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Pela minha cidade ou pelo meu país, sempre às quartas

Sá Carneiro, em 19 de Julho último, faria 86 anos. Seria muito mais interessante evocar Sá Carneiro na data do seu nascimento do que em 4 de dezembro, dia e mês da sua fatídica morte a bordo de avião a caminho do Porto, em pleno combate eleitoral. No entanto, os momentos impressionantes do dia 4 de dezembro de 1980 e seguintes, nunca foram esquecidos e, por conseguinte, é essa a data em que expressamente se evoca Sá Carneiro. Apesar de tudo, Sá Carneiro é o único dos outros três senadores da República – Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal e Mário Soares – que tem uma data do ano em que é sempre referido e evocado. E isso, só por si, o distingue, marca a sua personalidade e o seu impacto no Portugal contemporâneo. O percurso político de Sá Carneiro, a sua visão política, os seus valiosos escritos onde fundamenta o seu pensamento político, a criação e a direção do seu partido, as políticas do seu governo podem ser analisados de vários ângulos, sujeitos às mais variadas opiniões, elogios ou críticas. Agora há algo inegável em Sá Carneiro que é um traço comum incontestável em toda a sua atividade política: Esse traço era o gosto pelo desafio, pela defesa das suas ideias, pela visão que tinha de um Portugal democrático, moderno e desenvolvido. O seu interesse pela prática política só tinha sentido como instrumento para conseguir esses objetivos. Quando Sá Carneiro entendia que não teria condições para poder implementar as ideias que tinha para Portugal, simplesmente saía da política e ia tratar da sua vida. Sá Carneiro nunca foi um carreirista, não precisou da política para ser um advogado prestigiado, nunca a exerceu para ter influência pessoal. Ele, só por si, já tinha conquistado tudo isso na sociedade portuguesa. Sá Carneiro fazia parte do reduzidíssimo número de pessoas que conseguia prestigiar qualquer cargo político apenas pela razão de ser ele a exercê-lo, ao contrário de muitos que, se não ocupassem determinado cargo político, nunca subiriam no “elevador social” (seja lá o que isso for). A sua visão reformista – cujo ADN marca o PSD – começou logo em 1969 quando, ainda jovem advogado, integrou o grupo de deputados da chamada Ala Liberal na Assembleia Nacional. Esses parlamentares acreditaram, ingenuamente, como mais tarde afirmou, na abertura do regime através de Marcello Caetano. Já aí era notória a visão de Sá Carneiro de participação política apenas como instrumento para uma sociedade mais justa. Sá Carneiro era o deputado mais proeminente da Ala Liberal e foram da sua autoria vários projetos que consubstanciariam uma abertura do então autoritário regime como a lei da amnistia dos presos políticos, a lei da liberdade de associação ou a lei de imprensa, sujeita à época a forte censura. No entanto, foi o primeiro dos deputados a demitir-se da Ala Liberal quando viu sucessivamente derrotados os seus projetos de diplomas que iriam contribuir para iniciar a transformação democrática do regime. Conforme escreveu o Diário Popular em janeiro de 1973, a sua renúncia, com forte repercussão na imprensa nacional, francesa, alemã, inglesa, espanhola deveu-se ao facto de não poder continuar a exercer o seu mandato sem quebra da sua dignidade, e, ainda segundo ele, por não existirem condições mínimas e eficazes de actuação política”.” E continua o jornal: “O Dr. Sá Carneiro refere no pedido de renúncia o facto de lhe terem sido recusados seis projectos de leis nos dois meses transactos, o último dos quais sobre a amnistia de crimes políticos reputado pela Comissão Política de "gravemente inconveniente". O deputado renunciante considera ainda que a Comissão introduzia no seu relatório considerações infundadas e inadmissíveis que ele repudia. No Portugal depois da revolução, Sá Carneiro equacionou também deixar a sua intensa participação política quando entendia que não tinha condições para conseguir os seus objetivos para Portugal como foi o caso, quando, pelas razões conhecidas, se afastou temporariamente do PSD ou quando prometeu deixar o lugar de Primeiro Ministro em caso de reeleição de Ramalho Eanes. Sá Carneiro é um dos exemplos de nobreza e sedução da atividade política ao serviço da nossa terra. Destaque Sá Carneiro é um dos exemplos de nobreza e sedução da atividade política ao serviço da nossa terra.
Autor: Joaquim Barbosa
DM

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22 julho 2020