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Saída à campeão

Para além de uma maturidade anormal, que o fez despontar para os grandes do futebol europeu, conseguiu construir uma imagem extraordinariamente aguerrida, mas serena. Sempre manifestou postura e condições, que permitiram prolongar a sua carreira, conquistar títulos, mas também o respeito dos companheiros, treinadores e inclusive dos próprios adversários. Construiu uma carreira muito digna.

Prematuramente Tiago voou para outros campeonatos e despertou a cobiça de muitos clubes. Principalmente daqueles que adoptam medidas de prospeção de talentos, que não se resumem aos “olheiros”. Daqueles que fazem uma análise/avaliação exaustiva dos valores que sustentam a condição física, mas também de outros fatores de treino e de competição, como os fatores emocionais, os hábitos de vida e da personalidade. A sua forma de jogar potenciou o prolongamento da carreira, mas acima de tudo, por aquilo que me foi dado a observar, sempre foi um profissional exemplar, pela entrega ao treino e à sua equipa. Sem pressa, mas sem perder tempo. 

Como todos sabemos. as atividades competitivas são “perigosas” porque habitualmente conduzem à associação entre a vitória, o sucesso, à competência, e por oposição, a derrota à incompetência, o que poderá trazer, de facto, alguns efeitos muito nefastos. Tiago, no entanto, foi um dos jogadores que, por onde passou, deixou uma marca de qualidade, ganhou títulos e mais importante, foi assumindo uma posição de destaque, de liderança, nas equipas. Sem a exuberância de outros atletas, mas com a postura e a determinação de um campeão. O ponto menos positivo, e talvez, o menos conseguido, foi a saída apressada da seleção nacional.

A despedida do Tiago do Atlético de Madrid foi deveras impressionante, não só pela energia que foi passada pelos adeptos, pelo carinho, respeito e estima que demonstraram ao jogador e à pessoa, mas essencialmente como reconhecimento à conduta, carreira, entrega ao clube e profissionalismo do jogador português. 

O desporto é muito ingrato. Habitualmente, é uma atividade que transforma as pessoas em pontos descartáveis e substituíveis. Mas, é maravilhoso quando num momento destes, as bancadas se levantam e prestam o verdadeiro tributo a uma carreira. Ao minuto 88, foi comovente a comunhão entre o atleta, os adeptos, a sua família e fundamentalmente os fortes abraços, sentidos, de todo o grupo. Tiago deixou o relvado banhado em lágrimas e com orgulho colchonero. Foi impressionante!


Autor: Carlos Dias
DM

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26 maio 2017