Entre os seres humanos, como um ser reformador que sou, não me quero apresentar como o maior rejeitador de tudo, em todos os tempos. Apresento-me com os odores da satisfação de quem procura professar, cabalmente, uma evolutiva e ajustada superação, através da sua inata autonomia, da sua inata liberdade e da sua imanente responsabilidade.
Como um passarinho implume que, ainda no seu fofo ninho, espera esfomeado pela bicada dos seus progenitores, também espero o baluarte intemporal, fomentador da evolutiva superação, a dinâmica reformadora de toda a existência humana para alcançar o verdadeiro sentido da vida e a melhoria das suas condições bio psíquicas.
É a existência humana, por intermédio da pessoa, que vai pedir a água ontológica e batismal da sua purificação. Esta existência tem de ser superada e purificada das suas contingências, dos seus relativismos, das suas instabilidades, mudanças e roturas. Esta temporal existência tem de ser purificada e superada das ditaduras sociais, da mão pesada e disciplinadora das Igrejas, da política incongruente, das astúcias economicistas e das interesseiras chantagens, incentivadas pelas mãos dos poderosos. Esta existência tem de ser purificada e superar as estruturas dominadoras das Constituições disciplinadoras e castigadoras. Esta existência tem de ser purificada das estruturas dominadoras do conhecimento, das rebeldes emoções e afetos, das motivações, das injustiças comportamentais, da força bruta, dominadora, carente de espiritualidade e de reflexão. Tudo isto para ganhar um cintilante prestígio de liberdade, justiça e humanidade.
E qual é o baluarte da evolutiva superação? É o natural e ôntico ser constituído, na sua substância, pela espiritualidade corporizada, una, transcendental e relacional.
Desta espiritualidade corporizada vão sair duas possantes vergônteas: a do indivíduo e a da pessoa.
O indivíduo, na sua individualidade, vai exigir, categoricamente, de si mesmo, que as suas especificidades sejam cumpridas por força do seu dever e que o meio ambiente (interno e externo) esteja, para tal, francamente disponível, missão que compete aos partidos.
A pessoa, como emissária do seu ôntico e natural ser, vai, imperativamente, com fundamento nas relações transcendentais de Bem, exigir, por dever e por direito, o estabelecimento de relacionamentos concretos e universais, consigo mesma, com o outro, com o mundo e com Deus.
O ser humano está, assim, por decreto da indivisibilidade do indivíduo e do relacionamento da pessoa, obrigado a impor à existência a sua autonomia, liberdade e responsabilidade e de abdicar do troante e folclórico partidarismo, a favor da congruência, da integração e conexão da existência com os imperativos universais e concretos do ôntico e natural ser humano.
Há um cancro maligno no espírito dos partidos, quer entre os partidos quer dentro de cada partido. O cancro é a separabilidade. E, embora se unam, continua a permanecer a permanente rotura, agora com o ôntico e natural ser humano.
Todos os partidos, em uníssono, têm de ser congruentes com o ôntico ser humano, para que exista uma dinâmica reformadora. Se tal não acontece, então “a luz passou pelas trevas, mas as trevas não a aceitaram”, como afirma a Bíblia Sagrada.
Autor: Benjamim Araújo
Por uma dinâmica reformadora dos partidos

DM
18 abril 2018