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A pandemia do Covid 19 exigiu um regime excecional para a sua prevenção, contenção, mitigação e tratamento. A prioridade tem de ser prevenir a doença, conter a pandemia e salvar vidas.
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No quotidiano e no terreno vêm-se destacando os autarcas como protagonistas na resposta à pandemia, que se posicionaram na linha da frente no apoio e recolha de meios para assegurar a execução das medidas necessárias ao seu combate e emergência na saúde pública. Numa altura em que é notícia que metade dos ventiladores recebidos da China ficaram na capital, apesar do norte do país ter o maior número de infetados e o S. João no Porto ser o hospital que acolhe mais doentes, é compreensível a preponderância dos presidentes de câmara.
As cidades (municípios) que adotaram iniciativas de inteligência urbana estão melhor apetrechadas para promover a mais eficiente utilização de recursos a favor do combate ao coronavírus, através de mecanismos de recolha, armazenamento e processamento de dados que lhes permitem antecipar necessidades e colocar no terreno os meios com precisão, garantindo o cumprimento das máximas do ODS 11: sustentabilidade, inclusão, resiliência e segurança.
As cidades inteligentes encontraram aspetos inovadores para desacelerar o resultado do Covid 19 e para tornar o mundo mais próximo da segurança de alguns meses atrás.
Nas cidades mais afetadas da China foram implementados robôs avançados de patrulha 5G, fornecidos com cinco câmaras de alta resolução, que permite detetar um cidadão que não use máscara no espaço público e, usando termômetros infravermelhos em áreas públicas, medir a temperatura dos cidadãos num raio de cinco metros, 10 pessoas de cada vez, garantindo a rapidez, eficiência e a segurança pública, porque a própria medição manual da temperatura corporal comporta riscos para quem a realiza. No caso de alguém sem máscara ou alta temperatura ser detetado, um alerta é enviado aos decisores, sendo os dados substituídos por um hub centralizado para tomada de decisão.
Utilizando a tecnologia mais recente, a Coreia do Sul lançou um sistema de rastreamento on-line que copia os movimentos de pacientes com coronavírus usando imagens de câmaras de supervisão, transações com cartão de crédito do paciente ou através de telemóveis. Pode chocar com a privacidade de dados pessoais sensíveis, mas são medidas proporcionais adequadas nesta hora negra planetária.
Outro aplicativo de proteção à segurança de quarentena está a ser usado em cidades inteligentes, que permite às pessoas em quarentena ficar em contato com os responsáveis pelo seu caso. O GPS equipado no aplicativo mantém o controlo de sua localização. Simultaneamente garante que não quebram a quarentena.
Lançado em fevereiro o aplicativo Corona 100m da Coreia do Sul protege eficientemente pessoas saudáveis de pessoas infetadas, enviando um alerta para ficar longe da área visitada pela pessoa infetada. Quando se chega a 100 metros da localização do paciente o aplicativo emite um alerta, ajudando as pessoas a evitar locais perigosos. Foram criadas plataformas para obter informações sobre as áreas afetadas, permitindo evitá-las.
No cenário atual torna-se imperativo enfatizar a adoção de padrões universais para a partilha de dados. Tal movimento terá um impacto de longo alcance em várias cidades e territórios, de maneira mais segura e padronizada, de modo que os procedimentos com vista ao tratamento e cura possam ser replicados em várias partes do globo. Com um protocolo de dados colaborado, será possível ter um conjunto de dados maior, resultando em maior capacidade de processamento, especialmente com tecnologias que são alimentadas por ferramentas de inteligência artificial (IA). Por esse caminho será possível facilitar a deteção precoce, obter um diagnóstico mais preciso e fornecer melhores decisões de gestão urbana para aumentar a eficiência na contenção de vírus.
A aceleração do processo de transição digital por efeito da pandemia foi uma tendência apontada pelos participantes da primeira sessão do ciclo semanal SMART Portugal Webinars em 8 de abril titulada “A inteligência urbana como arma no combate à pandemia”. A liderança política da sua concretização será melhor entregue ao poder local.
Autor: Carlos Vilas Boas