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Nunca devemos agredir ninguém. Muito menos, aqueles que fazem o bem. Acontece que, por uma psicopatia que só as profundezas mais inacessíveis explicarão, há quem agrida mais facilmente quem faz o bem do que quem pratica o mal.
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Basta olhar para Jesus, que passou «fazendo o bem» (Act 10, 38). Mas foi precisamente por causa do bem que sofreu tanto mal. Antes de ser morto, foi julgado, vexado e barbaramente agredido.
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Cuspiram no Seu rosto, deram-Lhe bofetadas (cf. Mc 14, 65) e flagelaram-No (cf. Mc 15, 15). Não satisfeitos, puseram-Lhe uma coroa de espinhos e bateram-Lhe com uma cana (cf. Mc 15, 18).
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Jesus não deixou de mostrar a Sua perplexidade. Ainda no decurso do julgamento, confrontou quem O maltratava: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, porque Me bates?» (Jo 18, 23)
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Já anteriormente, fora alvo de tentativas de apedrejamento (cf. Jo 8, 59; 10, 31). Havia quem não suportasse o que Jesus fazia. Mas Ele teve o desassombro de apontar o motivo. Era pelas «boas obras» realizadas que as pedras Lhe eram atiradas (cf. Jo 10, 32).
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É claro que não faltou quem ripostasse a Jesus alegando que não era pelas Suas «boas obras» que O queriam apedrejar (cf. Jo 10, 33). O supremo desaforo da astúcia é trocar o bem pelo mal, não faltando sequer o topete de chamar mal ao próprio bem.
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Como sucede a quem ama o feio (bonito lhe parece), também quem está encharcado no mal acaba por tomar o mal como seu único bem. É uma espécie de «Síndrome de Estocolmo» moral. O contacto prolongado com o mal leva, muitas vezes, a ficar contaminado pelo mal, tingindo-o com «tintas» de bem.
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Os tempos que correm continuam a ser férteis em «apedrejamentos» gratuitos. Há quem se esmere em «atirar pedras» pelo bem que se espalha e pela bondade que se semeia.
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As redes sociais estão cheias de sonoras «pedradas digitais». Assim sendo, devíamo-nos preocupar não só com a protecção dos nossos dados, mas sobretudo com a dignidade dos nossos actos.
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Estanquemos, de vez, as enxurradas do mal. E paremos de «atirar pedras» aos que ainda vão inundando o mundo com torrentes de bondade, de verdade e de beleza. Afinal, porque é que o bem irrita tanto?
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira