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Semana Santa, tempo de reflexão

Pelo segundo ano consecutivo, as cerimónias da semana em que se se celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus de Nazaré serão condicionadas pela pandemia de Covid-19. Não haverá procissões e outras manifestações de religiosidade popular, mas as celebrações comunitárias voltam a ser possíveis com as limitações que a situação exige, como o distanciamento social e o uso de proteção facial.

Com os condicionalismos impostos mas com igual devoção e a mesma fé, os católicos têm não só oportunidade de celebrar os momentos centrais da Semana Santa, mas também o ensejo de refletir sobre o tempo que vivemos e, sobretudo, como pediu o Papa Francisco, de dar atenção ao sofrimento de muitos dos seus semelhantes.

Sofrimento de milhões de seres humanos que viram muitos dos seus entes queridos morrer prematuramente e, muitas vezes, sem deles se poderem despedir condignamente; sofrimento de todos aqueles que perderam os seus empregos ou os seus negócios e, de repente, se encontram numa situação de pobreza com que nunca sonharam; sofrimento de tantos outros que forçados a um isolamento compulsivo e mergulhados na solidão têm vivido longos momentos de angústia e desespero.

Neste tempo dominado pelos efeitos de uma pandemia que ninguém esperava e de que não se sabe como irá evoluir, nesta quadra tão especial e propícia à reflexão, urge meditar.

Pensar nas possíveis origens da doença, na forma como rapidamente se espalhou por todas as latitudes, no impacto que teve em praticamente todos os povos e prever como será o futuro pós-pandemia.

Se a verdadeira origem do vírus SARS-CoV-2 continua a ser alvo de controvérsia e de muita especulação, não há muitas dúvidas que a mão do homem e as alterações climáticas, de que é o principal responsável, têm alguma responsabilidade no eclodir desta como de futuras epidemias e nas já bem evidentes catástrofes e desastres naturais que vão surgindo com cada vez maior frequência.

Nesta ordem de pensamento, que lições há a tirar?

Ninguém desconhecerá que, principalmente, a partir dos meados do século passado a industrialização e o crescimento exponencial dos diversos meios de transporte levaram a um constante aumento do consumo de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, com a correspondente produção de gases com efeito de estufa. Paralelamente, a exploração desenfreada de recursos minerais, a desflorestação de muitas áreas do globo e a consequente destruição de inúmeros “habitats”, quer de animais quer de vegetais e de outros organismos, tem levado rapidamente à extinção de espécies, constituindo uma machadada irreversível na biodiversidade. Se a tudo isto juntarmos a produção de lixos e resíduos e nos lembrarmos do seu papel no crescimento da poluição, teremos de uma forma muito resumida o padecimento que temos causado ao nosso planeta.

É tempo de parar para refletir!

Ninguém, por si só, tem a capacidade de mudar o mundo. No entanto, a alteração de muitos dos nossos comportamentos e o nosso modo de viver, depende apenas de cada um de nós.

Que esta pandemia que nos assola há tempo demais faça despertar a Comunidade Internacional e os seus líderes mais poderosos para uma realidade que deve ser encarada de frente, sem mais demoras.

Aqui e além, despontam sinais de esperança.

A consciencialização gradual das gerações mais jovens para os perigos das alterações climáticas, é um desses sinais.

O recente convite do Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, a cinquenta chefes de estado para discutirem este problema, é outro bom prenúncio.

Joe Biden, pela sua experiência, pela sua abertura de espírito e pela sua idade tem uma oportunidade irrepetível de deixar a sua marca na história da Humanidade. No pouco tempo que leva de exercício do poder tem dado mostras suficientes para que possamos acalentar a esperança de que poderá liderar as mudanças de que o mundo precisa.

Há que ter esperança!


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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30 março 2021