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Quanto vale o nosso voto

Ignoro se o meu amigo leitor sabe que, cada vez que vai às urnas e vota num partido político ou coligação, o seu voto vale 2,80 euros (dois euros e oitenta cêntimos): e estes 2.80 euros multiplicados por 4 que é o número de anos que, por norma, dura uma legislatura, transformam-se em 11,20 euros (onze euros e vinte cêntimos).

Ora, qualquer partido político ou coligação a partir de 50 000 (cinquenta mil) votos têm garantido esse montante por cada voto que lhe foi atribuído pelos eleitores; e, então, contas redondas e finais, com os tais cinquenta mil votos arrecadados, encaixa a bonita soma de quinhentos e sessenta mil (560 000) euros, ao fim dos quatros anos de legislatura.

Agora, pensando nos partidos que arrecadam, por exemplo, 2, 3 ou mais milhões de votos, eles recebem muitos milhões de euros; e, assim, somados os lucros dos dez partidos (PS, PSD, BE, PCP, CDS, PAN, VERDES, CHEGA, LIVRE e INICIATIVA

LIBERAL) atualmente presentes no Parlamento, imaginemos a pipa de milhares de milhões de euros que é como quem diz a dimensão do bolo que sai dos cofres do Estado ou seja dos magros bolsos de todos nós, mansos e generosos contribuintes.

Mas, então, será que tantos milhares de milhões de euros são para pagar o esforço, o sacrifício, a abnegação exigidos a quem faz, se envolve na campanha eleitoral? Não só, mas também, porque fundamentalmente esses carcanhóis são para que os partidos possam existir e sobreviver às custas e às costas de todos nós; porque só às custas e às costas das cotizações dos militantes e de uma ou outra dávida mais choruda, mas obviamente interesseira de qualquer mecenas, dificilmente sobreviveriam; mas, além disso, ainda à boleia de muitas alcavalas vindas de subsídios institucionais e benefícios fiscais abicham generosas quantias monetárias.

Todavia, pensando bem, isto é, com cabeça, tronco e membros, que lucros colhemos nós destes financiamentos aos partidos e coligações? Fundamentalmente o primeiro e evidente benefício ou lucro que daqui podemos retirar, e que, deste modo, pouco nos aquece, é a razão de ser da Democracia, pois a sua existência está dependente da existência de partidos políticos; mas só isso não enche barriga e, muito menos, faz a felicidade de qualquer povo.

Agora, aprofundando a questão: será que os partidos políticos e coligações têm sido dignos representantes da Democracia que temos e atores responsáveis e atentos na aplicação e uso dos princípios e exercícios democráticos? Será que eles servem a Democracia ou dela se servem para interesse próprio ou dos amigos e compadres?

Pois é, muitas vezes nos interrogamos se os partidos políticos e coligações que temos e subsidiamos nos representam e defendem como precisamos e merecemos; ou facilmente constatamos que mais não são do que verbos de encher que, uma vez alcançado o assento no Parlamento ou nas cadeiras do poder executivo, mais se preocupam e dedicam à satisfação de seus interesses e ideologias próprias do que aos interesses, carências e necessidades do povo.

E daqui resulta obviamente a indiferença, o desinteresse, o alheamento e o descrédito com que a maioria do povo brinda a sua atividade, dedicação e desempenho diários e mais grave e desprestigiante ainda, com o virar de costas e a abstenção aos atos eleitorais, sempre em crescendo.

Depois, qualquer cidadão consciente, bem pensante, independente e responsável sabe que os partidos políticos e coligações se esquecem facilmente das obrigações que têm para com os eleitores e só deles se lembrando quando se aproximam os atos eleitorais, passando-lhes as mãos pelas costas e prometendo mundos e fundos que nunca se realizam; e que a atuação de grande maioria de políticos deixa muito a desejar, sobretudo com a forma como enfrentam a verdade de muitos casos de polícia e de justiça em que se encontram envolvidos, respondendo: não tenho conhecimento, não sabia, estou surpreendido, numa clara demonstração de amnésia saloia.

Enfim, se temos de subsidiar com o nosso voto estes partidos e coligações tão desacreditados, tão inaptos e desvalorizados vai sendo tempo de reformar profundamente a Democracia, por dentro e por fora; e, até, para que se possam travar os avanços preocupantes dos extremismos e populismos, quer de extrema-esquerda, quer de extrema-direita já tão evidentes e consequentes demais.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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29 janeiro 2020