No passado dia 19 de Março, o Papa Francisco, com a sua energia e capacidade de explicar com singeleza e profundidade a doutrina da Igreja, publicou a Exortação Apostólica Gaudete et exultate – “Alegrai-vos e exultai” –, na qual quer chamar a atenção de todos os fiéis sobre o chamamento à santidade no mundo actual.
Desde os primeiros cristãos que a santidade é uma meta para todos os que se baptizam. Por outras palavras, este sacramento, ao conceder ao novo cristão tantos bens – graça de Deus, dons do Espírito Santo, filiação à Igreja, filiação divina, perdão do pecado original – dispõe a pessoa a abalançar-se para a aventura da santidade, isto é, para se tornar um filho de Deus que ame de verdade o seu Pai e procure, em todas as circunstâncias, fazer a sua vontade, que nem sempre é fácil e atraente, porque, como nos ensinou Jesus Cristo: “quem quiser seguir-me, pegue na sua cruz de todos os dias”. O baptizado não é excepção relativamente a este aviso do Mestre. Mas é apetrechado, digamos assim, com todos os meios que Deus põe à sua disposição para vencer as dificuldades e todo o rol de asperezas que a sua vida comporta.
Nesta ordem de ideias, o chamamento à santidade não é um caminho específico e complexo que só alguns cristãos podem percorrer, através de um tipo de vida muito particular, apenas reservado para certas almas de eleição.
Não. Deus chama todo o homem e, em concreto, todo o cristão, seja qual for a sua condição, a ser santo. À maior parte, Deus indica-lhe um caminho que tem no sacramento do matrimónio uma concretização clara e nítida. Casar não é uma situação de menor responsabilidade para com a santidade. Como é óbvio, requer de quem recebe este sacramento um caminho propício às exigências da sua condição. A quem se casa, Deus chama-o a ser, por exemplo, um portador de novas almas ao mundo, através da procriação generosa. Educar a prole, indicar-lhe os horizontes que Deus coloca à sua frente para praticar o bem, sustentar a família, procurar criar um ambiente de afabilidade e de verdadeiro amor, etc., tudo isto é uma fonte de santificação fantástica e manifesta, da parte de Deus, uma confiança profunda na capacidade que o ser humano tem para realizar uma verdadeira obra-prima de caridade e benevolência.
Tudo isto exige generosidade e enfrentamento corajoso das dificuldades inerentes à vida de família, onde todo o seu membro se sente mais à vontade. Talvez por isso, às vezes, aproveite essa mesma liberdade de movimentos e de acção, para tomar certas atitudes que não são as mais desejáveis e agradáveis para os outros membros. Porém, a educação que os pais providenciam, a sua compreensão aliada à necessária exigência, faz naufragar, quase sempre, à nascença ou nos primeiros sintomas estas más iniciativas. O ambiente do lar é o berço excelente das virtudes mais nobres e dos ideais mais humanos. Basta fazermos um pouco de exame de consciência para compreender tudo o que cada um recebeu da sua família para se tornar um homem de bem, honrado, compreensivo, enfim, um cidadão honesto cumpridor dos seus dever, e, no caso concreto da nossa vida de relação com Deus, um bom cristão.
Como tem, pois, razão, o Papa Francisco, em chamar-nos a atenção para a realidade de que ser santo é para todos e não apenas para aqueles que são chamados à vida religiosa, mais ou menos retirada ou de clausura, ao sacerdócio, etc. Deus, que é Pai de todos, não tem atitudes – digamos – preferenciais, que retirem ao laicado o dever da santidade e apenas a reserve para alguns escolhidos. Nosso Senhor não fez excepções: “Sede perfeitos, como o vosso Pai celestial é perfeito”, isto é, devemos procurar ser santos como Deus o é.
Mas atenção: Deus chama a todos à santidade, supondo que as pessoas enfrentem este ideal com sinceridade, competência e honestidade adequada. Ninguém prepara o matrimónio como deve ser, fazendo do namoro um joguete prévio “a-ver-se-dá-certo” o futuro casamento. Nos dias de hoje, é muito frequente que os namorados antecipem os actos próprios e íntimos dum casal que se comprometeu a ser fiel e a manter a unidade e indissolubilidade do vínculo matrimonial contraído. Este compromisso não está consolidado nem realizado, em plenitude, no noivado. Se os seus protagonistas não têm em conta esta realidade, os resultados de tais comportamentos, geralmente, são muito negativos e contribuem para o número tão elevado de divórcios próprio dos nossos dias. E o divórcio espelha sempre as consequências dum lar arruinado, que tantos problemas traz à sociedade.
Também o noivado é santificável e santificante, desde que seja vivido como Deus o idealizou.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
Papa Francisco: a santidade é para todos

DM
22 abril 2018