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Quanto ganha um deputado

O que de pior pode acontecer a qualquer povo é viver na ignorância; e, muitas vezes, são os próprios políticos que a deixam vicejar e, inclusive, a promovem; até porque sempre foi mais fácil e cómodo governar e dominar um povo ignorante, acomodado e indiferente o que acontece quando lhe recusam o acesso à informação ou lha servem deturpada ou embrulhada em pacotes cor-de-rosa. Ora, num tempo em que a pós-verdade vai ganhando terreno e se transforma numa arma perigosa para a própria sobrevivência pacífica da sociedade, a ação política dificilmente resiste ao seu poder de persuasão e dominação; e, como não podia deixar de ser, a maleita anda por aí à solta e vai dando os seus frutos, como se comprova quando se afirma que uma mentira muitas vezes repetida acaba por se tornar verdade. Mas, voltemos ao problema da ignorância ou à falta de informação em que frequentemente vivemos. Por exemplo, o meu amigo leitor sabe qual é efetivamente o vencimento de um deputado? Obviamente, não é mais importante o seu montante do que os sítios que a ele conduzem. Segundo o que Ascenso Simões, deputado socialista pelo círculo de Vila Real, escreveu na sua página do facebook, no mês de abril recebeu sete mil e quinhentos (7500) euros, esclarecendo que cerca de metade deste vencimento mensal diz respeito a subsídios de alimentação e alojamento, senhas de presença e todo o tipo de apoios para deslocações de casa para o Parlamento e vice-versa ou seja de Lisboa para Vila Real e de Vila Real para Lisboa e, ainda, para visitas feitas aos eleitores e pelo país; e mais disse que o valor referente a tais subsídios não é sujeito a impostos (Jornal de Notícias, 2018-04-24). Pois bem, como já anteriormente referi, o que está em causa não é o montante (oxalá que todos os portugueses usufruíssem mensalmente de tais e tantas benesses, engrossando o vencimento que levam para casa), mas a inoportunidade do seu usufruto, quando o país vive em dificuldades económico-financeiras e, sobretudo, quando a pobreza e a luta pela sobrevivência afeta mais de 2 milhões de portugueses; e esta realidade devia servir de alerta para a ausência de equidade e justiça social que vai tardando na nossa vivência democrática. Depois, os privilégios de que goza este grupo de portugueses que, afinal, são eleitos para defender os seus eleitores (nos seus interesses, necessidades e aspirações) tornam-se obscenos e absurdos; e acresce a esta injusta realidade a verdade, nua e crua, da maioria dos trabalhadores, mormente da Administração Pública, que não beneficia de tamanha dose de subsídios e demais alcavalas, como sejam verbas por exclusividade de funções, para combustível, portagens, desgaste de viatura, refeições quando visitam os eleitores do seu círculo eleitoral; e mais obscena e absurda é a situação, pois quem faz e aprova esta legislação é quem vai dela direta e exclusivamente beneficiar. Tem-se frequentemente manifestado a necessidade e urgência de credibilizar e moralizar a vida política tão criticada e desvalorizada pelo povo; e uma das medidas que se aponta é a redução do número de deputados (239 atualmente), pois tal redução não afetava a normalidade e eficiência funcional do Parlamento; e, sobretudo, permitia uma poupança assinalável na despesa pública; mas, ironicamente, os partidos políticos, mesmo os que se dizem acérrimos defensores do povo e das suas condições de vida, nem querem ouvir falar de tal coisa pelo receio de perderem vez e voz na arena política nacional. Pois bem, lá que não queiram perder presença na vida política nacional ainda se pode aceitar, agora não quererem pôr fim a tais privilégios absurdos e obscenos face à maioria do povo, não dignifica nem revitaliza o regime democrático que dizem defender. O que nos leva a praguejar: - Porra, vai cá uma nortada! Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
DM

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9 maio 2018