“Os homens deveriam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são.” William Shakespeare - Poeta, dramaturgo, considerado o maior escritor de língua inglesa - (1564 - 1616)
Ponto um - Se estivesse, cara-a-cara, com Ricardo Rio dir-lhe-ia, por certo, algumas coisas que não iria gostar de ouvir. Mas isso era o menos importante. Porque importante é o presente e o futuro da cidade e do concelho. Importante é a imagem que os bracarenses fazem hoje e farão deste autarca, quando sair do poder. Importante é Ricardo Rio ter a noção exacta do seu trabalho que se quer que seja, sério e competente, na função de Presidente de Câmara.
Não importa muito cumprir três mandatos e, no final, ter-se uma mão cheia de nada para apresentar. Pois, em pouco tempo, passa-se de notável para as calendas da história, como mais um que passou pelos Paços do Concelho. Outros há que fizeram coisas, é verdade, mas andam, agora, “escondidos” para ver se passam pelos pingos da chuva tal é o rasto negativo que deixaram no exercício das suas funções. E este papel não gostaria de ver o actual presidente da CMB a representá-lo.
Ponto dois - Um eleito deveria sentir orgulho de ter sido escolhido pelos seus eleitores. O prémio da eleição não é para mostrar vaidade, arrogância, desprimor por quem lhe conferiu confiança e acreditou. Quem vota em consciência, acredita e confia. Estas são as condições máximas para se desempenhar uma função com toda a dignidade e acerto. Para dar estabilidade e certezas no caminho que se escolhe. Para dar conforto e uma moral inexcedível.
O prémio da eleição consubstancia-se em responsabilidade, capacidade de entrega, assumir o cargo com seriedade e com muita dedicação a uma causa pública. Um autarca está na primeira linha da abordagem à resolução de problemas, de atenuar conflitos, de dinamizar acções e de exponencial vontades. De estar receptivo a ouvir. Ouvir críticas e não esperar por bajulações.
Ponto três - Há muito que fazer nesta cidade bimilenar, sr. Ricardo Rio. Coisas importantes para abrir os caminhos do futuro. Para isso é preciso visão, atrevimento, coragem. Braga já teve homens de visão. E de atrevimento. D. Diogo de Sousa rasgou a cidade. Expandiu-a sem a violar. D. Rodrigo de Moura Teles, o pequeno arcebispo, mas grande na intelectualidade e no engenho. O visionário do Bom Jesus do Monte, obra sublime, única, majestosa, que foi continuada, mais tarde, por D. Gaspar de Bragança com projecto de Carlos Amarante. É esta visão que faz falta à cidade. Uma visão alargada e racional das coisas.
Ponto quatro - Agora um recado - Certa intelectualidade bracarense fala muito em André Soares, em Carlos Amarante, em Marceliano de Araújo. Fala destes grandes vultos do barroco e do rococó em conferências, em simpósios. Fala, é verdade. Em salas herméticas? Talvez. E tudo fica por aí! Por falas fechadas! O eco da grande valia destes artistas não chega ao exterior. Não chega, não! É preciso fazer mais. Muito mais. Não bastam boas palavras, palavras de cerimónia. É preciso fazer obra. Arregaçar as mangas e abrir a mente.
Fez-se um monumento a Salgado Zenha, figura contemporânea da política nacional, num lugar inapropriado e não se faz um grande monumento aos três génios bracarenses num lugar de destaque na cidade? Como é possível? Não entendo.
Ponto cinco - Ainda outro recado - O harmonioso edifício do Convento do Pópulo é hoje propriedade da Câmara Municipal, onde funciona a maior parte dos seus serviços. Há dinheiro para muitas coisas, muitas delas supérfluas, mas não há para acabar o convento. Não gosto de vê-lo assim. Se eu fosse presidente já estaria acabado. E há muito tempo. Havia ganhos óbvios para o funcionalidade da edilidade. Porque não se acaba o edifício? Porquê, sr. Presidente?
Ponto seis - Para terminar, um pedido - Senhor Ricardo Rio, olhe para a monumentalidade da cidade com outros olhos, com outro sentir. Se não é sensível para esta dimensão cultural, rodeie-se das pessoas certas e deixe-se de histórias. Braga merece esta preocupação. Braga merece o futuro. Seja um autarca do futuro. E com obra feita.
Autor: Armindo Oliveira