Ainda há muita gente neste país, e eu conheço alguma e com formação “canudal” que acredita no Pai-Natal para salvar a economia nacional do desastre iminente neste período de sufoco sanitário. Acredita nas eurobonds. Acredita na “solidariedade” dos países do Norte. Acredita que não é necessário aplicar medidas restritivas para dar a volta à crise económica e social que está diante dos nossos olhos. Acredita que o país vai passar pelos “pingos da chuva”. Acredita!
Se estas crises não se resolverem em pouco tempo, numa legislatura, e por obra e graça de uma esquerda demagoga, a crise financeira irá aparecer de seguida com pompa e circunstância.
Ponto um - Para enquadrar e melhor perceber o problema convém citar o economista Vítor Bento: “Quando escolhemos reduzir o horário de trabalho na função pública em vez de investir no SNS ou quando se decidiu aumentar rendimentos em vez de reforçar certas “bases”, fizeram-se escolhas políticas das quais hoje temos que sofrer as suas consequências”. Este pensamento reflecte bem a irresponsabilidade e a leviandade que a esquerda assumiu na condução do país em direcção a um futuro mais intranquilo. O futuro a essa gente pouco importa. Preferem jogar no tabuleiro eleitoralista, na demagogia e nas ilusões do presente do que investir os parcos recursos de uma economia frágil, pouco produtiva e extremamente dependente do exterior, para encherem o peito de bazófia e de arrogância perfeitamente desenquadradas da realidade nacional, em produtos substanciais geradores de riqueza e de sustentabilidade.
Ponto dois - Diz o mesmo economista: “Passamos a vida a ignorar que temos um problema de dívida pública”. É verdade! Sim, temos uma dívida pública vergonhosa e incompreensível. Este assunto do endividamento parece que o atiramos facilmente para a sarjeta. É uma coisa que não é nossa e não nos diz respeito. Este é e será um problema dos credores como bem dizia em tempos o incrível esquerdista Pedro Nuno Santos. Cito outro dito que é uma outra máxima dos socialistas: “as dívidas não são para serem pagas, mas para serem geridas”. E neste ponto nada feito, porque a estratégia deste governo está bem patente no ADN deste partido.
Para recordar: em plena crise de 2008, Sócrates, em vez de tomar medidas para resolver ou atenuar o problema financeiro, optou em 2009 por aumentar a função pública em 2,9%. O dr. Costa pretende fazer o mesmo, apesar da crise económica que se avizinha. Defende ele: “O governo vai insistir nos aumentos dos salários na função pública previstos e manter o plano de admissões para o Estado”. Tal e qual! A mesma escola a mesma patetice e certamente os mesmos resultados de 2008. Há dúvidas?! Não. Com clareza!
Ponto três - O ano de 2020 despertou com a dívida pública a bater novo recorde: esta a passar a barreira dos 255 mil milhões de euros. Será que as pessoas não têm a noção deste número? Já a dívida privada aumentou 0,7%, situando-se na casa, agora, dos 730 mil milhões de euros. Se juntarmos as duas dívidas (pública e privada) o somatório aproxima-se do bilião de euros, que é “perfeitamente sustentável” como diz o mago Centeno. Já para o presidente do Lloyd’s Bank, Horta Osório, “basta a taxa de juro subir 2% para o desastre ser total”. E o referido banqueiro não põe de lado a hipótese desta taxa subir a curto ou médio prazo. Se isto acontecer, como ficará o país? Quem vai responder pelo desastre? Quem vai pagar a incompetência? Estas e outras questões deveriam ser colocadas pelos jornalistas e bem dissertadas pelos comentadores profissionais. Mas, uns e outros remetem-se ao silêncio. Porquê? Tanto silêncio...
Ponto quatro - O problema a curto prazo vai cair inevitável nas pessoas que contraíram empréstimos para o consumo e para a compra de casa. Embora haja as moratórias, tão propagandeadas pelo governo, os bancos não vão prescindir dessas receitas. Nem vão perdoar. De modo nenhum. Os devedores vão pagar e bem pelos empréstimos que contraíram. Se estas pessoas forem atingidas pelo desemprego ou pela baixa de rendimentos, as coisas vão se tornar ainda mais feias. No final, quem vai perder mesmo com os disparates cometidos é o país. E quem vai pagar estas leviandades são sempre os mesmos - os contribuintes. Ou não será?!
Autor: Armindo Oliveira