde se via Donald Trump assinalar a sua vitória. Procurei outros lugares, outras notícias, outras dimensões dos “media”, mas todos diziam o mesmo.

Alguns até parecia que davam a conhecer uma espécie de informação necrológica, tristonha, que mostrava, ao fim e ao cabo, o seu desapontamento e o seu luto de consciência, já que tinham, a priori, dado por assente aquilo que para eles era óbvio, não abrindo outras hipóteses a quem informavam. Parecia uma derrota dos principais meios de comunicação social, que noticiavam de forma monopolista uma vitória e tiveram de comunicar, afinal, que as suas previsões falharam redondamente.

Esta derrota, com tão amargo sabor, notou-se imediatamente nas informações que iam fornecendo. A figura do novo presidente nunca foi bem aceite desde então. Tudo o que ele faz e tudo o que ele diz é, habitualmente, um desastre político e uma enormidade de bom senso. Os escândalos ou excentricidades “trumpianos” são palco de crítica acérrima e até de chacota fácil.

Com isto, não queremos defender a sua figura. Apenas alertar que quem consulta os “media” não engula facilmente tudo o que eles nos comunicam diariamente. As mentalidades de esquerda e de direita, muitas vezes, são o apoio do teor noticioso. Por isso, nos indicam, como se fosse uma verdade, aquilo que julgam mais adequado ao que pensam.

Se é de esquerda, qualquer figura da direita tem tendência para ser retrógrada e desajeitada no que faz e no que diz; se, pelo contrário, quem informa é de direita, os personagens do outro lado são sempre perigosos e escravos dos preconceitos que as suas ideias e convicções determinam.

Cabe, pois, a cada um de nós, não aceitar de mão beijada o que se nos comunica. Deve haver sempre um sentido crítico bem fundamentado, por exemplo, ao socorrer-nos da Internet, ao lermos um periódico ou ao assistirmos a um noticiário televisivo. Quais as genuínas razões que originaram a sua comunicação? A forma como foram apresentadas corresponde exactamente à sua realidade factual? A pergunta de Pilatos a Cristo aprisionado é muito actual em relação ao que nos dizem os meios de comunicação social: “O que é a verdade?”(Jo 18,38).


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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19 agosto 2018