Há, por vezes, divisões e alaridos inúteis se cada um soubesse ocupar devidamente o seu lugar, sobretudo os responsáveis políticos que agem, muitas vezes, de acordo com os seus intentos, distanciados do povo que os elegeu. Com tudo isso, tem havido um exemplar trabalho do nosso governo e de toda a oposição na condução e na tentativa de resolução de um problema que nos aflige. Na grande maioria das decisões tudo te sido conduzido de uma forma exemplar, desde o governo às autarquias. Todos, somos poucos neste combate em que o inimigo não é fácil de vencer.
Tenho pena que numa questão, como é o caso da comemoração do 25 de Abril, não tenha havido esse bom senso, de olharem para tantos festejos e tantas comemorações que foram transmitidas apenas pelos ´órgãos de comunicação social!
Todos nós temos de acatar as deliberações do órgão deliberativo ou de qualquer outro legitimamente eleito (dura lex, sed lex – a lei é dura, mas é lei), disso não tenho a menor dúvida, mas em assuntos mais polémicos, como é o caso dos festejos do 25 de Abril, em tempo de pandemia, devia existir muita ponderação. Houve votação e a maioria votou a favor, mas, no meu entender, são decisões um pouco precipitadas. A própria Assembleia, nesta altura, devia funcionar com um número ainda mais reduzido de deputados como está a acontecer em inúmeras situações ao longo país. Sempre ouvi falar que “o exemplo vem de cima”. Se há tantas restrições, e bem, para todos os cidadãos, por que razão não se pode deixar de fazer uma comemoração presencial num ano em que se suspendeu, praticamente, tudo? Os órgãos democráticos, uma vez eleitos, moralmente, deveriam acatar as opiniões do povo, evidentemente, em situações muito excecionais como é a situação atual.
Não é de boa índole que se diga que quem é contra os festejos não é democrata, é fascista, é do tempo da outra senhora. Isto não é nenhuma revolução que vai derrubar tudo o que se adquiriu com o 25 de Abril, antes pelo contrário, é uma exigência popular que valoriza os ideais democráticos, pois luta-se por um dever de justiça, de igualdade de oportunidades, saúde pública…
Ninguém, acho eu, está contra a comemoração do 25 de Abril que poderia ser na própria Assembleia apenas com o Presidente da República, o Presidente da Assembleia e os representantes dos partidos para discursarem. Todos os outros que costumavam fazer parte, assistiriam em casa como, nós católicos, assistimos às Eucaristias e a outros atos de culto. Neste momento, por questões de saúde pública, devemos reduzir tudo, apenas, ao essencial.
Como é que a maioria do povo português tem assistido às comemorações do 25 de Abril em anos anteriores? Em casa, através dos órgãos de comunicação social, ouvindo os discursos dos nossos representantes, lembrando todas as conquistas e por aí adiante.
Vejam o Papa Francisco sozinho a caminhar na Praça de S. Pedro e em tantos outros locais para rezar por todos nós. Vejam o exemplo de toda a Igreja que celebra as Eucaristias sem assistência, apenas os elementos essenciais para levar a efeito os atos litúrgicos e outros rituais. Vejam tantas tradições enraizadas e conquistadas pelo povo ao longo de séculos como foram e continuam a ser canceladas, apenas transmitidas pela televisão e redes sociais! Acham que, por não festejarem, com a presença, essas conquistas são derrubadas? Por um lado, ainda foram mais interiorizadas e melhor vividas.
O povo português tem sido exemplar no cumprimento das medidas emanadas pela Direção Geral de Saúde e por todos os nossos governantes. Quão sofredor é a morte de um familiar e amigo, mas é, com certeza, tanto mais agonizante a ausência de tantos entes queridos e não poder haver as exéquias habituais, mesmo com o mínimo de familiares, no interior de uma igreja ou capela! Quantos emigrantes, distantes dos seus familiares, estão em risco de não poderem, este ano, visitar as suas famílias e os seus amigos? Quantas pessoas perderam ou vão perder o seu ganha-pão, querem trabalhar e não podem?
Vejamos todos esses exemplos e aprendamos com eles, inclusivamente os nossos políticos. Deixem-se de querer fazer o que proíbem aos outros. Estamos num tempo de consensos, de união e, acima de tudo, devemos olhar para a saúde de todos, mormente dos Deputados, dos convidados, dos funcionários (as) da Assembleia e, consequentemente, das suas famílias. Sejamos sensatos nestas decisões.
Autor: Salvador de Sousa
Os promotores dos festejos do 25 de Abril

DM
25 abril 2020