Dou comigo em filosofias superficiais, aquele luxo a que nos podemos dar quando vamos ao campo para espairecer a alma e não para procurar o sustento do corpo. Onde estará tudo isto daqui a uma vintena de anos? Quem guardará a memória destes caminhos, destas fontes, destas árvores? Desfazem-se, debaixo desta terra, as raízes e as memórias dos antepassados. As nossas hão-de tombar longe destas, em parte incerta, que a vida de hoje é mais propensa à ruptura que à continuidade.
Já no pátio de uma casa de avós, meio absorta num torpor pós-prandial, chega-me a cacofonia de vozes da canalha, muito preocupada com a hipótese de nos termos esquecido dos carregadores dos tablets e com a falta de rede wi-fi.
Uma tragédia… Apetece-me, citando Molière, responder-lhes: Bem comido, a minha alma de nada quer saber. E nem os maiores desgostos a conseguem comover. Em vez de lhes atirar com esta, falo-lhes na possibilidade de dar um passeio a pé e de querer aproveitar para lhes ensinar o nome das árvores. Se é importante?! Claro que é importante! Como podem os meninos chegar a adultos sem saber o nome das coisas?
Lá aceitam, bem sabendo eu que é mais por um misto de educação e de falta de acesso à internet, que por qualquer súbito interesse na botânica. A expedição até que não correu mal: folhas de plátano, de figueira, de liquidâmbar, de choupo, de oliveira e de umas quantas mais que deixámos, a secar bem espalmadinhas e à sombra, entre as páginas de uma revista. Mais daqui a pouco, aproveitando que as crianças já estão entusiasmadas com a tarefa, lá faremos uma etiqueta com os nomes das árvores, o vulgar e o esquisito, em latim, pois claro!
Eu, entretanto, vou dedicar-me aos codessos, arbustos que dão nome a esta freguesia de Codessoso e que, de tão parecidos com as giestas, podem criar confusão aos olhos menos treinados. Os codessos (arbustos do género Adenocarpus) encontram-se, tal como as giestas, um pouco por todo o território continental. Comparativamente com as giestas, as suas folhas são de um verde mais vivo e com pecíolos (aquela parte que segura a folha ao ramo) mais compridos, sendo que as flores são mais pequenas e agregadas em espigas.
Se já tiverem surgido as vagens, hão-de reparar que, contrariamente às das giestas, que nos aparecem cobertas com alguma penugem, as dos codessos estão revestidas de umas protuberâncias glandulares acastanhadas. O jeito que me dava, agora, o acesso à internet para estudar melhor isto. Paciência!
Vou até acolá, dar um passeio pela antiga linha férrea do Tâmega. Talvez seja capaz de ouvir ainda, a ecoar nas costas do Marão, um daqueles apitos de comboio que, nas palavras de Ramón Gomes de la Serna, espalhavam melancolia pelos campos.
Autor: Fernanda Lobo Gonçalves