Muitas pessoas que desempenham cargos com certa responsabilidade, quando vem a propósito, passam a vida a apregoar a defesa da justiça e da solidariedade. Só que, mal viram as costas ao evento que os obrigou a assumir essa posição ideológica, tudo é esquecido e nada se concretiza nesse âmbito. A coerência é letra morta nas suas atitudes e nas suas obrigações.
No seu íntimo não mora qualquer sentimento de justiça e de promoção do bem-estar do povo. O grande móbil da sua vida está concentrado no interesse pessoal, já que a sua ação é desempenhada à luz do bem particular. Atuam apenas movidos pelo apego ao poder, arrastando os seus correligionários nessa onda de jogos meramente interesseiros.
Nem o futebol escapa a esta sêmita sugadora do património coletivo. Não são respeitadas as leis basilares do amor e da justiça que são intrínsecas à natureza humana. Elas constituem a filosofia subjacente a todas as outras.
Quando praticadas, enchem os corações de bondade, seriedade, imparcialidade e equidade. O amor e a justiça são os elementos que unem todas as partes integrantes do homem e se manifestam, tanto na vida pessoal, como na social.
Com a defesa do amor e da justiça, muitos dos problemas que afligem a humanidade seriam resolvidos a contento de todos. Nestas circunstâncias, não haveria lugar ao insulto, ao ódio, ao desprezo dos outros, à exploração do próximo, às guerras, aos conflitos de qualquer espécie, às ondas de refugiados e ao seu abandono.
Quem praticar a justiça e se alimentar do verdadeiro amor cultivará um sentimento íntimo de alegria profunda, sólida, permanente e invencível. O amor produz uma alegria que respira quietude, paz interior, dedicação e serenidade.
O ódio pode disseminar uma euforia momentânea intensa. Mas a euforia apenas carrega inquietude, agitação, arrogância, antipatia e desassossego. As coisas mais nobres exigidas pela essência da natureza humana são o amor e a justiça. Amar e ser amado constitui a maior felicidade na existência humana.
E como se praticam o amor e a justiça? No fundo, operam-se pela competência, pela coerência, pela bondade, pelo respeito, pela solidariedade, pelo altruísmo, pela isenção, pela atenção às diversas situações, pela paciência, pela compreensão e pela confiança. Cada um nasce com capacidade para o amor e a para a justiça que pode sanar muitas maleitas pessoais e sociais.
Os sinais visíveis do amor são incontáveis e, muitas vezes, praticados de uma maneira recatada. Amor é o cobertor aconchegado a uma criança adormecida; é a dádiva a um sem-abrigo ou a um necessitado que procuramos ou nos aparece no dia a dia; é uma palavra amiga ou de conforto dada a um doente; é um raio de luz através de uma vidraça colorida; é uma infinidade de coincidências que resolvem muitas situações negativas sem que muitos se apercebam disso.
Nós somos feitos de maneira a não podermos ser totalmente felizes se não compartilharmos com alguém as capacidades que possuímos. Mesmo quando estamos sós podemos amealhar as coisas agradáveis na esperança de, mais tarde, as partilharmos com aqueles que amamos. O amor dura a vida inteira e adapta-se a todas as idades e circunstâncias.
Por muito que pensem o contrário, há tantos homens que continuam sem ver que a causa de todas as suas tribulações está dentro de si mesmo. O cerne da vida é a prática do amor e da justiça. O homem anda mal relacionado consigo próprio; está dividido por conflitos internos que, muitas vezes, o tornam infeliz pelo facto de não ter sabido controlar essa luta endógena nem ter desempenhado cabalmente as suas funções pessoais, familiares e sociais.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes