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Requiescat in pace - que descanse em paz

Esta bem podia ser a lápide tumular encimando a tumba da geringonça, cuja morte há muito tempo anunciada, diariamente vai acontecendo; e, obviamente, porque este estrugido parlamentar, preparado por António Costa, muito antes do anúncio dos resultados eleitorais das últimas legislativas, e que, contados os votos, Jerónimo de Sousa abalizou ao soprar-lhe ao ouvido, só não forma governo se não quiser, nasceu torto e torto há de morrer. E, mesmo não ganhando as eleições, António Costa, contra a lógica vigente de que governa quem ganha, faz das tripas coração e da artimanha regra e, fascinado pela ânsia de poder, depressa giza um acordo político-partidário com o Partido Comunista Português (PCP) e com o Bloco de Esquerda (BE); e dadas as contradições e divergências ideológicas que existem entre tais parceiros, depressa o estrugido batizado é de geringonça que, segundo os dicionários, mais não é do que uma coisa mal feita e se escangalha facilmente ou seja não passa de uma caranguejola.

Pois bem, este derriço durando foi com infidelidades e arrufos à mistura, com mais aquelas do que com estes, como bem patente quase sempre foi nos debates parlamentares e na comunicação social; e os dois parceiros do trio namoradeiro, o PCP e o BE, pouco lucraram em termos de aprovação de legislação parlamentar, a não ser de algumas medidas fraturantes que funcionaram, apenas, como lubrificante da enferrujada caranguejola e nunca como vitórias das suas ideologias marxistas-leninistas, maoistas e trotskistas.

Até porque, se bem nos lembrarmos, as discussões parlamentares entre os três parceiros não passam de arrufos, depressa esquecidos e perdoados, como é de bom-tom ideológico do PCP e do BE, pois sabem que é, passo a passo, que se avança para a vitória final; só que António Costa sabia que impedir o acesso da direita à governação era o objetivo número um dos seus apoiantes, mesmo que pouco ou nada ganhassem com o namoro e, deste modo, dificilmente romperiam mesmo com o funcionamento desengonçado e pouco rentável da geringonça.

Ora, desta forma, nunca os tempos de antena foram tão pródigos para o PCP e o

BE, a ponto de diariamente venderem o seu peixe ideológico e, sobretudo, alimentarem o ego dos seus prosélitos; e fazendo demagogia, muita demagogia, dando uma no cravo e duas na ferradura, para deixarem que o primeiro-ministro, António Costa, leve avante a sua governação, apesar de contrária às suas intenções e reivindicações partidárias.

Daqui, resultaram dentro do PCP dissidências que lavaram à expulsão dos militantes que discordaram com as cedências e traições à política marxista-leninista; como igualmente no BE foi preciso que a troika das Marias acordasse na entrada individual nos tempos de antena para manterem a unidade de militantes e simpatizantes.

Ora, aqui chegados, é preciso recordar que, já em tempos, Catarina Martins afirmava que o acordo que existe teve uma conjuntura específica e não é repetível, talvez pensando num futuro ministério num novo governo minoritário de António Costa; e mesmo Jerónimo de Sousa, metendo a mão na consciência e pensando nas voltas que Álvaro Cunhal possa estar a dar na tumba com tamanha trapalhada, igualmente declarava que esta solução encontrada foi conjuntural e dificilmente se repetirá.

Agora, numa análise fria e racional aos frutos desta governação geringonçada, chegamos à triste conclusão de que o país está a colapsar, fruto do garrote financeiro que o ministro Centeno aplicou à Administração Pública, viciado como anda na descida do défice; e, mormente, ufano e inchado como a rã da fábula com o piropo de Cristiano Ronaldo das Finanças que lhe foi lançado pelo ministro das Finanças alemão e que o fez não pelos nossos bonitos olhos, mas satisfeito com o torniquete financeiro aplicado aos países do sul, como o nosso, despesistas, mandriões e mulherengos.

E a prova está no que acontece atualmente nas repartições e empresas públicas, nos hospitais e nas escolas onde a escassez de recursos materiais e humanos leva o caos aos serviços; e é o que, por exemplo, no momento se passa nas repartições para a obtenção do cartão de cidadão com enormes filas de espera e alguns meses para a sua entrega ou, mais grave ainda, com as listas de espera de alguns anos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para consultas e cirurgias, mesmo as oncológicas.

Por isso, porque nada de bom trouxe ao povo e ao país, embora se apregoe o contrário, que a geringonça morra e enterrada seja; e, como diriam os latinos, Requiescat in pace- que descanse em paz.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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29 maio 2019