Ponto um - “Portugal dos pequeninos” - Somos mesmo “pequeninos”. E não me refiro àquele espaço do imaginário fantasioso para a criançada. Aquele espaço multi-etário de diversão e de aprendizagem baseada na observação táctil e visual em que a diferenciação regional está bem patente na monumentalidade, em ponto pequeno, que existe das localidades representadas. Aquele espaço revestido de alguma magia, tipicamente infantil, e disponível a ser partilhado e tocado nas formas, na textura e na história de diferentes épocas e regiões. Sim, aquele espaço vivo que marca quem o visita para mais tarde ser objecto de dimanações memoriais que ainda alimentam mentes sonhadoras.
Ponto dois - Portugal dos graúdos - Outro território. Este inóspito, por vezes cruel, de luta política desenfreada em que os graúdos recorrem a instintos primários e sectários, a chantagens inaceitáveis e a alianças inauditas, também a promessas inconsequentes para apanharem e controlarem o poder, não importando como esse poder será exercido.
A democracia, como regime tolerante, tem perdido o seu élan moderador e é, hoje, o palco idealizado de crispação permanente e de supremacia abusiva da linha esquerdista sobre as outras orientações ideológicas. É essa esquerda, dona absoluta da democracia que quer impor o seu modo de ver a vida, formatar os nossos comportamentos e permitir esta ou aquela corrente de pensamento. Não aceitam desafinações ou desvios. Quem ousa desafiá-los, os rótulos vêm a seguir e com estrondo: fascista, reaccionário, xenófobo, racista, neoliberal e ainda outros mimos.
Ponto três - Portugal dos enjeitados - Nesta história das politiquices o que importa é ter o poder para dar guarida à vaidade pessoal e ao nepotismo. Uns, os da consanguinidade e os amigos, recebem as prebendas do sistema; os outros nem na fila ficam. Uma realidade que se consolida e em expansão num regime que defende as tais igualdades.
Os actos eleitorais são as representações claras destas vivências que se definem com o “não me quero ralar mais com isto tudo” e “nem passo chapa a essa gente” que se consubstanciam com a galopante abstenção e com a sentida apatia. O desencanto dos “enjeitados” por esta coisa chamada democracia é tão evidente que se revê na fraca participação eleitoral e na mobilização incipiente de novas adesões aos partidos políticos, apesar das mordomias que daí poderão advir para benefício próprio. O caso da militância do PS, um partido hoje e quase sempre no poder, é paradigmático desta tese, dado que mais de metade dos militantes socialistas têm mais de 50 anos de idade. Quer isto dizer que a renovação política não se faz como seria expectável. Este facto pode implicar a curto e a médio prazo a descrença e o desmoronar dos alicerces democráticos.
Ponto quatro - Portugal dos iludidos - Ainda há muita gente que vai alinhando, muito certinha e sem levantar muita ondas, no jogo politico-partidário para se poder safar no dia-a-dia. Os funcionários públicos (fp) e os pensionistas são aquelas fatias da sociedade nacional que mais alinham com o poder, particularmente se este apresentar uma narrativa de esquerda. Os fp, “privilegiados do regime”, são os servidores e os defensores deste sistema de coisas. Os pensionistas, por medo orgânico de perder a sua pequena pensão, estão sempre do lado de quem lhas paga. O poder sabe disso e disso tira partido eleitoral. Manter o funcionalismo público mais ou menos sossegado e dar umas migalhas aos pensionistas é garantir praticamente votos a rondar o milhão.
Ponto cinco - Portugal das ideologias - Somos um país com um pensamento político pobre. As elites políticas preferem vegetar à sombra das mordomias do poder do que contribuir para a necessária clarificação ideológica. Há um vazio de ideias capazes de mobilizar e de predispor os cidadãos à participação cívica, de modo a criar energias positivas para haver saltos sociais em direcção ao bem-estar e ao progresso efectivo. O cenário político nacional é praticamente o mesmo do que existia há dezenas da anos. Os actores são os mesmos e as ideias são também as mesmas. Marcelo, Costa e Ferro Rodrigues (p.e.) já existem nos poderes há demasiado tempo. Daí, a estagnação económica, a apatia social, o laxismo político, o marasmo cultural, a descrença na Justiça, a indiferença pelas Forças Armadas e a falência da Comunicação Social. Que falta faz um Medina Carreira para agitar as águas putrefactas.
Autor: Armindo Oliveira