Há uma discrepância assinalável entre o que dizem e o que fazem. Como vivem e como se manifestam. Esta é a verdade. A tribo da esquerda, da esquerda nacional, alguma caviar, é singular e de uma desfaçatez que causa engulho ao mais pacato dos cidadãos deste país. Eles julgam-se os patrulheiros do politicamente correcto; eles são os "donos" dos trabalhadores e do nosso povo; eles armam-se em defensores das causas públicas e do estado social; eles são os pais da democracia e do SNS; eles são tudo e mais alguma coisa. Os outros, talvez a maioria, são apelidados jocosamente de neo-liberais e fascistas. De xenófobos e racistas. De reaccionários e oportunistas.
Nas desgraças nacionais, quando exigem responsabilidades, ouvem de rompante que estão a fazer "aproveitamento político". Esta esquerda, devoradora de sapos, não aceita ser chamada à pedra. Estão acima de todas as suspeitas e apresentam um pedigree de arrogância que metem asco ao mais insensível dos mortais. Ao ponto a que a política chegou. Impensável! Mas, é só neste país, porque na Europa, a estirpe social-comunista desapareceu por esmagamento eleitoral como força política de nomeada.
1 – Tomemos em consideração o caso do relatório dos fogos. Este relatório demonstra a cabal incompetência e a irresponsabilidade desta geringonça que, num país a sério, dava azo a colocá-la a milhas da esfera do poder. Mas, perante a tragédia que vitimou mais de cem pessoas, exigem-nos o silêncio e a cumplicidade. Não se pode falar, nem criticar, porque, diz a tal esquerda, que é fazer aproveitamento político. Se a "direita perigosa" tece a mais leve crítica, os mensageiros da ética republicana e das causas sociais vêem logo em correrias loucas abafar as vozes que se levantam. O que se passou em Pedrógão e nas Beiras em Outubro não pode ser nunca esquecido. Não é com campanhas de propaganda encenadas pelos membros do governo na limpeza da floresta, vestidos a rigor, que podem abafar os gritos e os choros das pessoas que assistiram à tragédia e que deixaram nas cinzas as suas memórias, os seus sonhos e as suas vidas.
2 – Morreu assassinada uma vereadora no Rio de Janeiro, alegadamente às mãos das forças policiais. Aqui, a esquerda já pode tecer os mais assanhados comentários e opiniões que já não é aproveitamento político. Acusa a eito para endeusar a jovem "activista" como mártir da causa dos favelados. Até poderia ter sido uma morte gratuita e violenta. E uma morte perpetrada com estes artefactos é sempre um acontecimento triste, revoltante e condenável. Mas, no próprio Brasil morreram assassinados mais de 40 autarcas em 2017 e as vozes do politicamente correcto não se fizeram ouvir, assim como na Venezuela em que a oposição é sujeita às maiores arbitrariedades e sevícias e a mesma esquerda fica no mais completo silêncio. O mesmo se passa por este mundo fora, onde tem acontecido casos verdadeiramente chocantes de violações, de atentados à vida e de outros crimes hediondos e mais uma vez a nossa esquerda se cala.
A vida das pessoas não será um valor supremo da natureza humana e divina, independentemente do credo religioso, da opção política e da condição sócio-cultural?
3 – Continuo a pensar que este país tem ainda uma herança feudal e oligarca no seu ADN histórico. Não há volta a dar a esta sina que tem tolhido o presente e o futuro do país em se afirmar no contexto europeu. Damos demasiados tiros nos pés e somos peritos em dar um passo à frente para depois dar dois passos atrás. Tem sido assim. Não é por acaso que já tivemos três resgates financeiros com as consequências desastrosas que daí advieram. Consequências que se revertem em mais atraso, mais pobreza, mais dificuldades para todos e menos expectativas de um futuro mais calmo e promissor. Vem isto a propósito de duas realidades que nos dizem respeito muito directamente: o défice público e a dívida pública. O défice está controlado à custa das cativações, do aumento colossal da carga fiscal e do desinvestimento público. (Visão e prática neo-liberal). A dívida continua a galopar sem rédeas e sem comando. Já estamos nos 246 mil milhões de euros. (Visão e prática socialista). Uma enormidade, claro! Mas, o pior, é que, as pessoas entram neste jogo do endividamento como se isto fosse uma brincadeira de adultos irresponsáveis e imaturos. E depois, é um problema e logo se verá. Espantoso, não é?!
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto

DM
11 abril 2018