Têm na rua e nas redes sociais o palco privilegiado de contestação, conspiração e negação seja do que for – princípios, ideias, leis e, até, formas de vida; e ultimamente a negação da vacinação contra a Covid 19 foi o motivo encontrado para insultar, ameaçar, empurrar e apupar, quer o presidente da assembleia da República, quer o coordenador da task force, o vice-Almirante Gouveia e Melo.
Quem são, afinal, os negacionistas? Obviamente grupos extremistas, conspirativos, contestatários que combatem pela palavra e pela violência física o que entendem ser contrário aos seus padrões de vida – ao seu pensamento e à sua vontade pondo em causa a ordem, a lei e, consequentemente, a segurança de todos nós.
E este fenómeno tão perigoso e inconsequente é que, até um juiz, apoiante das manifestações negacionistas, se insurgiu com arrogância e forma ameaçadora contra os agentes da Polícia de Segurança Pública que faziam um cordão de proteção à porta do Conselho Superior da Magistratura onde ia ser ouvido, após suspensão de funções por se ter associado aos protestos; além do mais, esta atitude do juiz é, a meu ver, um mau exemplo público dada a sua condição de magistrado e, como tal, interprete, defensor e aplicador das leis de República.
Mas, então, somos um país de negacionistas e conspiracionistas? Desta forma e jeito, isto é, por ações e manifestações públicas violentas naturalmente que não pelo menos até onde nos conhecemos; todavia, não escapamos à tradição bem portuguesa do exercício da má-língua, seja nos bancos de jardim, nos bate-papos de esquina ou em tertúlias de café; e, sobretudo, na exercitação do tubo fonador como treinadores de bancada gizando técnicas e táticas futebolísticas e esconjurando as decisões e maquinações de árbitros e místeres.
Agora, se esta tradição lusitana não acarreta consigo mais do que simples verborreias e vozeios, já a ação dos negacionistas tende a abalar as estruturas organizacionais e defensivas do país; e, como extremistas e conspiracionistas que são, atentam contra a liberdade e a democracia como bens conquistados e defendidos pelos portugueses com sangue, suor e lágrimas.
Pois bem, sabido que a liberdade individual e a democracia são valores intrínsecos à natureza humana, não podemos consentir que sejam, assim, menosprezados e atacados por tais grupos extremistas cujos objetivos são, tão-só, o quanto pior melhor para a segurança das pessoas e respetivos bens; e, mormente, quando a causa da sua atual ação é negar a necessidade da vacinação contra um vírus altamente mortífero que já vitimou cerca de 18 mil portugueses e prossegue na sua condição de pandemia mundial.
Depois, é válido e persecutório saber que, até ao momento, a negação à vacinação ronda uns ridículos 3% da nossa população que chamada foi e em massa respondeu sim ao dever de cidadania na luta pela saúde pública de todos; ademais, segundo dados da Direção-Geral da Saúde, somos o país do mundo, neste momento, com mais vacinação completa.
Assim, o que se espera das entidades competentes de governação e segurança é mais intervenção musculada e exemplar sobre tais grupos sempre que exorbitem na sua atividade pública ameaçando a ordem e a paz estabelecidas; e, igualmente, para cortar cerce tais fenómenos extremistas se exige dos tribunais justiça mais célere e mão mais pesada, nem que para tanto se tenha que alterar a Constituição da República.
Agora, os políticos não devem ignorar que também eles, se não queremos ser uma república das bananas, sobretudo na linguagem que usam tantas vezes, agressiva, ofensiva e rasteira, deixem de se ser, assim, negacionistas e conspiracionistas, porque esta sua forma de ser e estar na vida política um mau exemplo é que pode ajudar ao recrudescer de fenómenos populistas, xenófobos e extremistas; e pensem no que ao Expresso, António Nunes, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo declarou: as recentes atitudes de um magistrado e as palavras inflamadas de manifestantes contra um alto representante dos órgãos democráticos do Estado fazem-nos pensar que este movimento (negacionista) está para durar e agravar a forma de expressão pública. O Estado, a polícia e as informações têm de se preparar para atividades ilegais mais frequentes e violentas por parte de grupos radicais que em alguns momentos tocam a subversão ou o terrorismo de contestação por causas indiferenciadas.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado