O vírus chinês continua presente, vivo e bem agarrado ao país. Numa tentativa desesperada, procura-se averiguar se o pico da epidemia já foi atingido para extrapolar outro diagnóstico e sossegar esta gente que vive enclausurada dentro dos seus lares. Pelos últimos dados, a curva da epidemia vai desenhando a forma de planalto, como eles dizem, sinal que o contágio e os seus efeitos são cada vez menores. Concomitantemente, há especialistas na matéria que se atrevem a avançar com previsões optimistas com a intenção de se abrirem as portas das escolas o mais cedo possível e para que a vida das pessoas comece a voltar à normalidade.
Ponto um - Depois do problema sanitário, que será resolvido dentro de pouco tempo, terá que se encarar bem de frente o “buraco” da economia com muito cuidado. Este sim, será uma tarefa exigente que necessitará de inteligência, de rigor e de determinação de um governo capaz e competente para lhe dar uma boa solução e de prazo muito limitado. Com um governo do calibre que está em funções no momento não se poderá esperar grande coisa, dado que é uma equipa cansada que, antes da epidemia, estando no início de uma legislatura, já apresentava sinais evidentes de desgaste. Desgaste próprio de um governo pesado e em fim de legislatura, como dizia e avisava, no tempo, Marcelo Rebelo de Sousa.
Ponto dois - Austeridade, quem a quer? Ninguém. Isso é ponto assente. Austeridade, contudo, é uma palavra maldita. Uma palavra endemoninhada. Uma palavra desprezível que é associada a um tempo de “dor e de sofrimento”. Foi uma estratégia imposta, concertada e firmada por um acordo entre socialistas nacionais o FMI e a União Europeia para se aceder a 78 mil milhões de euros de ajuda financeira. A sua execução, entretanto, foi liderada pelo governo de Passos Coelho que produziu efeitos positivos na economia nacional e numa única legislatura. Feito inédito! Difícil de se igualar. Curiosamente, foi o partido que levou o país à bancarrota, o mesmo que beneficiou do esforço e dos sacrifícios de todos os portugueses. Foi uma injustiça tremenda. Mas, na política não há justiça, nem reconhecimento, nem tão pouco gratidão. Na política, há politiquices. Há guerra suja. Há jogo de bastidores com punhaladas e com golpes baixos à mistura. Rui Rio que se acautele para sobreviver à “habilidade” do dr. Costa.
Ponto três - A propósito da ‘repugnante austeridade” - Alguns ditos recolhidos acerca da ruptura económica e social que se verificou no país em 2010. Diz Cecília Meireles do CDS - “Não faz sentido falar-se em austeridade. Temos de falar em recuperação económica”. Com sinal idêntico, diz Joaquim Sarmento do PSD - “Se em 2021 houver um défice, vai ter de haver medidas de consolidação orçamental. Prefiro falar de ajustamento e não de austeridade”. Diz João Paulo Correia do PS - “ A factura da crise colocará o PS não exactamente de acordo com o que era a governação presente, mas longe da austeridade”.
Poder-se-iam fazer outros registos de “gente importante”, mas não vale a pena maçar os leitores com esta narrativa. A verdade é que não há político que queira assumir, com frontalidade, medidas restritivas. E não assumem por cobardia e por incapacidade. Só por isso.
O inevitável aumento brutal de impostos que se prevê não é austeridade? Ou vão buscar o dinheiro a quem o tem acumulado? E se não pagarem aos credores, não será ainda melhor? Pelos ditos, ainda há gente que pensa que vai haver recuperação económica sem dor e sacrifício. Pois, está muito bem enganada, embora a crise não me pareça de dimensão superior.
Ponto quatro - O tempo da governação socialista com os extremistas foi, na minha perspectiva, um tempo muito propício para as galhofas, para as irresponsabilidades, para o “deixa andar a coisa que logo se vê o que dá”. A comunicação social ajudava à festa. Os bancos distribuíam foguetes e girândolas. O dr, Costa com os seus optimismos irritantes alimentava o frenesim e logo numa altura em que a degradação económica em 2019 já apontava fragilidades nas áreas da despesa pública (salários, pensões e Saúde) e nos riscos para a estabilidade financeira (créditos para a compra de casa e no consumo). Esta foi a avaliação feita em Fevereiro de 2020 na 11. visita do credor (UE -FMI) ao pós-programa de Ajustamento de Portugal.
Ponto cinco - Agora, com a crise sanitária, económica e social em expansão, o país entrará de novo em órbita recessiva na economia e no social, num processo de maior endividamento e de défices que obrigará este povo a um novo ciclo de “dor e de sofrimento”. O que se aproxima não vai ser resolvido com propagandas, com folclores, nem com mentiras. Nem com repugnâncias.
Autor: Armindo Oliveira