Pois bem, na vida política, a permanência por longo tempo dos homens no poder é, sem dúvida, duplamente penalizador: para quem é dirigido ou governado, porque deixa de beneficiar da inovação, criatividade e empreendedorismo de gente nova, com novas ideias, projetos e propósitos; e para a liderança futura que tem de começar tudo de novo e enfrentar, assim, a eucaliptização resultante do monolitismo e autocracia até, então, reinantes.
O mesmo acontece na vida empresa- rial familiar e noutras organizações sociais, quando o patriarca não tem herdeiros capazes de lhe sucederem ou não prepara atempadamente a sucessão; e, até, se diz com propriedade e verdade que as fortunas dificilmente passam da terceira geração.
Mas, voltando à vida política que é o que, agora, importa, a alternância no poder justifica-se amplamente e é desejável como forma de vida democrática e, sobretudo, pela renovação e arejamento de ideias que acarreta e pela oportunidade que abre ao surgimento de novos líderes, formas e métodos de liderança; até porque, o prolongamento e estatismo dirigentes embotam o espírito, facilitam a acomodação, movem a autossuficiência e impedem, assim, o diálogo, a troca de ideias e a cultura democrática.
Prosseguindo na lógica deste raciocínio, apliquemos esta evidência à vida política da concelhia socialista de Braga que, após, a saída de cena de Mesquita Machado, vive um momento de orfandade forçada; e, como noutras organizações partidárias que passaram por idêntica situação, tem um deserto a atravessar até que volte ao poder.
Já, aqui, o disse e repito que foi um erro monumental e histórico do PS nacional e local manter 37 anos no poder, embora democrático, o mesmo homem: Mesquita Machado; e, mormente, devido à ligação fecunda da direção concelhia ao poder executivo autárquico, uma vez que sempre difícil ou mesmo impossível se tornou a crítica pública e aberta da concelhia à governação da Câmara Municipal.
Depois, as coisas foram rolando e nunca se pensou ou pensou pouco que, um dia, o poder caía e a sucessão não estava garantida, isto é, não havia delfim preparado para suceder a Mesquita Machado; e isto por falta óbvia de crítica interna e disponibilidade democrática para discutir a sucessão.
E, agora, que as eleições autárquicas se avizinham e, a meu ver, o candidato do PS à Câmara Municipal longe está ainda de reunir as condições, formais e informais, sobretudo carismáticas, para enfrentar e derrotar o candidato da Coligação Juntos por Braga; Ricardo Rio; além de que, a verdadeira história, para melhor ou para pior, dos 37 anos de poder autárquico de Mesquita Machado está por fazer e, quando muito, apenas, se tem agido pela rama e longe de se descer ao âmago da questão, o que mais dificulta o êxito da candidatura socialista.
Ademais, penso que a aposta num candidato desconhecido do grande público e sem experiência política visível aos olhos dos eleitores, é o primeiro óbice ao sucesso eleitoral; depois, toda a polémica que envolveu a escolha da liderança concelhia é sintoma de desunião e luta comezinha pela liderança; a ponto de, os militantes mais experientes e com melhor currículo terem baixado os braços e se afastado da luta pela liderança concelhia.
Perante tal situação, o meu desafio é: porque não fazer um acordo pré-eleitoral das esquerdas (PS, BE e PCP), ti- po geringonça governativa, que anime a luta política e possa pressagiar um novo figurino para a governação autárquica? Seria democraticamente saudável; mas isto, claro, tem muito ou tudo a ver com a vontade dos homens da política e, sobretudo, com as malhas que o poder tece e os alçapões que o enformam.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado