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De uma forma arrepiantemente inopinada, eis-nos a reaprender a viver.
As nossas correrias abrandaram. Os nossos objectivos paralisaram. A poluição reduziu. A natureza como que se regenera.
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O que não foi conseguido por decisões tomadas ao mais alto nível está a ser alcançado por efeito de um tortuoso «vírus».
É este ser insignificante – mas terrivelmente eficaz – que desencadeou uma arrasadora mudança em todo o planeta.
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Pena que tal mudança seja à custa de tanta dor e de tanta morte. Não é por acaso – nada é por acaso – que o «vírus» tem o significado de «veneno».
Ele está a desarrumar o que pensávamos ter completamente arrumado. Ou a «arrumar» o que – teimosamente – fomos desarrumando durante décadas.
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Até a Páscoa vai voltar a ser uma festa de família, como em Israel.
Não deixa de ser sintomático notar como um povo que tanto prezava o Templo celebrava a sua principal festa em casa.
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«A casa – assinala Joseph Ratzinger – aparece como o lugar da salvação e do refúgio» diante das «forças da morte, da destruição e do caos».
A casa e a família eram «o baluarte de protecção da vida, o lugar onde há segurança e paz».
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No tempo de Jesus, embora os cordeiros fossem imolados no Templo, «a Páscoa era celebrada em casa, nas famílias».
Também Jesus «celebrou a Páscoa em casa, com a família, com os apóstolos, que se tinham tornado a Sua nova família».
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É o que nós somos chamados a fazer – literalmente – nesta Páscoa.
Porque Jesus ofereceu a vida para que nós tenhamos vida (cf. Jo 10, 10), é Sua vontade que preservemos a vida. Só preservando a vida, poderemos dar a vida.
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Em família, teremos então uma Páscoa com a Vida que vence o COVID. Ao precavermos a nossa vida, estaremos a mobilizarmo-nos para acolher – e testemunhar – Aquele que é a Vida (cf. Jo 14, 6).
E tal como aconteceu no dia da Ressurreição, Jesus também nos visitará em nossa casa (cf. Jo 20, 19).
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Estaremos envolvidos nas celebrações da Eucaristia pelos meios que a difundem.
Não podendo ter uma participação física, é possível manter uma participação mística, espiritual, que também é valiosa.
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Não esqueçamos que, além da quarentena com que preparou a Sua missão (cf. Mt 4, 2), Jesus ressuscitado também apareceu aos discípulos durante uma quarentena, preparando-os para os enviar em missão (cf. Act 1, 3).
O número quarenta simboliza a preparação, a mudança, a conversão. Antecipa, por isso, o tempo novo e a vida nova, doados na Páscoa. Quando cair o COVID, levantemo-nos para anunciar a todos a vida nova: Jesus Cristo, morto e – para sempre – ressuscitado!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira