- 1. Ser cristão é «deixar de ser» para «passar a ser»: é deixar de ser (apenas) ele para ser Cristo nele (cf. Gál 2, 20).
Assim sendo, o cristão há-de procurar ser uma espécie de «reprodutor» de Cristo: como Ele foi, assim nós devemos ser (cf. Jo 13, 15).
- 2. Esta disponibilidade tem de ser por inteiro. Não pode ser fatiada, às parcelas.
Um Cristianismo selectivo não é um Cristianismo vivo. E, nessa medida, estará sempre longe de ser convincente.
- 3. Os cristãos de outrora — e, como eles, muitos cristãos de agora — compreenderam que, amando o mundo, Cristo entrou, frequentemente, em contradição com ele.
Aliás, isso já fora vaticinado por Simeão quando Jesus ainda era Menino. Ele iria ser no mundo «sinal de contradição» (cf. Lc 2, 34).
- 4. Mais. Era precisamente esse «sinal de contradição» que viria a fazer d’Ele a «luz das nações» (cf. Lc 2, 32).
Tenhamos presente que, segundo um dos relatos da criação, a luz é o maior contraste frente às trevas primordiais (cf. Gén 1, 2-3). Sem essa luminosa contradição, o mundo não deixaria de ser uma mórbida obscuridade.
- 5. Por aqui se vê como ser cristão é também – e essencialmente
– reproduzir a contradição de Cristo em relação ao mundo.
Estranho seria que os cristãos incorporassem a situação do mundo e se posicionassem em contradição para com Cristo.
- 6. A estranheza atingiria proporções insustentáveis quando praticamente ninguém se revê no que se passa no mundo.
Se não nos revemos no mundo, porque é que, tantas vezes, cedemos à tentação de absorver o mundo em vez de participar na transformação do mundo?
- 7. A resposta é simples. Porque queremos eximir-nos aos incómodos provocados pela contradição.
Nada fazer poucos problemas traz. Permite-nos sobreviver sem grandes contratempos. Mas, como pergunta Edgar Morin, «será que sobreviver é viver?»
- 8. Há que perceber que viver Cristo implica viver o Seu ser «sinal de contradição».
Dai que, embora nem todos acabemos martirizados, a Igreja seja por natureza «Igreja do martírio».
- 9. Jesus pagou com a vida o Seu ser «sinal de contradição». A muitos dos Seus discípulos de todas os tempos e idades aconteceu o mesmo.
Basta pensar no caso — não muito conhecido — do Bispo Potino de Lyon (século II). Com mais de 90 anos e já muito doente, foi brutalmente espancado e morto por se manter fiel a Cristo.
- 10. Também hoje e como alerta Josef Zvefina, não podemos «ser um sinal qualquer».
Só é verdadeiramente cristão quem se dispuser a ser «sinal de contradição». Pois só nesse sinal encontrará o mundo a paz e a salvação!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira